quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Reflexão-síntese



Estamos praticamente concluindo mais um semestre. Este segundo de 2008 convidou-nos a pensar a escola, seus atores, dinâmicas e mantenedores. Pensar os espaços de discussão, a gestão da instituição e as formas como ocorrem as relações de responsabilidade.

E neste momento de reflexão, percebo o quão distante minha Escola encontra-se de colocar em pauta (no currículo) questões que estão presentes em seu cotidiano, mas seguem encobertas por um manto de cinismo, hipocrisia e medo.

  • Temos dependentes de drogas, mas opta-se por falar nas drogas, não no ser humano;
  • Temos homossexuais, mas seguimos ouvindo risadinhas, difamações e toda a sorte de comentários próprios de um ambiente qualquer, menos pedagógico;
  • Temos os "incluídos", os quais permanecem "aliens" enquanto não se tem bem claro o que se faz com este (e neste) novo perfil de escola;
  • Temos ex-detentos, os quais freqüentemente são apontados como bandidos e não como colegas de classe;
  • Temos prostitutas, as quais permanecem à sombra e caladas, mesmo sob a forte iluminação artificial das salas de aula;
  • Temos adolescentes entre crianças, os quais são alvo de comentários de pais indignados com a "má influência" destes para com seus filhos;
  • Temos denúncias quase que diárias de que armas circulam dentro da Escola, mas seguimos lecionando sob a égide do medo, fingindo não sentí-lo, afirmando que isso é normal.. normal?

Minha Escola tem gestão democrática, recursos excelentes, uma equipe que admiro, alunos com os quais tenho excelente relacionamento,... mas ainda tem muito a agregar em seu currículo, principalmente ousadia e coragem.

domingo, 23 de novembro de 2008

Contadores de Histórias


Tendo participado da formação promovida pela UNESCO, Museu da Pessoa e Educarede, nossa Escola está engajada na campanha Toda Escola Tem História Para Contar.

O vídeo a seguir é apenas uma pequena parte do que já foi feito no Áurea. São histórias de vida que precisam ser conhecidas. Ou você poderia imaginar que leite materno misturado em um determinado produto deixaria o cabelo de nossa contadora de histórias com um brilho magnífico?

Estas e outras histórias abaixo...

Vídeo com alunos da Escola


Toda Escola Tem História Para Contar from Paulo Medeiros on Vimeo.

Campanha TODA ESCOLA TEM HISTÓRIA - As imagens

Dia da Consciência Negra

Alunos cantam: "Morena de Angola que leva o chocalho amarrado na canela, será que ela..."


Raramente trabalhamos, em minha Escola, de forma isolada, com cada professora em sua sala de aula e alheio ao que ocorre nos demais componentes curriculares. Neste dia 20 de novembro - Dia da Cosnciência Negra - não adotaríamos outra postura senão a prática interdisciplinar.

No trabalho interdisciplinar, tem-se um eixo integrador, a partir do qual as diferentes áreas do conhecimento trabalho com o intuito de atingir objetivos previamente estabelecidos.
Professores que coordenaram os trabalhos na Escola

O que se viu por ocasião das exposições foi um imenso número de trabalhos, desde bolos servidos a todos que visitavam os estandes, assim como maquetes, máscaras, painéis, cartazes, números da dança, músicas, entre outros.

Máscaras africanas representadas em painéis

Percebo que nossa Escola já fez sua opção pedagógica, na qual busca fugir de um currículo fragmentado e engessado (inflexível), tornando suas ações portas para a construção da aprendizagem de forma orgânica, participativa, dinâmica e significativa.

A população negra: utilização de pet, papéis diversos, madeira, lã, etc.

Toda Escola Tem História Para Contar


Neste sábado, 22 de novembro, ao longo de todo o dia nossa Escola sediou um encontro para contadores de histórias. Contudo, não se tratava apenas de reunir pessoas para contar qualquer história... Mas a sua história!


Com o mote Toda Escola Tem História Para Contar, a EMEF Áurea Celi Barbosa, em Gravataí, recebeu professores, oficineiros e funcionários de várias escolas do município, além da Secretária de Educação e parte da equipe da SMED.

Particularmente, foi uma alegria encontrar a professora Hilda Jaqueline de Fraga (foto abaixo), a qual nos brindava com magníficas aulas e propostas de pesquisa no PEAD. Senti-me honrado por trabalhar a seu lado no lançamento desta campanha, a qual visa resgatar em cada membro da comunidade escolar sua própria historicidade.

Logo na abertura dos trabalhos, chamei a atenção para o fato de não nos reportarmos a uma história patrimonial de nossas escolas. Tal postura desacomoda-nos daquela posição de platéia, a qual assiste à paredes que são erguidas, janelas dispostas aqui e ali, portas, dependências em geral. Estamos a contar a história de cada um de nós, na medida que somos parte de nossas escolas, somos nós que a constituímos. Deixem professores, pais, funcionários e alunos de freqüentar a escola e o que teremos? Nada mais, exceto o patrimônio físico erguido por determinada administração.


Neste sentido, de antemão havia desenvolvido com meus alunos a técnica da roda de histórias, na qual cada um relatou uma história vivenciada e que muito o marcou. Os resultados (os "produtos") foram um varal de histórias e uma coletânea de vídeos em DVD, a qual abriu o encontro.



Com o apoio da UNESCO, do Museu da Pessoa e da SMED, nosso projeto justamente busca trazer à tona histórias sufocadas pelo anonimato, posto que vivemos numa sociedade afeita em demasia ao culto de celebridades e suas histórias sempre repetitivas, as quais com insuportável freqüência giram em torno de dietas mirabolantes, ilhas, separações e casamentos quase que ao vivo, em rede nacional de televisão.


Entendendo a escola como "espaço eleito socialmente de produção e socialização dos saberes de uma sociedade" (Educarede), este é um projeto que reconhece, resgata e valoriza a história (o conhecimento) de cada personagem deste espaço.

sábado, 15 de novembro de 2008

Fórum de Organização e Gestão da Educação




A você que chegou até aqui, duas perguntas:
1. Qual o grau de insegurança que você experimenta em seu local de trabalho?
2. As seguidas reportagens de violência nas escolas que a TV exibe já bateram à sua porta ou, pior, em sua face?

Com uma certa freqüência, a televisão tem mostrado cenas de violência contra professores e uma flagrante impunidade favorecendo os alunos agressores. Ainda que amparados por lei, a qual pode inclusive privar da liberdade o agressor, o professor parece ignorar que seu silêncio, apatia e anuência alimentam aquele que o fere.


Imaginem os colegas o que é estar em uma sala de aula, com um número considerável de alunos, sabendo que qualquer um pode estar com uma arma. Esta foi a atmosfera de trabalho em minha Escola nesta semana. Em retrospecto, foi a semana mais difícil em duas décadas de magistério sob minha ótica particular. O quão mexe na psique de um professor o aviso de que chegou uma denúncia nada anônima na Escola (foi feita presencialmente) de que VÁRIOS alunos entraram armados naquele horário para vingar um amigo que fora agredido na véspera? Podem estar certos que mexe, e muito, com o emocional de qualquer um.


Fomos para as salas com um estranhamento que, sabemos, tem nome: inadequação. Uma miríade de sentimentos tal que, em resumo, afirmo: estávamos com medo e, ao mesmo tempo, indignados. Meu planejamento para aquela noite era o trabalho com adjetivos (em inglês), utilizando fotografias de revistas, as quais os alunos colariam no papel pardo, escrevendo ao lado qual o adjetivo que tal imagem evocava.


Cada um aqui no PEAD sabe o quanto nos preocupamos com nossos alunos, a ponto de dar prosseguimento ao planejado, sem revelar-lhes que seus professores trabalhavam sob a égide do medo. Mas medo de quê? Ora, medo da morte – bala perdida não faz distinção de caráter, não separa aluno, professor e bandido.


Mas tínhamos orientação clara da equipe diretiva de avisarmos os alunos a respeito, algo que optei por fazer mais para o final da aula, enquanto a direção chamava a Brigada (que não veio) e a Guarda Municipal, a qual nos atendeu prontamente. A quem não passou por tal experiência – trabalhar com a certeza de que alunos estão com armas em seus bolsos imensos nas suas calças largas (uma espécie de uniforme entre eles, o qual os identifica de algum modo) e sair da escola escoltado pela Guarda – posso assegurar que revolta tremendamente.


Ao amanhecer, a Brigada procurou por armas ao redor da Escola. Repito: ao amanhecer, ou seja, horas e horas depois.


Na noite seguinte a denúncia repetiu-se. Novamente aquela sensação de impotência e desamparo, de pouco caso por parte do empregador, para os quais somos quase nada além de um mero número de matrícula para fins de folha de pagamento. Enquanto nos preparávamos para deixar a Escola, após o horário regular das aulas, ouvimos três disparos. Poucas quadras além da Escola tentaram balear um aluno. A bem da verdade, alunos X alunos.


Não sei se meu retorno na noite seguinte foi por garra, determinação ou força, como alguns aqui afirmam ser características do educador. Talvez tenha sido apenas um misto de responsabilidade (em função dos alunos) com necessidade (em função do emprego) e insensatez (definitivamente teve muito de insensatez). Colegas confessaram estar medicados com ansiolíticos, tranqüilizantes, além de toda a espécie de chás que prometiam alguma serenidade interior. Mas a noite nos reservara uma verdadeira selvageria após soar o sinal do término das aulas: alunos, revoltados com um pai que bateu no enteado, e que também é aluno, armaram uma emboscada, com o objetivo de passar-lhe uma lição como jamais vira.


Impossível descrever a gritaria, o som dos socos, os ruídos de toda espécie provocados por pancadas, chutes, pauladas e, felizmente, nenhum tiro. Eu e meus colegas estamos extremamente chocados com o ocorrido. E o empregador?


Uma colega do PEAD - Carmem Valéria - em postagem anterior a minha pedia autorização dos colegas para levar ao Sindicato que representa os professores de Gravataí as nossas falas. Valéria afiançava que resguardaria a autoria das mesmas, algo que em meu caso particular dispenso. Eu acato totalmente a sugestão de tornar as postagens do fórum uma denúncia. Vou além: penso que o fórum em questão deveria ser um permanente espaço de trocas, pois as máscaras caíram todas ao longo de páginas que não cessam de ser acrescidas. Não li sequer um único blábláblá, verborragia desnecessária quando o que se almeja é a transparência.


Dada a importância do conteúdo do conteúdo do fórum, acredito nele como ponto de partida para uma publicação. Gasta-se tanto em livros tão ruins, vazios, e que nenhuma relação guardam conosco, que um livro sobre o cotidiano desnudo da educação, escrito por quem está na linha de frente (não apenas em gabinetes herméticos), está mais do que na hora de ser disponibilizado.

O tempo de cada um




Grupos são dinâmicos, definitivamente dinâmicos e distintos. A experiência no desenvolvimento de um tema em grupo traz movimentos de toda sorte, posto que as pessoas envolvidas têm motivações em diferentes graus e disponibilidade de horários que nem sempre estão sob sua tutela.


Ainda que a motivação em torno de um tema nos aproxime, o desenvolvimento do trabalho mostra ser necessário bem mais que uma simpatia pelo tema. Comprometimento com o trabalho e para com os próprios colegas complementam este alicerce indispensável no desenvolvimento de um projeto de aprendizagem.

Cientes de que os maiores dentre os objetivos são justamente a forma de trabalho e o comprometimento de cada integrante aos acordos previamente estabelecidos, o desenvolvimento do tema dá-se de modo que cada um assuma diferentes papéis, mas ainda assim trabalhando em torno de um foco comum.


Esta descentralização proporciona ora tranqüilidade ora apreensão por uma certa morosidade por parte de algum colega, o que não é difícil que venha a ocorrer. É assim que redescobre-se, neste momento, a importância de respeitar os tempos de cada pessoa. Enquanto um determinado elemento do grupo não espera qualquer cobrança ou sinalização do que necessita ser feito, convive-se com outro que não conhece exatamente o ponto de partida. É a saudável pluralidade, que nos cobra serenidade, compreensão e humildade.


Indispensável ter interiorizado que se respeitará o momento de cada colega, posto que as pessoas têm tempos diferentes. Não me refiro à diferentes cargas horárias, mas a distintos insights que nos assolam em etapas diferentes de um mesmo trabalho. Cada um pode experimentar o quanto a motivação, a persistência, o olhar crítico sobre um determinado material e o tempo disponibilizado para a pesquisa são determinantes para a qualidade do trabalho. Nada pior que acessar o resultado de uma extensa pesquisa e não se enxergar enquanto membro ativo no resultado ali publicado. Em contrapartida, um comentário assertivo que foi aproveitado, um link sugerido que possibilitou uma linha investigativa em inúmeras outras fontes ou uma despretensiosa fala que inspirara a criação de toda uma página no wiki, são diferentes formas de agregar valor ao projeto desenvolvido e que alimentam aquele que se permitiu tal movimento.

sábado, 8 de novembro de 2008

Projeto de aprendizagem - Depressão



Quando pensei a respeito das conclusões para o projeto de Psicologia, imediatamente ponderei, no wiki, sobre as considerações finais a respeito do tema escolhido. Entretanto, ao receber o e-mail da professora Simone, ficou claro que o caminho a seguir neste momento quase final do semestre é bem distinto.


Olhar para a justificativa do projeto e os objetivos estabelecidos, analisando se os mesmos foram contemplados, é o chamamento que nos foi feito. Pensar acerca das descobertas que o trabalho proporcionou aos integrantes do grupo, e não necessariamente em tecer um texto que represente um apanhado do wiki, esta sim é uma excelente proposta para reflexão.


Como acredito que optamos por um tema em função de familiaridade ou curiosidade em relação ao mesmo, a escolha por DEPRESSÃO levou-nos a procurar entender o que exatamente ocorre com aquele que se vê acometido por tal doença.


Nosso grupo destacou o que realmente é a depressão, diferenciando-a de tristeza. Pesquisamos os processos que a desencadeiam, assim como os sinais (sintomas) presentes em um indivíduo deprimido, com nuances de pessoa para pessoa. Notamos ser necessário ouvir tanto paciente quanto terapeuta, o que nos motivou a entrevistar ambos. Disponibilizamos ainda vídeos, dicas de livros e filmes que abordam o assunto. Por fim, destacamos os tratamentos indicados, mas cientes de que há uma gama ainda maior, porém pouco divulgada na mídia e nos meis acadêmicos: yoga, acupuntura, entre outras terapias não por acaso chamadas "alternativas."


A depressão, concluímos, afeta as atitudes do deprimido e as relações com as pessoas a seu redor, posto que a família como um todo adoece com seu ente querido. A doença afeta igualmente relações profissionais e afetivas, dado que altera o humor, o físico e o pensamento de quem se vê em estado depressivo.

domingo, 26 de outubro de 2008

Muitas aprendizagens na semana


Na imagem acima, nossa equipe - Marta, Paulo, Marinês, Lígia e Nara - é abduzida por um OVNI. Ainda que não tenhamos tal intenção, deixamos-nos levar pelo assunto escolhido, atentando para filmes, relatos, documentários, revistas, etc, que pudessem embasar mais e em profundidade nosso objeto de pesquisa. Nosso wiki já está quase concluído, mas como este é um tema que não se esgota, estamos permanentemente com a impressão de que falta algo por comentar, a elucidar.

Mas esta semana foi cheia de novidades: aprender a fazer mapas conceituais com o CMaps certamente foi a maior delas.

Até então eu imaginara intuir o porquê de um mapa conceitual, pois pensava que o mesmo prestava-se apenas para ilustrar o final de um processo. Contudo, agora vejo que o mapa é, na verdade, um momento de reflexão, posto que a medida que o mesmo vai sendo construído, novas conjecturas tem vez em nosso pensar.

Outro momento extremamente valorozo foi a aula presencial. A bem da verdade, um momento em especial de nosso encontro: quando os grupos puderam sentar-se para uma auto-avaliação. Este momento proporcionou um resgate da caminhada de cada grupo até aquele momento. Sentei-me com minhas colegas do Projeto Ovni e reavaliamos cada etapa de nosso processo de contrução do projeto de aprendizagem. Ao avaliarmos o comprometimento de cada integrante do grupo para com o trabalho e o modo como ocorre nossa interação virtual - Google Talk e MSN - nos dias e horários que julgamos necessários, percebemos que crescemos muito em matéria de trabalho em grupo. Principalmente porque ficou claro que nenhum dos integrantes de nossa equipe assume a responsabilidade pelo trabalho sozinho.

domingo, 19 de outubro de 2008

Toda a Escola Tem Uma História Para Contar








Nos dias 17, 18 e 19 de outubro, das 8:30 às 17:30, participei do curso de formação oferecido pela UNESCO, MINC e Museu da Pessoa, o qual ocorreu em Porto Alegre, na Escola Técnica da UFRGS.

Ao longo destes três dias do lançamento da "Campanha Toda Escola Tem Uma História Para Contar", pude vivenciar a importância de contarmos nossa história. Occore que o título pode dar a entender que se está a contar a história de uma instituição de ensino pelo viés patrimonial. Contudo, ficou claro desde o primeiro momento que cada ser humano é a escola, e não apenas um transeunte em suas dependências estruturais. E como escola, nossas histórias são a sua história.

"A história de vida de uma pessoa é valiosa e merece ser preservada e socializada." (Caderno de formação, página 6) Para tanto, vivenciamos a Roda de Histórias, o Círculo de Histórias (a denominação é semelhante, mas a metodologia e os objetivos mudam), o varal, a edição, a publicação, a gravação em áudio e vídeo, além dos possíveis produtos a ser confeccionados para a divulgação de nossa história.

Além de aprendermos a trabalhar com novas ferramentas, delineamos um plano de ação, o qual será colocado em prática primeiramente nas escolas que se fizeram presentes. No caso de Gravataí, também a SMED apoiará esta iniciativa das cinco escolas de nossa rede que ali estiveram representadas. As rodas de histórias já iniciam nesta semana na Escola, com minhas turmas de EJA. Assim que as produções dos alunos estiverem na rede, compartilharei com vocês.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

GRUPO 12 - Projeto de Aprendizagem - OVNI
















O grupo 12, o qual está a desenvolver o Projeto OVNI - http://projetoovni.pbwiki.com - reuniu-se na noite de terça-feira para discutir acerca do trabalho até aqui desenvolvido.

Nossa metodologia inicial de trabalho foi verificar, em cada uma das páginas criadas dentro do projeto, as anotações postadas pela professora Daniela. Como em tais anotações a professora deixou “pistas” para uma melhora geral em nossas postagens, fomos seguindo suas orientações. Um exemplo, entre outros que seriam possíveis, de orientação clara e extremamente preciosa foi-nos deixado na página sobre filmes que tratam do tema. Havíamos disponibilizado uma lista de filmes, seguidos de resenhas, sobre OVNIs, vida extraterrestre, abdução por aliens, entre outros assuntos ligados ao nosso tema central – vida fora da Terra. A professora perguntou-nos se não seria interessante inserirmos um vídeo para cada obra, assim como o link para o seu site na rede. Sugestão acatada, vimos nossa página de filmes crescer, ganhar em qualidade e tornar-se bem mais atrativa, rica, informativa e envolvente. Isso nos mostra o quão importante é ser bem orientado em um trabalho, fazendo-nos refletir a respeito da necessidade de mesma atenção para com nossos alunos.

Com um assunto tão controverso, a envolver diferentes valores e implicações, desde o início tomamos todo o cuidado para evitar a especulação fácil. Entretanto, não hesitamos em abrir espaço para possíveis registros de OVNIs na Bíblia ou para registros em vídeo apregoados à Força Aérea Mexicana. Aliás, decidimos ontem mesmo que vamos empregar estas duas semanas que nos restam de pesquisas para, entre outras demandas, inteirarmo-nos quanto ao elo entre determinadas obras de arte e objetos voadores não identificados. Alguns apregoados links, porém, tivemos que deixar de lado – pirâmides do Egito, Ilha de Páscoa, Stonehange, o triângulo das Bermudas, Atlântida – pois certamente não conseguiríamos dar conta de tanta informação, dado o tempo exíguo.

Neste ínterim, um insight bastante positivo tomou conta de nossas conjecturas: não é objetivo da interdisciplina que esgotemos, neste projeto, todas as vertentes do tema escolhido. Percebemos que a linha de trabalho adotada, o cuidado em selecionar o que é viável, pertinente e de fonte confiável, talvez seja mais importante do que simplesmente alcançar todas as direções que qualquer tema de projeto poderia tomar.

Ao iniciar nosso mapa conceitual, intuimos que não chegaremos a conclusões; no máximo, lançaremos hipóteses sobre a possibilidade de vida fora da Terra. Rimos de tamanha pretensão, se a nutríssemos, posto que nem os mais renomados cientistas chegaram a um consenso, através de provas irrefutáveis.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

O cotidiano e a teoria caminham juntos...


Exatamente uma semana ausente do portfólio - foi o tempo necessário para perceber que a teoria caminha de braços dados com o cotidiano familiar. Refiro-me ao trabalho de Psicologia da Vida Adulta sobre Depressão e a um momento bastante delicado que vêm bater à porta de nossa família, digo, da minha própria família: estou com um ente querido em estado de depressão severa.


É muito fácil (e prático), porém irresponsável e cruel, exasperar-se com alguém que se encontra deprimido. É muito melhor estarmos ao lado daquela pessoa que nos faz sorrir, com a qual podemos passar horas e horas de uma troca agradável de idéias saudáveis acerca dos mais diversos assuntos. Definitivamente, não ocorre o mesmo quando essa mesma pessoa deixa de sorrir, adquirindo um semblante vago, um olhar sem qualquer brilho, exceto aquele das lágrimas que insistem em retornar a todo instante.


O trabalho de Psicologia tem-me estimulado a ler muito a respeito dos sintomas, causas, e tratamento da depressão. E duas são as imagens que me vem ao pensamento quando o assunto é depressão: a pessoa de Van Gogh e o quadro de Much - O Grito. A obra que ilustra esta postagem simboliza a angústia e o desespero existencial ao pôr-do-sol. Para o paciente de depressão (eu prefiro o termo "vítima de depressão"), a vida parece estar agarrada a seu próprio ocaso, como se uma permanente sensação de ruptura estivesse presente nos momentos de alguma lucidez, mais raros na medida em que a doença se agrava.


De acordo com o Houaiss, depressão é um "estado de desencorajamento, de perda de interesse, que sobrevém, p.ex., após perdas, decepções, fracassos, estresse físico e/ou psíquico, no momento em que o indivíduo toma consciência do sofrimento ou da solidão em que se encontra."

A depressão, enquanto evento psiquiátrico é algo bastante diferente de apenas sentir-se bem ou mal ou, como comumente ouvimos, experimentar um "alto ou baixo astral": é uma doença e, como tal, exige tratamento. Ela altera a maneira como a pessoa vê o mundo e sente a realidade, entende as coisas, manifesta emoções, sente a disposição e o prazer com a vida. Afeta a forma como a pessoa se alimenta e dorme, como se sente em relação a si próprio e como pensa sobre as coisas.

Tudo isso vira "de cabeça para baixo" o cotidiano de uma família com uma vítima de tão terrível doença. Algumas pessoas dizem que têm seus próprios afazeres, outras que apenas não sabem o que fazer,... e raros são aqueles que se dispõem a permanecer próximo de quem, exatamente neste triste momento de sua vida, mais precisa de compreensão, de apoio e de uma aparente eterna paciência, de tato,... enfim, de amor.

Neste instante, minha maior aprendizagem tem sido tanto reorganizar meu dia-a-dia em função de uma demanda com a qual eu não contava quanto interagir com o mesmo zelo que dispensaria a esta pessoa, caso ela tivesse condições de me oferecer mais do que um olhar que suplica por qualquer coisa, exceto indiferença.

domingo, 5 de outubro de 2008

Reflexões


Reflexões sobre o educar from Paulo Medeiros on Vimeo.

Todos nós fazemos muitas leituras DO e NO cotidiano. As reflexões a partir de nossa trajetória profissional e pessoal, assim como por meio dos teóricos que nos são indicados e/ou apreciamos, inevitavelmente vão agregando valor as nossas intervenções pegagógicas.

Já comentei neste mesmo portfólio acerca do filme Os Escritores da Liberdade, mas até o momento não mencionara outra grande obra da sétima arte, certamente assistida por todos em nosso PEAD: Sociedade dos Poetas Mortos. Ao pensar sobre as produções, pude perceber o quão diferentes são suas instituições, seus alunos e professores. Ao uní-las em um mesmo vídeo, isso me pareceu ainda mais evidente. Entretanto, há um fio condutor a ligar todos os elementos envolvidos nos dois filmes e entre si: a possibilidade de superação das dificuldades pessoais por meio da desacomodação. E acredito firmemente que seja esta nossa maior missão: acender pontos de luz interior em nossos alunos, de forma que se desacomodem, caminhando por si mesmos, desatrelados da vontade (ou falta de vontade) alheia.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Como Elaborar Uma Apresentação oral

Professor José Roberto Iglesias

Na tarde de 30 de setembro, o professor do instituto de Física da UFRGS, José Roberto Iglesias, presenteou aos alunos da Universidade com uma esclarecedora palestra – Como Elaborar Uma Apresentação Oral. Estive presente ao seminário temático e registro neste breve texto algumas orientações bastante significativas para os workshops que ocorrem nos finais de cada semestre. Convido a todos que lerem a deixar suas sugestões, ou seja, suas dicas para as apresentações de seus colegas. Eu particularmente, prefiro que os slides de Power Point tenham fundos discretos e de cores mais escuras. O professor Iglesias sugere fundos claros, mas deixou explícito que isso é uma preferência sua, bastante pessoal.
No texto abaixo, procurei ser fiel ao que foi dito pelo professor, mas me permiti acrescentar, por exemplo, que na hora de animar os slides do Power Point devamos evitar os “barulhinhos” que seguem cada movimento na tela. Como é uma constatação pessoal, de que passados os primeiros minutos estes sons se tornam irritantes, permiti-me sugerir sua supressão. Cada colega, tutor ou professor teria suas dicas. Que tal compartilharmos? Para tanto, favor utilizar o campo para comentários. Meu objetivo é reuni-los em uma única postagem e encaminhar para todos os colegas antes do próximo workshop.
Mas vamos às conclusões quanto as orientações do professor...

Quando se faz um trabalho de pesquisa, chegando este trabalho a algum resultado, ele ainda não está concluído até ser apresentado, seja de forma escrita – artigo, livro, pôster, painel, etc – ou por meio de uma exposição oral. A exposição oral é composta basicamente de projeção de imagens em uma tela ou pela utilização de cartazes (parte audiovisual) além da parte falada propriamente dita.

Mas como fazemos para que esta apresentação consiga tanto transmitir o resultado de nossas pesquisas em um tempo exíguo, quanto atrair a atenção daqueles que porventura estejam nos assistindo?

Em um curto espaço de tempo, é necessário oferecer uma condensação do assunto do trabalho de pesquisa, assim como a motivação deste trabalho – porque escolhi determinado tema – sem esquecer os referenciais teóricos. Obviamente, é imprescindível comunicar o resultado da pesquisa, assim como fechar a apresentação com as conclusões a que se chegou através da mesma. Importante: se a pesquisa já foi desenvolvida anteriormente por outro pesquisador, é importante destacar os resultados por esse obtidos.

Como se trata de uma apresentação, faz-se necessário estar preparado para perguntas que porventura venham a ser feitas. Aquele que apresenta pode induzir determinados questionamentos – o que não o dispensa de estar preparado para outros pontos a ponderar – apenas fazendo com que a banca e a audiência percebam certas provocações para tanto. Uma dica é fazer uma afirmação que suscitará uma pergunta posterior ou, ainda, não se aprofundar em um determinado dado apresentado em seu tempo para a exposição, o que fará com que no momento para as discussões ele seja evidenciado.

Antes de considerarmos a apresentação em si, foquemos primeiramente naquele que irá apresentar-se. Fica a questão: qual uma postura adequada para uma apresentação oral?

Dois aspectos podem ser destacados: a presença física e a fala usada na apresentação.

A primeira impressão: a apresentação pessoal não pode ser desleixada ou seu oposto exagerado, quando o esmero no vestir-se chama mais atenção à roupa que ao discurso. Não confundamos excesso de esmero com o saudável capricho. O que é positivo recordar é que não se está em uma “semana da moda” quando um aluno se apresenta para professores e colegas. Do mesmo modo, com respeito ao desleixo, este induz o público a pensar que estamos a tratar o momento com igual descaso, ou seja, que representa muito pouco na nossa trajetória acadêmica e pessoal. Se o próprio autor não valoriza o momento, por que os outros o fariam por ele?

O segundo aspecto é a linguagem: evitar a linguagem coloquial ou com gírias é altamente recomendável. Contudo, utilizar um vocabulário extremamente hermético não causará uma boa impressão. Ser natural, utilizando uma linguagem adequada ao tema e do entendimento dos presentes, certamente é o caminho para que a comunicação se efetive.

Particularmente, não deixaria de destacar, ainda a respeito da linguagem, a importância de se evitar vícios ao final das frases, tais como “né” ou “entende?”, posto que o primeiro é bastante irritante, enquanto o segundo subestima as pessoas que o ouvem, além do que a obrigação de se fazer entender é do aluno. Contudo, não só ao final de frases aparecem estes vícios; as expressões “então” e, mais recentemente, “olha só”, são utilizadas inadvertidamente na linguagem cotidiana que se dá entre certos amigos, mas deve-se deixá-las exclusivamente para o trato com seus pares.

Tendo deixado claro a importância do cuidado na postura e na fala, consideremos uma apresentação com recursos visuais para fins deste texto. Nesta, a primeira transparência, slide ou cartaz, necessariamente deve conter um título. Este título deve estar claro, bem evidente, e ser breve, com o emprego de poucas palavras. Um título como “Ações pedagógicas nas escolas municipais na modalidade EJA nos bairros de periferia do município de Gravataí entre 2001 e 2007 no que se refere à propagação da dengue” parece demasiado longo, passando a idéia de pouca concisão. Outro erro seria a utilização de um vocabulário tão restrito a determinado público a ponto de dificultar uma antecipação do foco da pesquisa. O que você esperaria de uma apresentação cujo título seja “Psicologia Topológica em Rutenatos”? Seriam “rutenatos” uma espécie de ratazanas egípcias? As ratazanas estariam sendo utilizadas em tratamentos psicológicos? E o qual a relação, afinal, encontrada entre a psicologia e a topologia, uma disciplina matemática?

Tendo entendido a importância de um bom título, passemos para uma seguinte questão importante na apresentação oral. Em alguns casos é importante destacar a situação geográfica, ou seja, a localização do espaço onde foi desenvolvido o trabalho de pesquisa. Uma das formas mais simples é a utilização de um mapa, dirimindo qualquer dúvida que possa existir quanto à situação geográfica.

Igualmente importante é não esquecer de colocar no slide inicial os nomes dos colaboradores do seu trabalho. Não se faz necessário ler seus nomes, mas o destaque é, no mínimo, um reconhecimento ao auxílio recebido. Em resumo, a introdução de sua apresentação deve trazer o título, o espaço geográfico e os colaboradores, sem esquecer seu próprio nome, assim como o nome da instituição de ensino, no caso, a UFRGS.

Em seguida, vem a motivação para a pesquisa, ou seja, o motivo para a escolha do assunto que será apresentado. É aqui que você tem uma primeira oportunidade real de conquistar a audiência para a sua apresentação. Torne sua motivação atraente aos demais, o que pode ser feito através de uma frase ou imagem provocadoras. Você já estará induzindo uma intervenção posterior do público ou banca.

O terceiro ponto de uma apresentação é o marco teórico, ou seja, qual é o escopo dentro do qual se encontra o assunto do qual se está a tratar. Para isso recorre-se à bibliografia que referenda seu trabalho, evitando uma lista longa demais de referências. O ideal seria destacar um teórico, dentre os nomes apresentados, trazendo sua fotografia, a imagem da capa de uma importante publicação sua e, o que soa muito apropriado, a reprodução de uma determinada página de destaque, o que confere uma certa atmosfera “histórica” ao slide. Não é indispensável, mas o slide seguinte pode trazer uma citação deste autor e de mais algum, dentre os teóricos citados.

Todos os dados utilizados precisam vir com a fonte. Por exemplo, ao utilizar um dado do IBGE, é imprescindível acompanhá-lo do nome do Instituto, assim como o ano em que foi gerado aquele determinado índice utilizado em sua apresentação. Se os dados são da autoria do próprio aluno, este pode indicar expressamente seu nome na fonte. Se os dados estiverem acompanhados de gráficos, utilize um slide para cada gráfico, não esquecendo de deixar claro o significado de cada eixo do mesmo.

Neste ponto a apresentação está em pleno andamento. Chegou a hora de apresentar um texto seu, mas cuide para que este não tenha muitas linhas. Motivo: as pessoas deixarão de ouvi-lo para ler seu texto. Assim, segundo o professor Iglesias, o ideal é manter entre seis e doze linhas em cada slide. Isso também permite que em um mesmo slide seja inserida alguma imagem sem detrimento da qualidade de visualização e leitura das idéias. E não use caracteres pequenos demais; o ideal é que todos possam ler perfeitamente o que está escrito de qualquer ponto da sala.

Além de uma imagem fixa, também é possível utilizar um vídeo na apresentação, sempre cuidando para que o mesmo seja relevante e que não tome o tempo que se deve reservar para a fala e a apresentação dos slides.

Outro detalhe a observar são as animações de slides: evite aqueles sons incidentais, os quais soam cada vez que o aluno chama um novo campo de texto ou imagem em sua apresentação. Quanto as setas, textos e traços que porventura ganhem movimentos, zele para que não sejam demasiado lentos, de forma que as pessoas – e o apresentador – precisem aguardar que o Power Point organize os elementos na tela. Acredito que aqui também vale a máxima “menos é mais”, o que valoriza a simplicidade. O que os presentes querem ver é o resultado de sua pesquisa, não seu conhecimento das funcionalidades do software.

Lembrando que a apresentação dura um determinado tempo, digamos cerca de dez minutos, é extremamente importante não de deter na introdução em demasiado. Afinal, você desejar compartilhar suas conclusões, não é mesmo? Por isso, não dispense os ensaios para a apresentação, solicitando que amigos ou familiares assistam, tanto para ajudá-lo com o tempo no relógio quanto para indicar os pontos positivos e negativos de sua fala e de seus slides. Ao ouvir uma listagem de pontos a melhorar, não se magoe. Use estas opiniões para se realimentar, melhorando a forma de apresentar-se.

Desde já, vamos antecipar alguns equívocos conhecidos. O primeiro é a impressão de que o aluno não vai chegar à conclusão de sua apresentação até o final de seu tempo, posto que ele detém-se em um determinado slide por um período que deveria ser utilizado também para os posteriores. Corre-se o risco de que os slides finais sejam mostrados quase como flashes fotográficos, comprometendo a qualidade da apresentação oral como um todo.

Um segundo equívoco é aquele cometido pelo aluno que, ciente do tempo exíguo, fala como uma “metralhadora”, ou seja, rápido demais. E o que ocorre ao falarmos de forma acelerada? Não damos ênfase a ponto algum de nosso trabalho, além do que dificultamos o entendimento de nossa pesquisa e conclusão. Se uma apresentação transcorre sem destaque, sem ênfase, intui-se que tudo é igual, que tudo tem a mesma relevância, geralmente baixa. A apresentação tem que criar “um clima”, precisa ter algo de teatro – não confundir com fazer graça – trazendo deste o ritmo que lhe é característico, com expectativa voltada para o que está por vir em função dos dados bem colocados.

Também é interessante apontar, literalmente, para o que se deseja destacar no slide. Isso pode ser feito com uma caneta laser ou apontador (semelhante a uma antena ou régua), algo que evite o aluno de usar seu braço em frente do slide, projetando sombras e, a bem da verdade, comprometendo a visualização do mesmo.

E o fechamento? Tem que haver, no mínimo, um slide exclusivo para a conclusão da pesquisa. Neste, deve-se mostrar o seu resultado, seguido de uma última projeção, na qual se pode indicar a continuação do trabalho, ou seja, como o resultado da pesquisa continuará a fazer parte do cotidiano de uma determinada sala de aula, escola ou comunidade.
Espero ter auxiliado, colegas, de algum modo para nosso próximo workshop. Suas dicas e/ou comentários serão muito bem-vindos no espaço abaixo. Sintam-se à vontade para compartilhá-los.


Site do professor José Roberto Iglesias: http://www.if.ufrgs.br/~iglesias/

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Reflexões sobre um sombrio cotidiano escolar




Certamente pessoa alguma ligada à área da Pedagogia discordaria da afirmação que ontem ouvi, em uma formação de professores, que somente através da educação podemos reverter um cotidiano violento. Entretanto, não sou muito afeito a soluções simplistas e não me convencem fórmulas, ainda que revestidas de afirmações do tipo “funcionou em tal país”.

A noite de ontem reservou-me surpresas bastante agradáveis, pois além da formação, sempre bem-vinda, pude assistir na TVCOM um programa de debates sobre a violência nas escolas. Ao longo do programa, o qual reuniu ícones de conhecimento iluminado, promoveu-se a seguinte enquete: alunos com problemas recorrentes e extremos de indisciplinas devem ser expulsos da escola?

A pergunta, a meu ver, está mal formulada. Assim como os 88% dos votantes, concordo que um aluno que represente ameaça para seus colegas e professores não possa permanecer na escola. Contudo, aqui se percebe os erros em que incorremos ao nos apressarmos com julgamentos. E foram muitos os equívocos do programa, até mesmo por parte dos tais “ícones de conhecimento iluminado”, os quais poderiam permanecer sem proferir, já com os créditos do programa a ponto de serem inseridos, que só “poderiam ser 88% de professores” os votantes. Tem estas pessoas direito de usar do privilégio de estar em frente às câmeras e, num tom de absoluto e evidente desprezo ao resultado, ignorar o que há por detrás de gritante índice, encerrando a questão com um simples “só podem ser professores”, como se a opinião destes (nossa opinião) tivesse menor valor?

Mas o convidado principal do programa – professor inglês, com experiência no trabalho com jovens infratores, trabalhando em Porto Alegre e São Paulo, além de cidades da Escócia, Inglaterra e EUA – trouxe um pouco de bom senso à questão, lembrando-nos que esta precisa ser uma opção existente, ainda que a última. Este compreende o cotidiano escolar como um todo, com certeza, e não apenas o quinhão que lhe convém para tornar seu discurso mais palatável e, diria até, literalmente publicável.

De qualquer modo, eu falava do erro na formulação da pergunta da TVCOM – alunos com problemas recorrentes e extremos de indisciplinas devem ser expulsos da escola?

Faltou considerar que os 88% votantes, eu inclusive, referem-se à necessidade de garantir aos demais alunos matriculados um ambiente seguro na escola e que este não passe a ser um campo de disputa de espaço por parte de gangues. Assim, entendo que, esgotadas todas as intervenções junto ao aluno, família, conselho tutelar e promotoria pública, deve ser garantida a possibilidade SIM não da expulsão, como se ao aluno apenas fosse negado o direito de receber educação formal, mas de encaminhamento para outra instituição de ensino.

Percebo que se discute pouco, ao mesmo tempo em que se fala demais. O tempo para reflexão quanto aos possíveis encaminhamentos para casos de violência na escola é tornado exíguo, pois se tem mais pressa que desejo de resolver questões conflituosas.

Errou a pergunta, errou também o dado da palestrante da formação citada no início desta postagem, o qual aqui transcrevo por completo: “Em países desenvolvidos o problema da violência foi resolvido através da educação.” Em escolas francesas e norte-americanas, para ficarmos apenas em dois países do G7, são alarmantes os dados da violência cotidiana, com situações tão extremas como o estupro, o tráfico de drogas e o comércio de armas no dia-a-dia de algumas escolas, espelho do cotidiano de suas cidades mundialmente conhecidas.

Fica um questionamento que faço, em primeiro lugar, para mim mesmo: que conjunto de medidas mudariam, afinal, positivamente o perfil de uma nação?
Em tempo: a imagem no topo desta postagem é do filme Escritores da Liberdade. Simplesmente imperdível para todo o educador, independente da faixa etária com a qual atua.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Aprendizagem na vida adulta


Na aula de número 6 de Psicologia, somos convidados a refletir um pouco sobre a questão da aprendizagem na vida adulta. Para tanto, após a leitura do texto indicado, percebendo neste vários questionamentos, achei por bem pensar a respeito das questões ali colocadas. Tais questões, seguidas de minhas reflexões pessoais, seguem abaixo:


1. Compare as duas definições para adulto: a do dicionário e a da lei.Existe uma concordância perfeita entre as duas definições? No que elas diferem?

Percebe-se que ambas são bastante distintas, não havendo uma convergência entre elas. Quando a definição do dicionário cita a “idade vigorosa”, não faz menção alguma à idade estabelecida pela lei brasileira. Posto que em diferentes culturas adentra-se na vida adulta em períodos também diferentes, a definição expressa em lei obviamente baliza questões de ordem e ajustamento social, de forma que o adulto seja aquela que já pode responder por suas ações. A definição legal ignora a existência de uma prontidão intelectual, psicológica e emocional do sujeito. A definição do dicionário, mais abrangente, considera questões como a maturidade e o desenvolvimento (ainda que não cite em quais aspectos) do indivíduo.

2. Se a teoria diz que, em média, as pessoas atingem o operatório formal aos doze anos, isso significa que todas as pessoas, ao atingirem doze anos atingem o estádio das operações formais?

A teoria é clara a respeito, estabelecendo apenas uma média ao citar a idade de doze anos. Ocorre que temos crianças que chegam aos doze anos estruturando-se no estágio operatório-concreto, necessitando de um período bastante particular para construir uma identidade própria do estágio operatório-formal.


3. Isso significa que todos os adultos, por atingirem 18 anos de idade, automaticamente, atingiram o período operatório formal do desenvolvimento cognitivo?

Ao completar 18 anos, o indivíduo legalmente adulto deve estar no período operatório formal do desenvolvimento cognitivo. Duas características do estágio operatório-formal, que são a possibilidade de se refletir para além do real presente e de pensar sobre o próprio pensamento, entre outras, indicam que o jovem adulto encontra-se no período operatório formal, muito mais do que sua idade. São tantas as nuances de um ser humano para outro que a entrada na vida adulta aos 18 anos não significa que se está maduro, ou ainda, que se entrou “automaticamente” no último dos estágios descritos por Piaget. O próprio texto já diagnostica perfeitamente que podemos afirmar que a entrada no operatório formal poderá ser percebida no sujeito a partir de “sua relação com o objeto do conhecimento, [...] sua maneira de pensar, refletida no modo como lida com os problemas da realidade, seja ela interna ou externa.”

4. Será que basta ao professor passar o conteúdo ou será que as relações interpessoais que se constituem em sala de aula são relevantes para a educação?

Podemos imaginar inúmeras configurações físicas e interpessoais em uma sala de aula. Um professor poderá dispor a sala em U, em círculos, em colunas, entre outras formas, mas na ausência de diálogo com os alunos, dependerá totalmente desses que a disposição física faça qualquer diferença. Contudo, comumente são os professores que estabelecem diálogos com seus alunos que justamente propõem novas configurações físicas em suas salas de aula, pois acreditam que a proximidade dos alunos entre si e do professor para com eles é extremamente positiva no processo de ensino-aprendizagem.

5. Será que é sempre fácil para o aluno colocar-se no ponto de vista do professor e acompanhar o seu raciocínio? Será que é sempre fácil para o professor dar-se conta de que o raciocínio do aluno é diferente do seu?

Não é sempre fácil, definitivamente. A bem da verdade, em qualquer tipo de relacionamento – familiar, conjugal, profissional, entre outros – observar uma situação a partir do ponto de vista alheio segue sendo um exercício de humildade e bom senso. Aceitar que a opinião do outro possa estar não apenas correta, mas ser a mais factível, é uma demonstração de maturidade e humildade de quem se permite não ter razão o tempo todo. Contudo, afirmar que seria mais fácil ao professor fazer este movimento necessita de uma justificativa, ou estaríamos subestimando esta mesma capacidade por parte de nossos alunos. Ocorre que o professor tem uma formação acadêmica que, espera-se, contribua para um discernimento entre o seu papel, de mediador, e o do aluno, que deve ser estimulado a tornar-se um pesquisador em prol de sua aprendizagem. Como mediador e motivador, o professor constantemente precisará fazer um movimento que permita perceber que a forma do aluno pensar não é necessariamente um reflexo da sua, não por capacidade, mas pela singularidade dos seres humanos e pelas diferentes posições que ocupam em um mesmo espaço, no caso, a sala de aula.

6. Será que nas relações professor-aluno na educação de jovens e adultos está também presente o processo de transferência ou ele apenas ocorre na relação com crianças?

Buscando em Freud o que significam as transferências, encontrei que essas são“reedições dos impulsos e fantasias despertadas (...) que trazem como característica a substituição de uma pessoa anterior pela pessoa do médico” (ou professor) . Freud igualmente afirma que “é difícil dizer se o que exerceu mais influência sobre nós e teve maior importância foi a nossa preocupação com as ciências que nos eram ensinadas, ou pela personalidade de nossos mestres.” O aluno da EJA não raro permite-se vivenciar tal processo, como em situações que o faz tomar certas atitudes em seu trabalho ou na vida afetiva porque parte da premissa que seu professor agiria da mesma forma. Isto é, o aluno que se identifica com o professor X tende a fazer as escolhas que, imagina, seu professor faria ou aprovaria. Os próprios sentimentos de rejeição ou empatia do aluno para com um determinado professor, sem aparente razão, podem estar ligados a processos de transferência inconscientes.

domingo, 21 de setembro de 2008

ENQUETE - O PEAD E SUAS AÇÕES PEDAGÓGICAS



Esta enquete tem por objetivo permitir que os alunos possam aferir, sem necessidade de identificação, o quão significativo tem sido este curso na vida profissional de todos os que fazem parte do PEAD/UFRGS.

Após a leitura do questionamento abaixo e reflexão, marque apenas uma resposta e clique no botão VOTAR. Você pode ainda verificar o resultado até o momento do seu voto clicando no botão RESULTADO PARCIAL.

Grato por sua visita e seu voto!



Após o início do PEAD sua fala e ação pedagógicas estão mais qualificadas?

Sim, percebo que me posiciono com mais segurança e que planejo muito melhor minhas ações.

Noto um ganho significativo na sala de aula, mas ainda sinto-me com pouco preparo para debates.

Ainda não percebo modificações significativas que possam ser atribuídas ao PEAD.












sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Constituição de 1988 versus Constituição de 1934



Minha leitura anterior da Consitutição Brasileira deu-se apenas quando foi promulgada nossa mais recente Carta Magna. Tratava-se de algo parecido com o best seller do momento. Bem, ao menos o era para mim.


Contudo, recordo igualmente que decepcionei-me logo na leitura do artigo 5º, pois em meu pensamento permanecia uma única frase, quase um mantra: "não é verdade, não é bem assim!"


Nossa Constituição é tida como própria de uma nação democrática, auspiciosa de dias mais justos e melhores para todos. Mas o cotidiano mostra-se bastante distinto do que o papel aceitou passivamente nas gráficas. Soa quase como escárnio apregoar que todos são iguais perante a lei ou, no artigo seguinte, o sexto, que são direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados...


Entretanto, inegáveis os ganhos nas garantias individuais e coletivas que se pode perceber com a leitura de nossas Constituições de 1934 e seguintes. Ao contrário de 1934, em nossa recente Constituição percebemos que a sede fiscal da União é sensivelmente menor, pois dá-se uma autonomia então inexistente aos municípios, o meio ambiente é amparado em lei, a censura nos meios de comunicação é abolida e são previstas eleições em dois turnos, entre outras mudanças.


Pesquisando a respeito da nossa Constituição, inteirei-me de que ela está ligada aos ideais tanto Iluministas* quanto da Revolução Francesa**.


*O Iluminismo dava ênfase nas idéias de progresso e perfectibilidade humana, assim como a defesa do conhecimento racional como meio para a superação de preconceitos e ideologias tradicionais.


** Foi influenciada pelos ideias do Iluminismo.


(Fonte das duas observações acima: http://www.wikipedia.org/)

Aprendizagem na Vida Adulta

Com os alunos da EJA durante aula de inglês



A proposta da sexta aula de Psicologia começa com a leitura do texto cujo nome é o mesmo do título desta postagem. A seguir, orienta-se que escrevamos a respeito de nossas experiências cotidianas de aprendizagem, "tentando entender de que forma as características do desenvolvimento intelectual do jovem e do adulto e as relações professor-aluno se manifestam no seu próprio processo de aprendizagem."

Optei por fazer este primeiro relato antes de abrir o texto indicado, colocando aqui minhas idéias a respeito de como eu próprio construo meu conhecimento. Quase que um desafio lúdico para mim mesmo, meu propósito é poder comparar o que muda nas duas postagens a respeito da aprendizagem na vida adulta (além do presente foco na primeira pessoa do singular), uma anterior à leitura e, a seguinte, após reflexão desencadeada pela mesma.
Em primeiro lugar, o ensino a distância é a modalidade ideal para mim. Com tal afirmação, posso estar a provocar uma idéia equivocada de que não aprecio trabalhar em equipe. De modo algum, pois muitas reflexões só são possíveis quando temos a oportunidade de compartilhar. Mas aqui estamos a falar sobre processo de aprendizagem e esta, em meu caso particular, deu-se na maioria das áreas em uma atmosfera bastante individual. Vamos a alguns exemplos...

O que sei de informática aprendi na medida em que busquei. Jamais freqüentei qualquer curso, pois minha opção foram horas prazerosas de tentativa/erro/tentativa/acerto. Lembro quando comprei meu primeiro computador, um IBM Aptiva, por volta de 1995, sabendo apenas a denominação das partes de um computador. Quanto ao uso dos softwares, era completamente obtuso. O mesmo processo de aprendizagem ocorreu com o uso de eletrônicos, pois lembro ainda quando, na década de 1980, era constantemente requisitado por amigos para ensiná-los a gravar na novidade que era o gravador de fitas VHS, ou a instalar seus equipamentos adquiridos. Com a Língua Inglesa não foi diferente: desde os dez anos de idade, quando percebi que poderia aprender outra língua, não perdia a oportunidade de ampliar meu vocabulário e aventurar-me no uso da gramática estrangeira. Minhas ferramentas eram letras de músicas – que na época eram difíceis de conseguir, posto que Internet ainda era uma desconhecida do grande público – e livros que me eram doados por pessoas atentas a meus anseios.

Mas qual ligação percebo entre o ensino a distancia com minha experiência acima relatada e a aprendizagem de adultos? A primeira questão fica evidente: aprendi sozinho, nos moldes que tal modalidade de ensino guardava outrora: estudava-se a partir de manuais, sem a expectativa de encontros presenciais. Já adulto, percebo que sou afeito a aprender por minha própria conta. Não hesito em perguntar, tirar minhas dúvidas, mas dificilmente imaginaria uma situação na qual não tentasse, antes, reservar-me o direito de construir minha aprendizagem em meu ritmo, com as fontes de consultas que me pareçam as mais indicadas.

Mais precisamente com relação ao PEAD, mantenho uma postura aprendida da infância e reforçada em meus dois anos como pesquisador em duas universidades no Japão: o professor pode até não deter o conhecimento, como querem nos fazer repetir todos os pedagogos, mas fascina-me a fala de um verdadeiro mestre, dado que, em silêncio, costumo sorver suas palavras. Dificilmente faço qualquer intervenção, pois aquele momento é de ouvir, refletir e, se for o caso, solicitar algum esclarecimento, a fim de que nova reflexão se processe.

Tenho tal postura tanto como aluno quanto como professor. Meus alunos da EJA sabem, porque fazemos tais combinações, que existe o momento do professor falar e do aluno ouvir, assim como um momento em que os alunos têm a palavra, pois ainda não há outra forma de ocorrer verdadeiro diálogo em sala de aula. E o mais interessante, é que esta espécie de contrato com os alunos dificilmente precisa ser evidenciada - formalmente - pois no dia-a-dia eles e o professor seguem construindo uma atmosfera de respeito mútuo, conhecimentos compartilhados e novas possibilidades de aprendizagem.





quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Tema - A depressão





Escolher um tema como a depressão para desenvolver um trabalho de pesquisa, dentre tantos outros assuntos disponíveis, foi uma decisão tomada sem hesitar. Os estados da psiquê é um assunto que não se esgota, não importa o quanto o estudemos; a psiquê e a alma humana são terrenos ricos para reflexão, para conjecturas e, talvez o objetivo maior, para entender melhor o ser humano.

Existem muitas maneiras de nos inteirarmos acerca da depressão. Dias atrás, em um consultório dentário, li em uma revista de nome Ana Maria, um artigo sobre depressão. Não conhecia a publicação, ou seja, não sei exatamente o tom de suas matérias, mas nesta em especial havia como que uma "receita de bolo" para sair da depressão. Segundo o autor da matéria de duas páginas, uma postura cuidadosa com o visual, exercícios físicos e um tratamento clínico resolveriam.

Qualquer leitor dotado de um mínimo de bom senso perceberia, pelo menos, dois equívocos nestes três passos para a cura, justamente o mais difícil em qualquer empreitada - o primeiro passo - e aquele que a ele se segue. Esqueceram de avisá-lo de que o indivíduo com depressão pode se preocupar com muitas coisas, exceto com sua maneira de vestir-se. Quanto á prática de exercícios físicos, só poderia ser uma piada, não fosse a sua opinião digna de quem se leva a sério. Óbvio que exercícios físicos são bons, são positivos e altamente recomendáveis, mas que tal inverter a ordem e aconselhar uma consulta com um profissional?

Um dos livros que li sobre depressão e a doença maniaco-depressiva - também chamada de transtorno bi-polar - justamente foge das regras fáceis, dos conselhos que pretendem soar sérios. Escrito por uma psiquiatra norte-americana, a qual sofreu por anos de transtorno bi-polar e depressão (inclusive quando já era médica), o seu relato é comovente e sem máscaras; disseca a depressão, as manias e os horrores tanto de quem sofre a doença quanto a dor e/ou indiferença dos familiares, colegas e amigos. "Uma Mente Inquieta", da doutora Kay R. Jamison, vale um final de semana inteiro de boa leitura ao sol. Um relato honesto, por vezes poético, noutras oportunidades quase cruel, justamente por ser extremamente sem rodeios.

E numa linha que lembra a matéria citada da revista Ana Maria, li também "12 Semanas Para Mudar Uma Vida", do psiquiatra Augusto Cury. São caminhos que o médico aponta para "promover a saúde psíquica" ao longo de doze semanas. Honestamente, não sei se uma pessoa deprimida teria forças para agüentar doze semanas de faça isso ou aquilo. Por isso, melhor ler o livro antes de conhecer o que seja a depressão. Comparando os dois, fico com o primeiro. Contudo, são livros com objetivos bem distintos, não tenho a menor dúvida.

Para finalizar, duas passagens que me marcaram a seu modo:

"... primeiramente enxergar a grandeza da vida e nunca se diminuir, se inferiorizar ou ter pena de si mesmo." Cury

"...a depressão é neutra, oca e insuportável. [...] você está [...] irritável, paranóico, sem senso de humor, sem energia, cheio de críticas e exigências, e nenhum tipo de esforço jamais é suficiente para reanimá-lo. Você 'não está nem um pouco parecido consigo mesmo, mas logo vai estar', só que você sabe que não vai." Jamison

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

TRANSFORMAÇÕES NA CONVIVÊNCIA SEGUNDO MATURANA



Em parceria com Francisco Varela, Maturana percebe o mundo como um organismo eternamente incompleto, o qual recebe intervenções de cada indivíduo que o transformará ao longo de sua evolução como ser essencialmente social. O biólogo chileno mantém o viés ininterrupto da essência da socialização para que a trajetória de cada um tenha chances de ser bem sucedida emocionalmente.

No próprio fórum da interdisciplina eu destacava ser impossível desvincular a aprendizagem efetiva da emoção, pois tanto a fala de Maturana quanto nossas experiências não mais deixam dúvidas: a aprendizagem significativa é aquela que privilegia a emoção em seu processo.

Nota-se no texto de Maturana uma atenção especial para a humildade nas nossas intervenções sociais. Ao estabelecermos vínculos, a prepotência concorreria contra a possibilidade dos mesmos sequer se efetivarem. Chego a tal conclusão quando Maturana diz que "[...]tem a ver com a maneira de encontrarmo-nos com o outro. Se o fizermos numa posição na qual pretendamos ter acesso privilegiado à realidade (e a concebemos como única), o outro deverá fazer o que dissermos ou estará contra nós. Se nos encontrarmos com o outro com consciência de que não temos o acesso à realidade independente do observador, o encontro será de aceitação, amoroso."

O autor destaca redes de relações que se dão pelo medo ou pelo afeto, o que podemos cotidianamente perceber, em especial, nas famílias e nas salas de aula. Em uma sala de aula, uma relação de afeto entre as partes certamente funcionaria como facilitadora da aprendizagem.

De fato, outro autor, Antonio Damásio (médico - dirige centro de pesquisa neurológica nos EUA), afirma não ser verdade “[...] que a razão opere vantajosamente sem influência da emoção. Pelo contrário, é provável que a emoção auxilie o raciocínio, em especial quando se trata de questões pessoais e sociais que envolvem risco e conflito” (DAMÁSIO, 2000, p. 63). O autor destaca que o senso comum nos diz para afastar os sentimentos e as emoções quando necessitamos tomar decisões. Segundo o pesquisador, a racionalidade do indivíduo seria severamente comprometida pela supressão da emoção e do sentimento.

Somos bombardeados por informações que passam a ser acreditadas por praticamente todos nós. Dentre tais pretensas verdades, o dualismo tido como inerente do ser humano parece indiscutível. Somos divididos em mente versus corpo, razão versus emoção e, como afirma Damasio, que para todas as escolhas de determinado sujeito existem explicações biológicas e explicações culturais, sem qualquer possibilidade de uma visão científica e, por que não, holística dos processos ligados à mente. É um tema fascinante e, com certeza, conflitante. Por isso, procurei buscar novamente em Maturana uma fala em harmonia com Damásio, pois encontro conforto nas palavras de ambos quando arriscam-se a ser motivo de chacota na comunidade científica, como porta-vozes da importância das emoções nas relações de convivência.

Destacando aqui uma afirmação de Maturana em especial: \"[...] a realidade que vivemos depende do caminho explicativo que adotamos, e este depende do domínio emocional no qual nos encontramos no momento da explicação.”, percebo que, apesar de compartilharmos um mesmo espaço físico e temporal, nossa evolução neste meio comum dar-se-á tanto por nossas reminiscências (aqui evoco Erikson) quanto pelo desejo real de que ela possa processar-se. Como não há verdade absoluta sem uma verdade relativa correspondente, o que fazemos com o que nos é oferecido dependerá de nossas experiências e diferentes domínios nos quais encontramo-nos naquele momento. Amiúde, é o que instiga a uns o desafio, enquanto a outros a desistência.