domingo, 5 de abril de 2009

Preconceitos Legitimados Cientificamente


"A proposta inclusiva, apesar da ênfase na atenção ao aluno, no respeito à diversidade, não deixa de ter como objetivo último aproximar da normalidade, o máximo possível, todos aqueles que se distanciam de um padrão esperado." Marcia Imaculada de Souza - Pesquisadora pela CAPES

No fórum de Educação de Pessoas com Necessidade Educacionais Especiais lancei um questionamento, aceito, para os integrantes do grupo: o que significa o termo encontrado em nossas leituras: preconceitos legitimados cientificamente.

No momento em que deparei-me com a expressão, realmente não tive um significativo alcance de seu significado e abrangência. Obviamente fui pesquisar a respeito e percebi que ainda estão presentes em nossa sociedade várias posturas legitimadas.

E foi em um artigo da pesquisadora supra citada que encontrei argumentos extremamente convincentes acerca do papel da psicologia e das ciências como um todo no estabelecimento e na garantia de padrões de normalidade para cada época.

A igreja e a psicologia, sempre estabeleceram parâmetros de normalidade e moralidade, os seja, o que seria aceito perante Deus e numa convivência em sociedade. Os exemplos estão presentes em toda parte de nosso cotidiano, como nestes dois casos muito próximo, mas com um detalhe que os diferencia:


a) A professora de 40 anos (ou mais) que se vê diante da pergunta – a senhora não casou por quê? – percebe o estranhamento no semblante de quem lhe dirige tal questionamento;
b) Para uma mesma situação, o professor de uma mesma faixa etária e homossexual, percebe que se acrescenta ao constrangimento de uma questão tremendamente pessoal uma possibilidade de vir a ser revelado – caso ele tenha optado por manter-se discreto a respeito – o que pode reverter-se em contínuas razões para chacotas, todas amparadas por um preconceito legitimado cientificamente. 

Até a década de 1980, a homossexualidade ainda figurava como doença para a OMS (para algumas igrejas, ela continua sendo tratada como tal, para dizer o mínimo) e, portanto, era cientificamente justificável, para uma maioria, que os homossexuais fossem discriminados.

No caso das doenças mentais, o mesmo se aplica. Tanto a denominação – doença mental – quanto a forma de encará-las e oferecer pesquisa, tratamento e aceitação do portador é resultado de uma construção histórica. É imprescindível nos inteirarmos da psicologia e da sua história, pois sua prática é sempre observada quando se toma decisões tanto na área pedagógica quanto na criação de inúmeras normatizações que regem nossa prática. 

As ciências humanas historicamente tiveram por papel prever processos tanto de uma sociedade quanto do indivíduo, novamente para legitimar, cientificamente, o que era do interesse de alguns. De uma maneira bem simples de entender: soa como se a psicologia e as ciências sociais pregassem que alguns indivíduos – a burguesia da época – têm condições de se desenvolver mais e melhor, enquanto outros – o proletariado – não carrega em si semelhante bagagem genética, cultural, social, etc. E estava “explicada” a desigualdade. 

Sob uma ótica positivista, tanto as ciências (e aqui entenda-se também a psicologia) quanto a educação acabam por definir quem pode ou não avançar a um estágio seguinte, pois para ambas os indivíduos precisam se adequar, ou não há qualquer garantia de sucesso. Eu perguntaria: mas e para quem existe esta garantia hoje em dia? 

Penso que houve mudanças na forma como nos relacionamos com as deficiências, mas não se alteraram os padrões de normalidade. E quando se fala em aceitação – termo extremamente preconceituoso – ou inclusão, por vezes temo que se esteja a pintar a dura realidade com cores que apenas tornem o quadro mais palatável. Os negros, os homossexuais, os deficientes, etc, permanecerão sob a égide do não pertencimento, se pobres, bem entendido. 

2 comentários:

Geny disse...

Caro aluno Paulo Assis Medeiros sempre é uma satisfação visitar o seu portfólio.
Que bom que os encontros presenciais despertam as suas reflexões que são profundas, coerentes e interessantes. Acredito que o professor vai ficar muito feliz em ter contribuído na área de dois assuntos relevantes e difíceis de ser tratados como: a questão racial e as às necessidades educacionais especiais.
“Por isso, tornei-me um "dito normal" quando se referem a mim. Ou será que ninguém ainda escutou (ou falou) algo como "na sala da turma 21 tem dois alunos com deficiência auditiva. Mas todos os outros, ditos normais, ajudam os coleguinhas nas tarefas." (?) Não daria apenas para retirar o "ditos normais"?”( Medeiros Paulo)
“E quando se fala em aceitação – termo extremamente preconceituoso – ou inclusão, por vezes temo que se esteja a pintar a dura realidade com cores que apenas tornem o quadro mais palatável. Os negros, os homossexuais, os deficientes, etc, permanecerão sob a égide do não pertencimento, se pobres, bem entendido.” (Medeiros Paulo)
As suas colocações merecem serem questionadas!
Registro aqui o agradecimento de suas preciosas ajuda aos colegas que não dominam muito bem a tecnologia.
Um grande abraço
Geny Schwartz da Silva
Tutora seminário Integrador VI
PEAD/FACED/UFRGS

Rosária disse...

Olá colega! Estou com saudades das nossas conversas... mesmo à distância! Qualquer dia de uma passadinha no meu BLOG! Hoje estou te visitando para fazer um comercial... da Professora Luciane Corte Real ela agora é responsável pelo seminário Integrador aí no teu Pólo! Ela é DEZ!!! Nos auxiliou muito na construção do Projeto Temático no semestre passado e agora está revisando nossos trabalhos para apresentação no Salão EAD. Que sabe nos encontramos lá? Feliz Páscoa! Um abraço! Rosária - Pólo de Alvorada