domingo, 14 de novembro de 2010

Leitura, escrita e oralidade

EIXO 7 – Linguagem e Educação

“(…) as representações de leitura, escrita e oralidade são construídas a partir de determinadas práticas culturais e estruturas sociais e de acordo com as demandas/necessidades da escola, etc.” (DALLA ZEN; TRINDADE, 2002)

Ao pensar em leitura, gosto muito da fala de Chartier, que contextualiza o ato de ler dentro de um universo histórico. Assim, podemos pensar na escrita cuneiforme – a mais antiga que conhecemos – juntamente com a escrita egípcia hieroglífica, não menos expressiva. Ao longo dos séculos, não tivemos uma forma precisa de registro da palavra falada. Os sistemas existentes eram quase todos estruturados na representação da palavra através do desenho. Foi ao final do segundo milênio a.C. que Israel, Fenícia e Aram, com sua importância fortalecida, apresentou e favoreceu uma forma de escrita que, tanto quanto se pode apurar, foi criada na Síria ou Palestina – o alfabeto semítico do norte. Este deu lugar no devido momento ao alfabeto grego, que, por sua vez, sofreu modificações para formar tanto o cirílico quanto o romano.

Sem sombra de dúvida, o registro das memórias da humanidade sofreu grandes transformações com a criação e o domínio da escrita. Há quem afirme que o domínio da escrita representa o acesso a uma elite privilegiada. Mas voltando nosso olhar novamente para a história, encontraremos no século VI a.C os monges copistas. Era um tempo em que entre os laicos poucos detinham o conhecimento da escrita. De todo modo, não podemos igualmente considerar os copistas como criativos, pois sua tarefa era simplesmente copiar textos.

Com a invenção da imprensa, os impressores passaram a rivalizar com os copistas. Para Chartier, (1999, p. 7-8):

(...) um livro manuscrito (sobretudo nos seus últimos séculos, XIV e XV) e um livro pós-Gutenberg baseiam-se nas mesmas estruturas fundamentais – as do codex. Tanto um como o outro são objetos compostos de folhas dobradas um certo número de vezes, o que determina o formato do livro e a sucessão dos cadernos. Estes cadernos são montados, costurados uns aos outros e protegidos por uma encadernação. A distribuição do texto na superfície da página, os instrumentos que lhe permitem as identificações (paginação, numerações), os índices e os sumários: tudo isto já existe desde a época do manuscrito. Isso é herdado por Gutenberg e, depois dele, pelo livro moderno.

E nas escolas de hoje; qual a importância da escrita, da produção textual? Sem dúvida alguma, os educadores devem pensar a escrita como arte, tal como obra de um artista que em uma tela em branco usa de pinceis e tintas para compor uma representação da realidade, do inconsciente, etc. Acredito que o objetivo do planejamento de atividades que envolvam a produção escrita deva pensar formas de tornar o aluno em escritor que pensa seu entorno, propondo estratégias e recursos que o auxiliem a fazer nascerem palavras latentes de forma coerente, coesa e com acuidade de informação.

Como não existe escritor que não seja leitor, pensar na evolução da escrita e nas diferentes formas de registro, nos faz ponderar acerca da leitura digital, a leitura pela tela do computador. As correspondências pessoais, que até então fizeram uso do papel como suporte, agora dividem espaço com uma nova forma: a correspondência virtual. É novamente Chartier quem nova fala acerca deste novo suporte de leitura:

A inscrição do texto na tela cria uma distribuição, uma organização, uma estruturação do texto que não é de modo algum a mesma com a qual se defrontava o leitor do livro em rolo da Antigüidade ou o leitor medieval, moderno e contemporâneo do livro manuscrito ou impresso, onde o texto é organizado a partir de sua estrutura em cadernos, folhas e páginas. O fluxo seqüencial do texto na tela, a continuidade que lhe é dada, o fato de que suas fronteiras não são mais tão radicalmente visíveis, como no livro que encerra, no interior de sua encadernação ou de sua capa, o texto que ele
carrega, a possibilidade para o leitor de embaralhar, de entrecruzar, de reunir textos que são inscritos na mesma memória eletrônica: todos esses traços indicam que a revolução do livro eletrônico é uma revolução nas estruturas do suporte material do escrito assim como nas maneiras de ler.
(CHARTIER, 1999, p. 12-13).

De todo modo, de forma inusitada o texto na tela do computador em muito lembra aquele texto antigo, escrito em rolo. Assim como no antigo suporte, também na tela do computador o texto flui na direção vertical. Trata-se basicamente de um alento àqueles que não querem crer que o advento da leitura no computador possa significar a morte do livro impresso. Se olharmos em retrospecto, sempre que um novo suporte foi adotado não decretou a morte do anterior, mas juntou-se a este de forma a enriquecer o registro das memórias da humanidade.

REFERÊNCIAS:

CHARTIER, Roger. A Aventura do livro: do leitor ao navegador. 2. reimp. Tradução Reginaldo Carmello Corrêa de Moraes. São Paulo: Imprensa Oficial / Editora da UNESP, 1999.

DALLA ZEN, Maria Isabel; TRINDADE, Iole. Leitura, escrita e oralidade como artefatos culturais. In: XAVIER, Maria Luisa Merino (org.). Disciplina na escola: enfrentamentos e reflexões. Porto Alegre: Mediação, 2002. p. 123-133.

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