domingo, 25 de novembro de 2007

Como é o jogo na Escola?

A partir do questionamento da disciplina de Lucididade quanto à freqüência dos jogos na minha Escola, escrevi o texto abaixo, igualmente disponibilizado no fórum.
As exceções existem, claro, e quero crer que sejam inúmeras. Mas no tocante ao jogo, persiste a idéia de uma segunda categoria de atividade dentro da escola em uma escala de valores que coloca as tarefas escritas, e que exigem raciocínio lógico-matemático, no topo das abordagens pedagógicas em sala de aula. À idéia de jogo está ligado o professor de Educação Física, cuja essência do trabalho seria, numa análise superficial, simplesmente jogar, ou a menina estagiária, em tenra idade e que ainda tem energia para o corre-corre exigido por atividades puramente lúdicas. Concluindo tal reflexão exdrúluxa, o jogo seria somente para os professores jovens, para as disciplinas consideradas menos importantes que Matemática – e por vezes, exceto pelo ensino da Língua Portuguesa, parece que todas o são – e para aqueles momentos em que todas as crianças se comportaram merecendo, portanto, ter algum tempo para brincar.
Quais são os jogos mais utilizados em minha Escola? Basicamente existem dois tipos de jogos: jogos competitivos e jogos cooperativos. O primeiro visa a conquista de um lugar de destaque, a superação dos limites para a supremacia de um em detrimento de todos os demais, não importando o quanto PERDEDORES tenham se aplicado ao longo do processo e que o VENCEDOR continue sendo, afinal, apenas um ser humano, ainda que com um troféu a ostentar. Os jogos cooperativos tem como essência a inclusão e promoção de todos, respeitando as potencialidades de cada um, enaltecendo as habilidades e trabalhando competências. Percebendo-os desta forma, a mim parece uma cegueira completa insistir nos primeiros, ano após ano, em nossos currículos. E são estes que estão presentes nas gincanas, nas aulas de Educação Física, nas brincadeiras do recreio, assim como nas propostas de jogos levadas pelos professores das diferentes séries para desenvolver entre as quatro paredes da sala de aula os tais jogos.

Tenho tempo de magistério suficiente para usar a expressão “antigamente” ao me reportar a alguma atividade que vira anos atrás... Portanto, antigamente, os jogos eram reservados principalmente para os dias de chuva, quando os alunos ficavam sem seu intervalo, e algumas brincadeiras eram a maneira de recompensá-los pela permanência ininterrupta em sala. O professor menos preparado, rabiscava algumas linhas no quadro e propunha o jogo da forca ou uma sequência de perguntas de temas diversos para determinar um vencedor no jogo conhecido como STOP. Aquele que se propunha a levar algo mais que giz branco, por vezes tinha à disposição alguns jogos de damas, víspora – naquele tempo era assim mesmo que chamávamos ao contemporâneo bingo – ou alguns quebra-cabeças que “encontrara” dentro de algum armário da Supervisão.

Mas ficamos modernos, e o que já era pouco, precário e praticamente nulo em se tratando de relações inter-pessoais e aprendizagem, foi substituído por 29 polegadas de cor, brilho, contraste e matiz, acompanhado de um dvd geralmente pirata com algum filme ou desenho que nenhuma relação tem com a proposta pedagógica da série, do semestre, do mês, da semana ou sequer do dia daquela turma. É a escola ganhando a sua versão da babá eletrônica número 1 das famílias.

As livrarias de qualidade têm fartura em títulos em dvd os quais propõe atividades inúmeras dentro de temas específicos. Mas aí vem a turma do “não temos verba” e ficamos com o filme de correrias de automóveis e/ou lutas sem fim que um aluno trouxe sem sequer consultar a professora se seria adequado.

Jogar com os alunos cansa, exige disposição física e psicológica, mas principalmente envolvimento com o que se faz e com quem se faz. Quanto estamos comprometidos com nossa tarefa e com nossos alunos, jogamos sim, e o fazemos COM eles, jamais observando-os da sala dos professores enquanto correm atrás de uma bola ou saltam sobre uma corda que gira, gira, gira,... cabum, próximo, pois sai o perdedor. O professor que vê no jogo uma ferramenta de aprendizagem, além de optar pela modalidade cooperativa, é também mais um a jogar, não aquele que dita regras para, em seguida, tornar-se expectador.

Faço justiça com alguns colegas que compartilham a Escola comigo e os parabenizo pelas excelentes propostas de atividades lúdicas cooperativas que norteiam sua práxis. Contudo, o cotidiano de uma maioria, e infelizmente na quase totalidade das escolas públicas e municipais, está voltado para o perder ou ganhar, excluir derrotados e enaltecer o mais rápido, o mais ágil, minando pouco a pouco a tão sonhada motivação interior dos alunos.

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