quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Reflexão-síntese



Estamos praticamente concluindo mais um semestre. Este segundo de 2008 convidou-nos a pensar a escola, seus atores, dinâmicas e mantenedores. Pensar os espaços de discussão, a gestão da instituição e as formas como ocorrem as relações de responsabilidade.

E neste momento de reflexão, percebo o quão distante minha Escola encontra-se de colocar em pauta (no currículo) questões que estão presentes em seu cotidiano, mas seguem encobertas por um manto de cinismo, hipocrisia e medo.

  • Temos dependentes de drogas, mas opta-se por falar nas drogas, não no ser humano;
  • Temos homossexuais, mas seguimos ouvindo risadinhas, difamações e toda a sorte de comentários próprios de um ambiente qualquer, menos pedagógico;
  • Temos os "incluídos", os quais permanecem "aliens" enquanto não se tem bem claro o que se faz com este (e neste) novo perfil de escola;
  • Temos ex-detentos, os quais freqüentemente são apontados como bandidos e não como colegas de classe;
  • Temos prostitutas, as quais permanecem à sombra e caladas, mesmo sob a forte iluminação artificial das salas de aula;
  • Temos adolescentes entre crianças, os quais são alvo de comentários de pais indignados com a "má influência" destes para com seus filhos;
  • Temos denúncias quase que diárias de que armas circulam dentro da Escola, mas seguimos lecionando sob a égide do medo, fingindo não sentí-lo, afirmando que isso é normal.. normal?

Minha Escola tem gestão democrática, recursos excelentes, uma equipe que admiro, alunos com os quais tenho excelente relacionamento,... mas ainda tem muito a agregar em seu currículo, principalmente ousadia e coragem.

domingo, 23 de novembro de 2008

Contadores de Histórias


Tendo participado da formação promovida pela UNESCO, Museu da Pessoa e Educarede, nossa Escola está engajada na campanha Toda Escola Tem História Para Contar.

O vídeo a seguir é apenas uma pequena parte do que já foi feito no Áurea. São histórias de vida que precisam ser conhecidas. Ou você poderia imaginar que leite materno misturado em um determinado produto deixaria o cabelo de nossa contadora de histórias com um brilho magnífico?

Estas e outras histórias abaixo...

Vídeo com alunos da Escola


Toda Escola Tem História Para Contar from Paulo Medeiros on Vimeo.

Campanha TODA ESCOLA TEM HISTÓRIA - As imagens

Dia da Consciência Negra

Alunos cantam: "Morena de Angola que leva o chocalho amarrado na canela, será que ela..."


Raramente trabalhamos, em minha Escola, de forma isolada, com cada professora em sua sala de aula e alheio ao que ocorre nos demais componentes curriculares. Neste dia 20 de novembro - Dia da Cosnciência Negra - não adotaríamos outra postura senão a prática interdisciplinar.

No trabalho interdisciplinar, tem-se um eixo integrador, a partir do qual as diferentes áreas do conhecimento trabalho com o intuito de atingir objetivos previamente estabelecidos.
Professores que coordenaram os trabalhos na Escola

O que se viu por ocasião das exposições foi um imenso número de trabalhos, desde bolos servidos a todos que visitavam os estandes, assim como maquetes, máscaras, painéis, cartazes, números da dança, músicas, entre outros.

Máscaras africanas representadas em painéis

Percebo que nossa Escola já fez sua opção pedagógica, na qual busca fugir de um currículo fragmentado e engessado (inflexível), tornando suas ações portas para a construção da aprendizagem de forma orgânica, participativa, dinâmica e significativa.

A população negra: utilização de pet, papéis diversos, madeira, lã, etc.

Toda Escola Tem História Para Contar


Neste sábado, 22 de novembro, ao longo de todo o dia nossa Escola sediou um encontro para contadores de histórias. Contudo, não se tratava apenas de reunir pessoas para contar qualquer história... Mas a sua história!


Com o mote Toda Escola Tem História Para Contar, a EMEF Áurea Celi Barbosa, em Gravataí, recebeu professores, oficineiros e funcionários de várias escolas do município, além da Secretária de Educação e parte da equipe da SMED.

Particularmente, foi uma alegria encontrar a professora Hilda Jaqueline de Fraga (foto abaixo), a qual nos brindava com magníficas aulas e propostas de pesquisa no PEAD. Senti-me honrado por trabalhar a seu lado no lançamento desta campanha, a qual visa resgatar em cada membro da comunidade escolar sua própria historicidade.

Logo na abertura dos trabalhos, chamei a atenção para o fato de não nos reportarmos a uma história patrimonial de nossas escolas. Tal postura desacomoda-nos daquela posição de platéia, a qual assiste à paredes que são erguidas, janelas dispostas aqui e ali, portas, dependências em geral. Estamos a contar a história de cada um de nós, na medida que somos parte de nossas escolas, somos nós que a constituímos. Deixem professores, pais, funcionários e alunos de freqüentar a escola e o que teremos? Nada mais, exceto o patrimônio físico erguido por determinada administração.


Neste sentido, de antemão havia desenvolvido com meus alunos a técnica da roda de histórias, na qual cada um relatou uma história vivenciada e que muito o marcou. Os resultados (os "produtos") foram um varal de histórias e uma coletânea de vídeos em DVD, a qual abriu o encontro.



Com o apoio da UNESCO, do Museu da Pessoa e da SMED, nosso projeto justamente busca trazer à tona histórias sufocadas pelo anonimato, posto que vivemos numa sociedade afeita em demasia ao culto de celebridades e suas histórias sempre repetitivas, as quais com insuportável freqüência giram em torno de dietas mirabolantes, ilhas, separações e casamentos quase que ao vivo, em rede nacional de televisão.


Entendendo a escola como "espaço eleito socialmente de produção e socialização dos saberes de uma sociedade" (Educarede), este é um projeto que reconhece, resgata e valoriza a história (o conhecimento) de cada personagem deste espaço.

sábado, 15 de novembro de 2008

Fórum de Organização e Gestão da Educação




A você que chegou até aqui, duas perguntas:
1. Qual o grau de insegurança que você experimenta em seu local de trabalho?
2. As seguidas reportagens de violência nas escolas que a TV exibe já bateram à sua porta ou, pior, em sua face?

Com uma certa freqüência, a televisão tem mostrado cenas de violência contra professores e uma flagrante impunidade favorecendo os alunos agressores. Ainda que amparados por lei, a qual pode inclusive privar da liberdade o agressor, o professor parece ignorar que seu silêncio, apatia e anuência alimentam aquele que o fere.


Imaginem os colegas o que é estar em uma sala de aula, com um número considerável de alunos, sabendo que qualquer um pode estar com uma arma. Esta foi a atmosfera de trabalho em minha Escola nesta semana. Em retrospecto, foi a semana mais difícil em duas décadas de magistério sob minha ótica particular. O quão mexe na psique de um professor o aviso de que chegou uma denúncia nada anônima na Escola (foi feita presencialmente) de que VÁRIOS alunos entraram armados naquele horário para vingar um amigo que fora agredido na véspera? Podem estar certos que mexe, e muito, com o emocional de qualquer um.


Fomos para as salas com um estranhamento que, sabemos, tem nome: inadequação. Uma miríade de sentimentos tal que, em resumo, afirmo: estávamos com medo e, ao mesmo tempo, indignados. Meu planejamento para aquela noite era o trabalho com adjetivos (em inglês), utilizando fotografias de revistas, as quais os alunos colariam no papel pardo, escrevendo ao lado qual o adjetivo que tal imagem evocava.


Cada um aqui no PEAD sabe o quanto nos preocupamos com nossos alunos, a ponto de dar prosseguimento ao planejado, sem revelar-lhes que seus professores trabalhavam sob a égide do medo. Mas medo de quê? Ora, medo da morte – bala perdida não faz distinção de caráter, não separa aluno, professor e bandido.


Mas tínhamos orientação clara da equipe diretiva de avisarmos os alunos a respeito, algo que optei por fazer mais para o final da aula, enquanto a direção chamava a Brigada (que não veio) e a Guarda Municipal, a qual nos atendeu prontamente. A quem não passou por tal experiência – trabalhar com a certeza de que alunos estão com armas em seus bolsos imensos nas suas calças largas (uma espécie de uniforme entre eles, o qual os identifica de algum modo) e sair da escola escoltado pela Guarda – posso assegurar que revolta tremendamente.


Ao amanhecer, a Brigada procurou por armas ao redor da Escola. Repito: ao amanhecer, ou seja, horas e horas depois.


Na noite seguinte a denúncia repetiu-se. Novamente aquela sensação de impotência e desamparo, de pouco caso por parte do empregador, para os quais somos quase nada além de um mero número de matrícula para fins de folha de pagamento. Enquanto nos preparávamos para deixar a Escola, após o horário regular das aulas, ouvimos três disparos. Poucas quadras além da Escola tentaram balear um aluno. A bem da verdade, alunos X alunos.


Não sei se meu retorno na noite seguinte foi por garra, determinação ou força, como alguns aqui afirmam ser características do educador. Talvez tenha sido apenas um misto de responsabilidade (em função dos alunos) com necessidade (em função do emprego) e insensatez (definitivamente teve muito de insensatez). Colegas confessaram estar medicados com ansiolíticos, tranqüilizantes, além de toda a espécie de chás que prometiam alguma serenidade interior. Mas a noite nos reservara uma verdadeira selvageria após soar o sinal do término das aulas: alunos, revoltados com um pai que bateu no enteado, e que também é aluno, armaram uma emboscada, com o objetivo de passar-lhe uma lição como jamais vira.


Impossível descrever a gritaria, o som dos socos, os ruídos de toda espécie provocados por pancadas, chutes, pauladas e, felizmente, nenhum tiro. Eu e meus colegas estamos extremamente chocados com o ocorrido. E o empregador?


Uma colega do PEAD - Carmem Valéria - em postagem anterior a minha pedia autorização dos colegas para levar ao Sindicato que representa os professores de Gravataí as nossas falas. Valéria afiançava que resguardaria a autoria das mesmas, algo que em meu caso particular dispenso. Eu acato totalmente a sugestão de tornar as postagens do fórum uma denúncia. Vou além: penso que o fórum em questão deveria ser um permanente espaço de trocas, pois as máscaras caíram todas ao longo de páginas que não cessam de ser acrescidas. Não li sequer um único blábláblá, verborragia desnecessária quando o que se almeja é a transparência.


Dada a importância do conteúdo do conteúdo do fórum, acredito nele como ponto de partida para uma publicação. Gasta-se tanto em livros tão ruins, vazios, e que nenhuma relação guardam conosco, que um livro sobre o cotidiano desnudo da educação, escrito por quem está na linha de frente (não apenas em gabinetes herméticos), está mais do que na hora de ser disponibilizado.

O tempo de cada um




Grupos são dinâmicos, definitivamente dinâmicos e distintos. A experiência no desenvolvimento de um tema em grupo traz movimentos de toda sorte, posto que as pessoas envolvidas têm motivações em diferentes graus e disponibilidade de horários que nem sempre estão sob sua tutela.


Ainda que a motivação em torno de um tema nos aproxime, o desenvolvimento do trabalho mostra ser necessário bem mais que uma simpatia pelo tema. Comprometimento com o trabalho e para com os próprios colegas complementam este alicerce indispensável no desenvolvimento de um projeto de aprendizagem.

Cientes de que os maiores dentre os objetivos são justamente a forma de trabalho e o comprometimento de cada integrante aos acordos previamente estabelecidos, o desenvolvimento do tema dá-se de modo que cada um assuma diferentes papéis, mas ainda assim trabalhando em torno de um foco comum.


Esta descentralização proporciona ora tranqüilidade ora apreensão por uma certa morosidade por parte de algum colega, o que não é difícil que venha a ocorrer. É assim que redescobre-se, neste momento, a importância de respeitar os tempos de cada pessoa. Enquanto um determinado elemento do grupo não espera qualquer cobrança ou sinalização do que necessita ser feito, convive-se com outro que não conhece exatamente o ponto de partida. É a saudável pluralidade, que nos cobra serenidade, compreensão e humildade.


Indispensável ter interiorizado que se respeitará o momento de cada colega, posto que as pessoas têm tempos diferentes. Não me refiro à diferentes cargas horárias, mas a distintos insights que nos assolam em etapas diferentes de um mesmo trabalho. Cada um pode experimentar o quanto a motivação, a persistência, o olhar crítico sobre um determinado material e o tempo disponibilizado para a pesquisa são determinantes para a qualidade do trabalho. Nada pior que acessar o resultado de uma extensa pesquisa e não se enxergar enquanto membro ativo no resultado ali publicado. Em contrapartida, um comentário assertivo que foi aproveitado, um link sugerido que possibilitou uma linha investigativa em inúmeras outras fontes ou uma despretensiosa fala que inspirara a criação de toda uma página no wiki, são diferentes formas de agregar valor ao projeto desenvolvido e que alimentam aquele que se permitiu tal movimento.

sábado, 8 de novembro de 2008

Projeto de aprendizagem - Depressão



Quando pensei a respeito das conclusões para o projeto de Psicologia, imediatamente ponderei, no wiki, sobre as considerações finais a respeito do tema escolhido. Entretanto, ao receber o e-mail da professora Simone, ficou claro que o caminho a seguir neste momento quase final do semestre é bem distinto.


Olhar para a justificativa do projeto e os objetivos estabelecidos, analisando se os mesmos foram contemplados, é o chamamento que nos foi feito. Pensar acerca das descobertas que o trabalho proporcionou aos integrantes do grupo, e não necessariamente em tecer um texto que represente um apanhado do wiki, esta sim é uma excelente proposta para reflexão.


Como acredito que optamos por um tema em função de familiaridade ou curiosidade em relação ao mesmo, a escolha por DEPRESSÃO levou-nos a procurar entender o que exatamente ocorre com aquele que se vê acometido por tal doença.


Nosso grupo destacou o que realmente é a depressão, diferenciando-a de tristeza. Pesquisamos os processos que a desencadeiam, assim como os sinais (sintomas) presentes em um indivíduo deprimido, com nuances de pessoa para pessoa. Notamos ser necessário ouvir tanto paciente quanto terapeuta, o que nos motivou a entrevistar ambos. Disponibilizamos ainda vídeos, dicas de livros e filmes que abordam o assunto. Por fim, destacamos os tratamentos indicados, mas cientes de que há uma gama ainda maior, porém pouco divulgada na mídia e nos meis acadêmicos: yoga, acupuntura, entre outras terapias não por acaso chamadas "alternativas."


A depressão, concluímos, afeta as atitudes do deprimido e as relações com as pessoas a seu redor, posto que a família como um todo adoece com seu ente querido. A doença afeta igualmente relações profissionais e afetivas, dado que altera o humor, o físico e o pensamento de quem se vê em estado depressivo.