domingo, 11 de novembro de 2007

Jorge Macchi

Nesta primeira postagem de nova visita à 6ª Bienal do Mercosul, destaco o trabalho de Jorge Machi (Buenos Aires, 1963), o qual utiliza-se do vídeo, recortes de jornais, tecidos, plásticos, vidro e outros materiais para projetar mais que apenas imagens, mas o próprio cotidiano de todos nós. O artista criou inúmeros nichos dentro do Santander, inclusive tendo o cuidado de não permitir que a opulência arquitetônica do mesmo provocasse qualquer conflito entre o visitante e seus trabalhos.

Usando a tecnologia mais presente nos lares, o artista constrói pontes entre a tela de inúmeros aparelhos de televisão e nossas próprias histórias de vida. Esta mesma tv que insiste em aprisionar a vida em tantas polegadas quanto o dinheiro pode transportar para nossos lares. O The End, o fim do filme como obra absoluta. O fim de um filme é justamente o que não se vê. O artista justamente parte desta premissa de que não atentamos para o que vem depois do The End e provoca-nos possíveis questionamentos a partir de metáforas: quantos são os roteiros em que estamos envolvidos no cotidiano e que já tiveram seu final não necessariamente feliz e que, por não prestarmos atenção ao que vem após o The End, estamos a encenar infinitamente, certamente ignorantes a algo que estamos fadados a repetir enquanto fecharmos os olhos para a obra completa. Em nossos relacionamentos, tanto pessoais quanto profissionais, quantas etapas concluímos e reiniciamos justamente porque não estamos atentos ao que se passa?

Machi utiliza-se de tecnologia semelhante em outras obras, algumas de um humor tal que nos faz rir da surpresa que provoca, posto que nos propõe sair do óbvio. Que outra reação possível diante do início de uma projeção multimídia, na qual logo após o título da mesma e do nome do seu diretor (o próprio Machi), uma contagem que se supõe decrescente de 10 até 0 simplesmente insiste em jamais chegar ao zero absoluto, brindando-nos com um filme que, afinal, descobrimos ser a própria seqüência númerica?

O travesseiro em uma parede pode remeter a algo efêmero, como as poucas horas de uma noite de sono. A noite passa de forma rápida e nos fala da efemeridade de nossa sociedade e dos novos valores e objetos de desejo que nossa cultura de massa propõe como indispensáveis. A obra nos diz que o tempo de ontem passou, que o momento presente transcorre muito rápido, assim como em outros nichos somos novamente instigados a pensar sobre o estresse das metrópoles, evidente no corre-corre dos automóveis em uma outra projeção de vídeo, acompanhados por sons incidentais de violino e violoncelo – uma experiência visual e auditiva. Notas musicais estão presentes no asfalto e nas paredes de seu nicho com o globo de vidro, transportando-nos através da memória para um período musical que conheceu seu auge na década de 1970, na instigante Still Song, algo como um filme em negativo, onde o escuro é alvo e a luz provoca rasgos negros nas paredes brancas.

Para o artista, a arte contemporânea pode ser simples. Não se faz necessário complicar ou teorizar para compreendê-la. Instigando nossa percepção e imaginação, Machi mantém as aspas de falas anônimas que poderiam certamente ser de todos nós.

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