domingo, 21 de novembro de 2010

Todos iguais, nem mais, nem menos

QUESTÕES ÉTNICO-RACIAIS NA EDUCAÇÃO: SOCIOLOGIA E HISTÓRIA B

Quando percebi a interdisciplina no currículo do nosso curso, confesso que torci o nariz: seria uma disciplina que ergueria bandeira em favor do movimento negro, de Zumbi, etc e tal?


Nestes tempos de governo popular, diversas bandeiras, algumas legítimas (contra a discriminação é uma delas) outras nem tanto (MST e seus agregados), procuro cuidar muito bem acerca de qual “pendão” erguerei perante uma classe, amigos, colegas, familiares, etc.


Trabalhar com um tema por decreto (e no caso em particular, trata-se de lei) é uma motivação discutível. Não me sinto à vontade falando sobre movimento negro ou dia da consciência negra em sala de aula. Para levar um tema aos alunos e sensibilizá-los a respeito, não temos muitas alternativas: ou se acredita no tema a desenvolver ou se pede que alguém o faça por nós. Particularmente, se não estou muito certo das reais motivações por detrás de uma norma, eu opto por não defendê-la. Se “obrigado” a divulga-la, limito-me a tanto. Hipocrisia jamais combinou com minha práxis.


De todo modo, o artigo “Era uma vez uma menina muito bonita”, de Luciane Leite, começa afirmando que o trabalho “sobre a discriminação racial nas Séries Inicias é ao mesmo tempo um tema indispensável e complexo. (...) Complexo, pois envolve não somente os preconceitos dos alunos/as, mas também dos próprios professores.” Seria eu preconceituoso em relação à raça negra ou cauteloso quanto a todo este alarde que se faz, desde o politicamente correto (e chato) termo empregado para categorizar indivíduos afrodescendentes até a revisão (fora de contexto) de parte da obra de Monteiro Lobato que ousou chamar Tia Anastácia de “macaca”.


Um amigo, negro, me diz que acha um absurdo toda esta questão sobre política de cotas para negros (ou, como queiram os chatos, afrodescendentes), pois, assim como eu, não tem dúvida: tem que resolver a causa do problema, não atacar apenas os sintomas, pois assim sendo nada muda em definitivo.


Eu, sujeito branco (ou, usando de ironia, eurodescendente), que acreditava que a Constituição Brasileira não deixava dúvidas quanto a igualdade entre seus cidadãos perante a lei, agora me deparo com mais uma hipocrisia: todos são iguais, mas se for negro terás privilégios sobre os brancos no concurso vestibular da universidade X ou Y. Quando meu próprio amigo, negro, e seus familiares, não aceitam qualquer argumento – políticas reparatórias, blablabla e o escambau – em favor de cotas e todo e qualquer benefício para alguns, por que eu pensaria que estou errado?


Voltando ao artigo, neste a sua autora descreve os conflitos que observara nos vários espaços da escola. Porém, conflitos ocorrem todos os dias, frutos de preconceito de toda sorte, sendo que o racial é apenas um. A professora, autora do artigo, deveria ter atentado para a postura de asco dos alunos frente aos colegas que demonstram orientação sexual diferente, ou aqueles que não socializam com pobres (independente da cor), ou ainda o quanto sofrem humilhação os alunos obesos, ou os que se vestem mal, além de tantos outros. E não façamos aqui uma escala de sofrimento oriundo do preconceito, algo que já ouvi em certa ocasião, quando alguém afirmava que o preconceito racial doi mais do que todos. Sem comentários!


O que dizer também de uma colega de trabalho que se julgava muito moderna por falar da criação do mundo pela tradição Yorubá? Interessante? Como literatura, sim. Como imposição ou indução de uma ideologia, jamais.


O que eu acredito é em uma sociedade que se construa igualitária, para todos, de qualquer etnia, de qualquer orientação amorosa, de quaisquer medidas (gordos ou magros), de qualquer bairro, ... Que a semana da consciência negra e todos os demais eventos “afro” sirvam para se trabalhar em prol de todos, lembrando que preconceito é um mal do qual padecem todos aqueles que não se enquadram em algum modelo “desejado”, tido como “melhor”, “normal”,...


Referências:


Foto: United Colors of Benetton

Luciane Andréia Ribeiro Leite. “Era uma vez uma menina muito bonita: Uma prática pedagógica relacionada com a questão racial em uma turma de alfabetização.”

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