sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Reflexões sobre um sombrio cotidiano escolar




Certamente pessoa alguma ligada à área da Pedagogia discordaria da afirmação que ontem ouvi, em uma formação de professores, que somente através da educação podemos reverter um cotidiano violento. Entretanto, não sou muito afeito a soluções simplistas e não me convencem fórmulas, ainda que revestidas de afirmações do tipo “funcionou em tal país”.

A noite de ontem reservou-me surpresas bastante agradáveis, pois além da formação, sempre bem-vinda, pude assistir na TVCOM um programa de debates sobre a violência nas escolas. Ao longo do programa, o qual reuniu ícones de conhecimento iluminado, promoveu-se a seguinte enquete: alunos com problemas recorrentes e extremos de indisciplinas devem ser expulsos da escola?

A pergunta, a meu ver, está mal formulada. Assim como os 88% dos votantes, concordo que um aluno que represente ameaça para seus colegas e professores não possa permanecer na escola. Contudo, aqui se percebe os erros em que incorremos ao nos apressarmos com julgamentos. E foram muitos os equívocos do programa, até mesmo por parte dos tais “ícones de conhecimento iluminado”, os quais poderiam permanecer sem proferir, já com os créditos do programa a ponto de serem inseridos, que só “poderiam ser 88% de professores” os votantes. Tem estas pessoas direito de usar do privilégio de estar em frente às câmeras e, num tom de absoluto e evidente desprezo ao resultado, ignorar o que há por detrás de gritante índice, encerrando a questão com um simples “só podem ser professores”, como se a opinião destes (nossa opinião) tivesse menor valor?

Mas o convidado principal do programa – professor inglês, com experiência no trabalho com jovens infratores, trabalhando em Porto Alegre e São Paulo, além de cidades da Escócia, Inglaterra e EUA – trouxe um pouco de bom senso à questão, lembrando-nos que esta precisa ser uma opção existente, ainda que a última. Este compreende o cotidiano escolar como um todo, com certeza, e não apenas o quinhão que lhe convém para tornar seu discurso mais palatável e, diria até, literalmente publicável.

De qualquer modo, eu falava do erro na formulação da pergunta da TVCOM – alunos com problemas recorrentes e extremos de indisciplinas devem ser expulsos da escola?

Faltou considerar que os 88% votantes, eu inclusive, referem-se à necessidade de garantir aos demais alunos matriculados um ambiente seguro na escola e que este não passe a ser um campo de disputa de espaço por parte de gangues. Assim, entendo que, esgotadas todas as intervenções junto ao aluno, família, conselho tutelar e promotoria pública, deve ser garantida a possibilidade SIM não da expulsão, como se ao aluno apenas fosse negado o direito de receber educação formal, mas de encaminhamento para outra instituição de ensino.

Percebo que se discute pouco, ao mesmo tempo em que se fala demais. O tempo para reflexão quanto aos possíveis encaminhamentos para casos de violência na escola é tornado exíguo, pois se tem mais pressa que desejo de resolver questões conflituosas.

Errou a pergunta, errou também o dado da palestrante da formação citada no início desta postagem, o qual aqui transcrevo por completo: “Em países desenvolvidos o problema da violência foi resolvido através da educação.” Em escolas francesas e norte-americanas, para ficarmos apenas em dois países do G7, são alarmantes os dados da violência cotidiana, com situações tão extremas como o estupro, o tráfico de drogas e o comércio de armas no dia-a-dia de algumas escolas, espelho do cotidiano de suas cidades mundialmente conhecidas.

Fica um questionamento que faço, em primeiro lugar, para mim mesmo: que conjunto de medidas mudariam, afinal, positivamente o perfil de uma nação?
Em tempo: a imagem no topo desta postagem é do filme Escritores da Liberdade. Simplesmente imperdível para todo o educador, independente da faixa etária com a qual atua.

Um comentário:

Rosária disse...

Olá colega! Sou aluna do Pólo de Alvorada e recebi teu convite para participar da enquete. Gostei do teu comentário e resolvi postar uma mensagem de apoio a tua iniciativa, pois nós educadores, estamos isolados e abandonados a própria sorte. Te digo isto por experiência própria, pois estou sendo processada por um Conselheiro tutelar de Viamão, por ter negado a vaga em uma turma de
5ª série, com 35 alunos, portanto sem vaga. E por esta menina estar sem apoio psicológico para os problemas que a faziam procurar uma nova escola. Eu realmente não sei onde iremos parar, mas continuo acreditando no meu trabalho! Um Abraço. Rosária