sexta-feira, 12 de setembro de 2008

TRANSFORMAÇÕES NA CONVIVÊNCIA SEGUNDO MATURANA



Em parceria com Francisco Varela, Maturana percebe o mundo como um organismo eternamente incompleto, o qual recebe intervenções de cada indivíduo que o transformará ao longo de sua evolução como ser essencialmente social. O biólogo chileno mantém o viés ininterrupto da essência da socialização para que a trajetória de cada um tenha chances de ser bem sucedida emocionalmente.

No próprio fórum da interdisciplina eu destacava ser impossível desvincular a aprendizagem efetiva da emoção, pois tanto a fala de Maturana quanto nossas experiências não mais deixam dúvidas: a aprendizagem significativa é aquela que privilegia a emoção em seu processo.

Nota-se no texto de Maturana uma atenção especial para a humildade nas nossas intervenções sociais. Ao estabelecermos vínculos, a prepotência concorreria contra a possibilidade dos mesmos sequer se efetivarem. Chego a tal conclusão quando Maturana diz que "[...]tem a ver com a maneira de encontrarmo-nos com o outro. Se o fizermos numa posição na qual pretendamos ter acesso privilegiado à realidade (e a concebemos como única), o outro deverá fazer o que dissermos ou estará contra nós. Se nos encontrarmos com o outro com consciência de que não temos o acesso à realidade independente do observador, o encontro será de aceitação, amoroso."

O autor destaca redes de relações que se dão pelo medo ou pelo afeto, o que podemos cotidianamente perceber, em especial, nas famílias e nas salas de aula. Em uma sala de aula, uma relação de afeto entre as partes certamente funcionaria como facilitadora da aprendizagem.

De fato, outro autor, Antonio Damásio (médico - dirige centro de pesquisa neurológica nos EUA), afirma não ser verdade “[...] que a razão opere vantajosamente sem influência da emoção. Pelo contrário, é provável que a emoção auxilie o raciocínio, em especial quando se trata de questões pessoais e sociais que envolvem risco e conflito” (DAMÁSIO, 2000, p. 63). O autor destaca que o senso comum nos diz para afastar os sentimentos e as emoções quando necessitamos tomar decisões. Segundo o pesquisador, a racionalidade do indivíduo seria severamente comprometida pela supressão da emoção e do sentimento.

Somos bombardeados por informações que passam a ser acreditadas por praticamente todos nós. Dentre tais pretensas verdades, o dualismo tido como inerente do ser humano parece indiscutível. Somos divididos em mente versus corpo, razão versus emoção e, como afirma Damasio, que para todas as escolhas de determinado sujeito existem explicações biológicas e explicações culturais, sem qualquer possibilidade de uma visão científica e, por que não, holística dos processos ligados à mente. É um tema fascinante e, com certeza, conflitante. Por isso, procurei buscar novamente em Maturana uma fala em harmonia com Damásio, pois encontro conforto nas palavras de ambos quando arriscam-se a ser motivo de chacota na comunidade científica, como porta-vozes da importância das emoções nas relações de convivência.

Destacando aqui uma afirmação de Maturana em especial: \"[...] a realidade que vivemos depende do caminho explicativo que adotamos, e este depende do domínio emocional no qual nos encontramos no momento da explicação.”, percebo que, apesar de compartilharmos um mesmo espaço físico e temporal, nossa evolução neste meio comum dar-se-á tanto por nossas reminiscências (aqui evoco Erikson) quanto pelo desejo real de que ela possa processar-se. Como não há verdade absoluta sem uma verdade relativa correspondente, o que fazemos com o que nos é oferecido dependerá de nossas experiências e diferentes domínios nos quais encontramo-nos naquele momento. Amiúde, é o que instiga a uns o desafio, enquanto a outros a desistência.

Nenhum comentário: