segunda-feira, 22 de novembro de 2010

AUTISMO

Educação de Pessoas com Necessidades Educacionais Especiais

UNIDADE 5 - AUTISMO



Dentre todas as interdisciplinas do PEAD, certamente esta é uma que não esquecerei, seja pela necessidade de se conversar sobre o tema, seja pela inquietude de nossa professora – uma mestra – em favor daqueles que são vítimas de um desconhecimento e descaso absurdos por parte de significativa parte da sociedade, incluindo neste quinhão nossas “excelências” de todas as esferas do (des) governo: pessoas com necessidades educacionais especiais.


Senti-me honrado em oferecer para nossa professora uma cópia em dvd do documentário Autismo, O Musical. Trata-se de uma obra-prima, sutil, tocante, arrebatadora e... desconhecida do grande público, como quase tudo que tem qualidade.


Tudo começou quando Elaine Hall decidiu deixar seu país, a Rússia, a fim de adotar uma criança, oferecendo-lhe um lar no qual seria amada. De volta ao lar, e já mãe, Elaine depara-se com um diagnóstico de autismo em relação a seu filho, Neal. Em lugar do fácil e previsível enredo melodramático que qualquer filme adotaria, o que percebemos em Elaine é uma incansável busca pelo desenvolvimento das capacidades pessoais não apenas de Neal, mas de outras crianças autistas, posto que ela funda o projeto Miracle (Milagre), no qual é oferecido aos pequenos e jovens elementos de canto, interpretação e dança como processo de tratamento.


O maravilhoso do documentário, é que ele nos permite entrar na vida das famílias de 22 crianças e adolescentes, sem máscaras nem encenações: é a vida real, mesmo, sem as afetações e hipocrisias do estilo denominado reality show. Não se trata de ganhar prêmio algum competindo com outros, eliminando, mostrando o pior do ser humano; o que se pretende é fazer com que, ao final de um semestre, aqueles 22 anjos comuniquem-se com o público através de seus próprios e verdadeiros talentos.


Refiro-me aos autistas como anjos desde que assisti – e aqui faço referência a outra obra de arte que passou à margem da mídia brasileira – a um vídeo de um grupo islandês, de nome Sigur Rós. Os nove minutos de imagens para a música Svefn-g-Englar são comoventes. Todos os personagens do vídeo têm Down. Todos parecem seres angelicais, cobertos com tecido branco, leve, buscando alçar voo em uma planície do país gelado da região ártica. Na primeira vez em que assisti ao vídeo, fui surpreendido com um beijo na tela. Foi quando me lembrei das palavras da professora Daniela: “Eles não são assexuados. Eles também têm desejos.” Confesso que foi desconcertante, mas enternecedor ao mesmo tempo. Aliás, isso é próprio de uma obra-prima: desequilibrar, desacomodar.


Voltando ao autismo, Cleonice Bosa nos faz refletir quando diz que “o autismo é uma síndrome intrigante porque desafia nosso conhecimento sobre a natureza humana. Compreender o autismo é abrir caminhos para o entendimento do nosso próprio desenvolvimento. Estudar autismo é ter nas mãos um ‘laboratório natural’ de onde se vislumbra o impacto da privação das relações recíprocas desde cedo na vida. Conviver com o autismo é abdicar de uma só forma de ver o mundo – aquela que nos foi oportunizada desde a infância. É pensar de formas múltiplas e alternativas sem, contudo perder o compromisso com a ciência (e a consciência!) – com a ética. É percorrer caminhos nem sempre equipados com um mapa nas mãos, é falar e ouvir uma outra linguagem, é criar oportunidades de troca e espaço para os nossos saberes e ignorância. Se a definição de autismo passa pela dificuldade de se colocar no ponto de vista afetivo do outro (um comprometimento da capacidade empática, como diz Gillberg, 1990) é no, mínimo curioso, pertencer a uma sociedade em que raros são os espaços na rua para cadeiras de roda, poucas são as cadeiras escolares destinadas aos ‘canhotos’ e bibliotecas equipadas para quem não pode usar os olhos para ler. Torna-se então difícil identificar quem é ou não ‘autista’.”



Referências:

Citação: Autismo: Atuais interpretações para antigas observações - Cleonice Bosa

Imagem: Divulgação do documentário Autismo, O Musical.

Um comentário:

Dani disse...

Caro Paulo,
Com carinho retorno a teu Portfólio de Aprendizagens e observo o quanto tens investido nas questões que envolvem a Educação Especial e a Educação Inclusiva.
Foi um prazer ter sido tua professora e fico honrada com tua distinção e cuidado ao falar sobre mim.
Saudades,
Profª Daniela