quinta-feira, 2 de abril de 2009

Reflexão inicial de semestre



Cada encontro presencial tem sido uma surpresa, não é mesmo? Gostaria de destacar dois assuntos que particularmente sempre considerei difíceis ou desinteressantes de trabalhar e/ou refletir e que, após os encontros, ganharam uma nova face para mim. Cito quais e explico a razão para a mudança...


O primeiro é a questão racial. Nunca foi de meu interesse estudar a respeito. Tem quem erga bandeiras em praça pública, mas esconde seus preconceitos (de todo tipo) em seu íntimo. Sempre optei pelo não-preconceito nas pequenas ações do cotidiano, evitando comentários e posturas preconceituosas. Foi então que chegou aquela professor de nome Fernando e que me fez lembrar o que é ministrar um show de aula. E ele não ofereceu um espetáculo no sentido pirotécnico, pelo contrário. Refiro-me a seu carisma, conhecimento e sensibilidade para sentir o momento dos seus alunos, deles arrancando que "não é feio" admitir que acha este um assunto enfadonho. E o resultado particular: fez com que eu abrisse espaço para o tema em minha vida de professor e aluno.


É que o professor tocou num ponto importante, mesmo sem expor tão explicitamente o que afirmo: de nada adianta um tema ser lei (a qual nos orienta a trabalhar sobre questões raciais em sala de aula), se os professores não se sentem motivados a explorá-lo. Tanto podem sequer tocar no assunto, e sabemos que vai ficar nisso mesmo, quanto entregar uma folhinha com algum texto e desenhos e, absurdo igual, consideram que o assunto foi trabalhado, como se o tema tivesse a importância de um feriado de carnaval para o ano letivo. Parabéns por me fazer refletir, professor.


Outro tema diz respeito às necessidades educacionais especiais. No meu wiki contei o que já vivi (pouco, mas significativo para mim). Este me parecia outro daqueles alertas do SSE tipo "agora tem que ser feito porque tem um decreto tal que obriga" e que, por este motivo, já começa errado. A professora Daniela, com toda a propriedade, conhecimento e, por que não, mão firme, instigou-me a pensar com profundidade acerca do aluno portador de deficiências. E gostei muito quando, na aula de terça, dia 31 de março, ela me ouviu comentar - baixo - que "para que esses pudores em falar a palavra deficiências?" se quando usamos o termo não é para machucar alguém. No mesmo instante e sem estardalhaço, apenas olhou-me diretamente e disse "isso". Soou como uma confirmação de que eu estava, na minha opção pela transparência, acertando nas primeiras decisões acerca de um assunto tão difícil para quem nele adentra pela primeira vez.


Quando me referi que "não está errado dizer a palavra deficiente na nossa sala" é porque é totalmente diferente de olhar para alguém com vários quilos a mais do que orientam os nutricionistas e dizer "seu goooooordo", ou para um deficiente visual e caçoar com apelidos como "e aí pirata, tudo bem?". Do mesmo modo não estou pregando que, a partir de agora, quando estivermos conversando com os colegas de um novo aluno que chega o apresentemos como "pessoal, este é o Paulo, ele é deficiente." Este ponto final após o termo "deficiente" seria de matar (matar a professora e a auto-estima do colega novo). Não daria apenas para dizer que ele usa uma cadeira de rodas (cadeirante segue um termo que AINDA soa desejoso de ser politicamente correto mas virou quase palavrão)? A bem da verdade, se a professora parar por aí, ou seja, apenas dizendo que o Paulo usa cadeira de rodas, estando o Paulo a seu lado e na frente dos alunos, supõe-se que ou o Paulo deixou a cadeira em casa e veio planando (e por isso a turma precisa ser informada a respeito) ou que a professora trabalha apenas com alunos deficientes visuais.


Aprecio os termos que não machucam, também conhecidos como politicamente corretos. Sou 100% a favor. Entretanto, que ninguém em nossas escolas venha policiar-me quando eu utilizar "fulano é deficiente visual", porque a palavra deficiente pode ferir sua auto-estima. O que fere DE FATO alguém é o descaso alheio, é o sentir que os outros fazem de conta que se importam, é notar que sempre fica para depois o seu momento, é perceber, enfim, que todo o seu entorno afirma cotidianamente que quem deve se adaptar é o ser humano, jamais as instituições, as máquinas, os costumes e, óbvio, os demais seres humanos.


Para concluir, um protesto dirigido a todos aqueles que usam aspas ao falar "normal" ou, pior, cansam a atenção de seu ouvinte ao chamar os não portadores de deficiência de "ditos normais". Agora eu me tornei um "dito normal". Não tenho deficiência visual, auditiva, cerebral, ... nenhuma. Por isso, tornei-me um "dito normal" quando se referem a mim. Ou será que ninguém ainda escutou (ou falou) algo como "na sala da turma 21 tem dois alunos com deficiência auditiva. Mas todos os outros, ditos normais, ajudam os coleguinhas nas tarefas." (?) Não daria apenas para retirar o "ditos normais"?


Politicamente correto: SIM. Zeloso para com o outro: SIM. Cuidadoso com as palavras: APOIADO. Mas sem excessos por parte de nenhum de nós.

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