quinta-feira, 10 de setembro de 2009

*Refletindo o papel da EJA*

Vivemos sob a égide da competitividade, quase que imersos em uma compulsão inconsciente (?) do sucesso a qualquer preço. Somos ao mesmo tempo vítimas e algozes em uma cultura de consumo e descarte, tanto do material, do imaterial e de nossos pares. No caso de seres humanos, usa-se (quando conveniente), ignora-se (ao tornar-se desnecessário) e exclui-se (quando almeja o que parece ser apenas nosso). Deste modo, vemos nascer e ampliar-se uma camada da sociedade alijada dos mínimos direitos, em favor da ávida apropriação de bens culturais, sociais, econômicos e políticos por outra, grafológica e autodenominada culta por excelência e exclusividade.
Tal estigma social, tão presente que se torna impossível não percebê-lo em nossa volta, lembra-nos que temos uma divida social para com todos aqueles que deixaram de frequentar a escola em função de escorchantes necessidades que determinara de forma ultrajante: permanecer na escola significava não sobreviver.

Evadido da escola e excluído de uma sociedade que o coisificara, explorando-o de forma indigna enquanto mão de obra barata, quando não compelindo-o à atividades ilícitas, é este o aluno que busca na EJA um termo para tamanho ultraje social. É este abismo social entre iletrados e uma sociedade grafocêntrica que a EJA almeja reparar. A apropriação de códigos escritos é de uma valor tamanho que desacomoda o indivíduo, estimulando-o a fomentar ferramentas intrínsecas a uma abordagem qualificada em seu cotidiano social e profissional. Inegavelmente, a apreensão tanto da leitura quanto da escrita desdobra-se em um leque de resultados muito particular em cada docente, mas todos agregam à sua auto-estima a percepção de que se está a reverter uma lógica capitalista e desumanizadora. Passando a negar uma pretensa e triste fatalidade pessoal, conquistam o que estivera presente apenas àqueles cuja sobrevivência não depreende da força de trabalho quando deveriam frequentar uma instuição de ensino.

O pressuposto da criação da EJA não é oferecer ao indivíduo uma salvaguarda dos estigmas causados por anos de expropriação de sua cidadania, mas despertar neste mesmo indivíduo o princípio intrínseco da igualdade.

Ao oferecer mais do que alfabetização, a EJA pensa seu fazer pedagógico pelo viés da participação docente nos espaços políticos, folclóricos e culturais, promovendo paulatinamente seu acesso a bens reservados, até então, somente aos iniciados e, obviamente, alfabetizados. Estabelecida uma relação equitativa nesta sociedade da qual faz parte, a acomodação e o já citado fatalismo não mais fazem parte das opções conscientes de nossos alunos.

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