segunda-feira, 12 de maio de 2008

A arte de fazer perguntas




Os alunos de vocês são curiosos? Vocês costumam desafiar seus alunos a fazerem perguntas? Ouvem cuidadosa e atentamente as perguntas que eles fazem? Buscam trabalhar em cima dessas perguntas? Percebem a originalidade da construção das perguntas? Percebem que os alunos, ao perguntarem, evidenciam a forma com que eles compreendem o mundo? E vocês são curiosos? Costumam se fazer perguntas ou fazer perguntas aos outros? Quando percebem situações para as quais não têm respostas vocês se sentem desafiados a buscá-las?


A provocação da interdisciplina é evidente: com que freqüência motivamos nossos alunos a compartilhar suas dúvidas por meio de questionamentos? Nossa metodologia estimula a curiosidade dos educandos ou costuma podar qualquer iniciativa neste sentido?


O aluno da EJA, meu público-alvo, é sempre uma incógnita: teria, com os anos que se passaram à margem da Escola, se condicionado a uma postura passiva perante o professor? Sentir-se-ía este aluno constrangido em manifestar dúvidas, com receio de ser confundido com uma pessoa ignorante?


Incrível, ainda que absurdo, mas percebo que certos alunos (e mestres) creditam à ausência de perguntas uma atmosfera de certezas e de total compreensão de um determinado tema. Ainda que esta possa ser uma verdade, aferir conhecimento pelo silenciar das manifestações curiosas é um método questionável. Tanto para alguns pequenos quanto para os maiores, perguntar pode ser sinal de "lentidão mental", sendo que até um termo já foi cunhado por eles que se aplica àquele que insiste em perguntar em sala de aula: lesado!


O "lesado" seria o colega que, em lugar de deixar o professor dar sua aula, para a "matéria andar mais rápido", fica trazendo perguntas e mais perguntas. Como conseqüência, o professor sairia da superficialidade do assunto e estenderia para os demais alunos os questionamentos trazidos pelo colega curioso e desejoso do saber, fazendo-os trabalhar. Não é exatamente o tipo de atmosfera cooperativa que deseja um aluno (ou professor) que prefere uma educação bancária, na qual alguém detém o conhecimento, sendo que os demais, apenas o receberiam passivamente.


A Língua Inglesa, o componente curricular com o qual trabalho, por si só guarda elementos que são um caldo de cultura para perguntas:


a) As letras das músicas que os alunos ouvem;


b) Certas expressões enfatizadas (repetidas) nos filmes que assistem;


c) As camisetas que usam, as quais trazem inúmeras expressões em língua estrangeira;


d) As marcas com as quais eles se identificam;


e) Títulos de programas e filmes, nomes de bandas e produtos, etc.


Desprezar que existe todo um universo a nosso redor que pode ser explorado em sala de aula e que estimulará a formulação de perguntas, seria sepultar o ensino da Língua Inglesa, repetindo ad infinitum o verbo To Be, assim como frases sem sentido para os alunos. Ainda que verbo algum possa ser dispensado, a formulação de orações em língua estrangeira mostra-se, para eles, divertida e instigante, quando tudo é usado para comunicar alguma idéia que seja deles, não somente do professor ou dos livros didáticos.


Não é por outro motivo que os alunos novos perguntam todo o início de ano letivo:


1) Como é que eu digo "eu gosto de ti" em inglês para minha namorada?


2) Quero mandar esta letra de música para meu namorado. A letra é romântica?


3) O que quer dizer a marca do meu tênis?


4) O que está escrito na minha camiseta?


E quando eles começam a perceber que o cotidiano está repleto de expressões estrangeiras, questionam:


1) O que significam as palavras mouse, pen drive e software? O que quer dizer site, internet e e-mail? (alunos que começam a trabalhar com computadores na escola);


2) Qual o significado das siglas CD, DVD, e o que quer dizer nos controles as palavras play, stop, replay, skip, etc? (alunos que percebem palavras em inglês nos eletrônicos que têm em casa);


3) O que é um produto light? E diet?


4) Qual o sentido de Big Mac, fast-food, Mac Chicken?


5) O que signfica shopping center, 100% oof, sale e os nomes de tantas lojas do shopping?


A curiosidade é tamanha que esta lista torna-se infindável. Um professor que não souber usar desta curiosidade como ferramenta de aprendizado, pensará que tantos questionamentos atrasarão seu conteúdo, esquecendo que são os alunos que estão indicando o que deveria fazer parte do programa do professor, de modo que este use tais tópicos como pano de fundo para regras gramaticais, estudo do vocabulário e a formação de orações.


Através da qualidade das perguntas dos alunos, um professor pode perceber o quão desejosos estão para construir o seu conhecimento de língua inglesa e de qualquer outro componente curricular. Não atentar para o fato é decretar um verdadeiro autismo metodológico e pedagógico em sua sala de aula.

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