domingo, 29 de agosto de 2010

Intenções do TCC

São mais de duas décadas trabalhando com alunos das séries iniciais. Neste ínterim, muitas mudanças ocorreram, fossem estas nos objetivos, nos conteúdos ou na metodologia. A nomenclatura outrora utilizada fora descartada, ainda que por vezes as mudanças ficassem somente neste terreno do polimento de um vocabulário dito politicamente correto. A refletir o momento político, econômico e social, a práxis educacional foi sendo moldada ora pela demanda de um mercado, ora pelas necessidades dos educandos.

Neste cenário de mudanças, o computador já foi saudado tanto como a resposta definitiva para as lacunas do aprendizado quanto seu uso hostilizado pelos mais conservadores, receosos com uma alardeada substituição do professor pela máquina. Com o advento da Internet, a disponibilidade de toda a sorte de conteúdos nas suas incontáveis páginas assombraram boa parte dos professores: e se os alunos simplesmente passarem a entregar cópias em lugar de pesquisas?

A Internet, de início um conjunto de páginas que poderiam ser consultadas, pouco a pouco veio sofrendo mudanças que determinariam a utilização que hoje possibilita: de uma Internet para leitura e consulta à uma rede de computadores que possibilita ler, escrever, publicar, divulgar e interagir. Muito semelhante à idéia de escola que a maioria tem, os primeiros anos de Internet pública nos permitiam um acesso quase que passivo às informações disponibilizadas. Sendo repensada, evoluindo e seguindo uma direção ainda não percorrida pela escola, a Internet é hoje um meio em que cada indivíduo pode criar seu espaço na medida desejada, conjeturar e interagir, tendo um feedback imediato de sujeitos que comungam de idéias semelhantes ou que a elas são contrários.

Os alunos que hoje estão nas séries iniciais já nasceram neste mundo rodeado por blogs, wikis e uma série de sites com os mais diversos assuntos possíveis. A informação que eles necessitam está ao alcance de uma ferramenta de busca. A interação se dá pelos chats, e-mails e outras ferramentas que possibilitam a troca de opiniões acerca de um determinado tema. Para conversar com outras pessoas não é mais necessário estar em um mesmo espaço físico, pois um novo mundo, virtual, se configura na tela do computador à sua frente. É neste cenário, em que o cotidiano digital se defronta com práticas nem sempre atraentes em uma escola analógica, que me debruço a pensar na produção textual do educando. A disseminação da Informática e a relação estreita de suas ferramentas com toda a sorte de atividades cotidianas, exige do educando refletir como situar-se neste novo mundo, ressignificando suas relações não apenas com os indivíduos, mas com sua aprendizagem. A Internet, atrelada a toda uma gama de recursos que a informática disponibiliza, possibilita ao educando construir conhecimento relevante à sua área de interesse, desenvolvendo igualmente sua capacidade de aprimorar o entorno, integrando-se plenamente à sociedade.

Associe-se a este contexto um mundo competitivo, o qual exige de cada sujeito a capacidade de articular todos os saberes, contemplando desde a correta utilização da língua culta ao conhecimento científico universal, considerando as especificidades de cada cultura. Deste modo, é pertinente pensarmos a respeito da qualidade da produção textual de nossos alunos: Como acontece? De que trata? Em que fonte nosso educando está a buscar referências? Tão importante quanto atentarmos para a forma da escrita e seu conteúdo, é pensar para quem nosso aluno escreve e como faz chegar aos leitores – se os têm – o que produzira, e se recebe algum feedback a respeito de sua escrita.

Não há razão para a escola enfrentar dificuldades em provocar no aluno uma reflexão quanto a seu meio, posto que todos lemos o mundo antes de ler a palavra. A escola deveria apenas dar conta de organizar nosso conhecimento e ampliá-lo para além das fronteiras das condições econômicas das famílias. “O exercício da curiosidade convoca a imaginação, a intuição, as emoções, a capacidade de conjecturar, de comparar na busca da perfilização do objeto ou do achado de sua razão de ser” (Freire, 2001, p. 98). Aqui é importante salientar que a escola tem a tarefa de permitir que o aluno estabeleça relações de pertencimento com o mundo no qual ele está inserido. É ela que o motiva (ou não) a deixar o papel de espectador em favor do papel de sujeito que interage em seu meio.


Revisão bibliográfica

Fazer da informática um meio para que o aluno supere restrições referentes à disponibilidade de informações e sua utilização para a construção dos saberes é um desafio que se impõe. Neste contexto, o professor é aquele que aponta caminhos que desafiem o educando a modificar seu processo de aprendizagem, estimulando-o a tornar-se sujeito ativo nesta evolução.

É o cenário do qual fala Moran:

“Os alunos podem fazer suas pesquisas antes da aula, preparar apresentações - individualmente e em grupo. Podem consultar colegas conhecidos ou desconhecidos, da mesma ou de outras escolas, da mesma cidade, país ou de outro país. Aumentará incrivelmente a interação com outros colegas, pesquisando os mesmos assuntos, trocando resultados, materiais, jornais, vídeos.”

A interação entre os alunos é flagrante através da Internet, e a utilização que estes fazem das redes sociais atestam o quanto a web, em lugar de isolar, aproximou os indivíduos. O acesso à Internet confere ao aluno a possibilidade de apropriar-se de informações da mesma forma que seu professor, tornando o processo de ensino-aprendizagem mais rico para ambos. Neste ambiente em que a informação circula de forma democrática, Moran destaca o que é ensinar e o papel do professor:

“Ensinar é orientar, estimular, relacionar, mais que informar. Mas só orienta aquele que conhece, que tem uma boa base teórica e que sabe comunicar-se. O professor vai ter que atualizar-se sem parar, vai precisar abrir-se para as informações que o aluno vai trazer, aprender com o aluno, interagir com ele.”

Vivemos um momento do qual não se poderia retornar: se a escola insistir em permanecer igual, a transformação será motivada pela cibercultura. Para Lévy, é preciso explorar as potencialidades deste espaço no plano econômico, político, cultural e humano”. Para o professor da Universidade de Paris, o papel do professor passa por uma mudança crucial: de “difusor de saberes” para o que ele denomina de “animador da inteligência coletiva”, estimulando nos estudantes uma postura cooperativa no aprendizado. Àqueles que advogam que a Internet afastaria os indivíduos, isolando os sujeitos, Lévy responde que os modos de relação, conhecimento e aprendizagem da cibercultura não paralisam nem substituem os já existentes, mas antes os ampliam, transformando-os e tornando-os mais complexos.

As ferramentas aí estão: blogs, wikis, podcasts, além de outras, fazendo deste século uma era instigante para todos aqueles que se envolvem com o fazer educação. O professor e escritor norte-americano, Will Richardson, destaca que vivemos um momento no qual se configura um desafio ser um educador. Para ele, da maneira “como se comunicam e aprendem, a realidade de nossos estudantes segue muito diferente da nossa. (...) Ele estão construindo uma ampla rede social com pouca ou nenhuma orientação dos adultos (...) usando uma ampla variedade de tecnologias que lhes foi negada utilizar quando vêem para a escola.” Richardson chama à reflexão ao questionar “o que precisamos mudar em nossos currículos quando nossos alunos detém a capacidade de alcançar audiências muito além das paredes de nossas salas de aula.” Acerca do novo sujeito em nossas escolas, pergunta: “De que modo devemos repensar nossa idéia acerca do que seja alfabetizar quando precisamos preparar nossos estudantes para se tornarem não apenas leitores e escritores, mas também editores, colaboradores e divulgadores.”

Referências:

FITZGIBBON, Kathleen. Teaching with wikis, blogs, podcasts and more. USA: Scholastic, 2010.

FREIRE, P Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 18ª. ed. São Paulo: Paz & Terra, 2001.

LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo, Ed.34, 1999.

MORAN, José Manuel, MASETTO, Marcos e BEHRENS, Marilda.

Novas Tecnologias e Mediação Pedagógica.16ª ed. Campinas: Papirus,2009, p.12-17

RICHARDSON, Will. Blogs, wikis, podcasts, and other powerful Web tools for classrooms. 3ª ed. USA: Corwin Press, 2010.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Referenciais teóricos


Para o TCC, dois importantes referenciais teóricos já adquiridos e em fase de leitura

(Clique nas imagens acima para ter acesso à parte da obra):

(Imagem Superior) Blogs, Wikis, Podcasts, and Other Powerful Web Tools for Classrooms
Autor: Will Richardson

(Imagem inferior) Teaching with wikis, blogs, podcasts and more
Autora: Kathleen Fitzgibbon