sábado, 15 de novembro de 2008

Fórum de Organização e Gestão da Educação




A você que chegou até aqui, duas perguntas:
1. Qual o grau de insegurança que você experimenta em seu local de trabalho?
2. As seguidas reportagens de violência nas escolas que a TV exibe já bateram à sua porta ou, pior, em sua face?

Com uma certa freqüência, a televisão tem mostrado cenas de violência contra professores e uma flagrante impunidade favorecendo os alunos agressores. Ainda que amparados por lei, a qual pode inclusive privar da liberdade o agressor, o professor parece ignorar que seu silêncio, apatia e anuência alimentam aquele que o fere.


Imaginem os colegas o que é estar em uma sala de aula, com um número considerável de alunos, sabendo que qualquer um pode estar com uma arma. Esta foi a atmosfera de trabalho em minha Escola nesta semana. Em retrospecto, foi a semana mais difícil em duas décadas de magistério sob minha ótica particular. O quão mexe na psique de um professor o aviso de que chegou uma denúncia nada anônima na Escola (foi feita presencialmente) de que VÁRIOS alunos entraram armados naquele horário para vingar um amigo que fora agredido na véspera? Podem estar certos que mexe, e muito, com o emocional de qualquer um.


Fomos para as salas com um estranhamento que, sabemos, tem nome: inadequação. Uma miríade de sentimentos tal que, em resumo, afirmo: estávamos com medo e, ao mesmo tempo, indignados. Meu planejamento para aquela noite era o trabalho com adjetivos (em inglês), utilizando fotografias de revistas, as quais os alunos colariam no papel pardo, escrevendo ao lado qual o adjetivo que tal imagem evocava.


Cada um aqui no PEAD sabe o quanto nos preocupamos com nossos alunos, a ponto de dar prosseguimento ao planejado, sem revelar-lhes que seus professores trabalhavam sob a égide do medo. Mas medo de quê? Ora, medo da morte – bala perdida não faz distinção de caráter, não separa aluno, professor e bandido.


Mas tínhamos orientação clara da equipe diretiva de avisarmos os alunos a respeito, algo que optei por fazer mais para o final da aula, enquanto a direção chamava a Brigada (que não veio) e a Guarda Municipal, a qual nos atendeu prontamente. A quem não passou por tal experiência – trabalhar com a certeza de que alunos estão com armas em seus bolsos imensos nas suas calças largas (uma espécie de uniforme entre eles, o qual os identifica de algum modo) e sair da escola escoltado pela Guarda – posso assegurar que revolta tremendamente.


Ao amanhecer, a Brigada procurou por armas ao redor da Escola. Repito: ao amanhecer, ou seja, horas e horas depois.


Na noite seguinte a denúncia repetiu-se. Novamente aquela sensação de impotência e desamparo, de pouco caso por parte do empregador, para os quais somos quase nada além de um mero número de matrícula para fins de folha de pagamento. Enquanto nos preparávamos para deixar a Escola, após o horário regular das aulas, ouvimos três disparos. Poucas quadras além da Escola tentaram balear um aluno. A bem da verdade, alunos X alunos.


Não sei se meu retorno na noite seguinte foi por garra, determinação ou força, como alguns aqui afirmam ser características do educador. Talvez tenha sido apenas um misto de responsabilidade (em função dos alunos) com necessidade (em função do emprego) e insensatez (definitivamente teve muito de insensatez). Colegas confessaram estar medicados com ansiolíticos, tranqüilizantes, além de toda a espécie de chás que prometiam alguma serenidade interior. Mas a noite nos reservara uma verdadeira selvageria após soar o sinal do término das aulas: alunos, revoltados com um pai que bateu no enteado, e que também é aluno, armaram uma emboscada, com o objetivo de passar-lhe uma lição como jamais vira.


Impossível descrever a gritaria, o som dos socos, os ruídos de toda espécie provocados por pancadas, chutes, pauladas e, felizmente, nenhum tiro. Eu e meus colegas estamos extremamente chocados com o ocorrido. E o empregador?


Uma colega do PEAD - Carmem Valéria - em postagem anterior a minha pedia autorização dos colegas para levar ao Sindicato que representa os professores de Gravataí as nossas falas. Valéria afiançava que resguardaria a autoria das mesmas, algo que em meu caso particular dispenso. Eu acato totalmente a sugestão de tornar as postagens do fórum uma denúncia. Vou além: penso que o fórum em questão deveria ser um permanente espaço de trocas, pois as máscaras caíram todas ao longo de páginas que não cessam de ser acrescidas. Não li sequer um único blábláblá, verborragia desnecessária quando o que se almeja é a transparência.


Dada a importância do conteúdo do conteúdo do fórum, acredito nele como ponto de partida para uma publicação. Gasta-se tanto em livros tão ruins, vazios, e que nenhuma relação guardam conosco, que um livro sobre o cotidiano desnudo da educação, escrito por quem está na linha de frente (não apenas em gabinetes herméticos), está mais do que na hora de ser disponibilizado.

8 comentários:

Jurema disse...

Oi Paulo o pior medo é ter medo do medo.Vivemos numa incerteza a cada dia está pior não só a violência das chamadas gangs,mas o pior que é o descaso com o magistério.Prova disso é a declarada greve do magistério.Rogo á Deus que chega a um lugar pois aos poucos serão as torturas psicológicas como ponto cortado,décimo terceiro e tantas que nenhum ser humano que tenha responsábilidades com sua família e conta vai aguentar levar adiante uma greve quede direito passará ser uma pressão.Recente passei por uma tortura psicológica com um aluno e como é menor nada foi feito,pois aos olhos dos ditos Conselheiros Tutelares nós adultos é que temos que saber esgotar todas as possibilidades pedagógicas para educar esse aluno.E por ai vão os discursos ficaria aqui muito mais.Somos todos solidários com vocês e o Fórum de Organização foi a forma de por os bichos para fora.Pena que quem deveria ler esses Blogs e Fóruns não vão ter essa oportunidade.Um grande abraço que Deus Proteja como dizem os pequenos:"Jesus toma conta".Abraços.

Marga Canabarro disse...

Parabéns Paulo pela denúncia. Sou solidária a você, seus colegas e alunos! Vejo todos (nós) como vítimas dessa sociedade que não valoriza mais o ser humano, que deixa suas crianças crescerem no mais completo abandono, onde falta desde o amor e o alimento até o limite. Não sei se eu aguentaria a pressão que vocês estão vivendo aí. Desejo muita força e coragem para todos! Um abraço.

Unknown disse...

Olá colega! Podes ter certeza que tua escola não é a única a passar por situações tão tristes. Na escola onde trabalho, periferia de Porto Alegre, a brigada é chamada diariamente. Alunos são assaltados no pátio, isto em plena luz do dia. Dias atrás,a vice diretora do turno da tarde foi ameaçada, em sua sala, por um homem armado com um 38. Dizia estar chateado pois havia sido denunciado pelo furto dos fios de luz do prédio onde funciona turminhas de primeiro ano. Por sorte, um colega conseguiu convencê-lo a não puxar o gatilho, prometeu a ele que a denúncia seria retirada. No dia 14 de outubro, véspera do dia do professor, uma colega, que trabalha com terceira série do ensino fundamental,foi vítima de agressão física e verbal dentro da sala de aula, pela mãe e avó de um de seus alunos. Motivo: a colega disse a elas, no dia anterior, que o menino estava apresentando dificuldades e precisava estudar mais em casa. Em uma escola próxima, uma colega foi levada para o HPS, depois de ter sido ameaçada de morte por um aluno de 15 anos, 5ª série.
Triste situação é a nossa! Para aguentarmos tudo isso é preciso muita teimosia mesmo!
Um grande abraço!

Rosária disse...

Olá Paulo, concordo contigo que o Fórum da disciplina de Gestão está sendo um espaço de trocas intensas! Bem com relação a situação de medo, infelizmente é uma realidade em nossas escolas, a polícia não atende aos chamados. O Conselho Tutelar só tenta amenizar a situação. Resultado quem quiser que "Dê o primeiro passo"... E sempre sobra para os educadores... A déia da publicação é ótima. Que tal uma enquete sobre este assunto. Um abraço. Rosária

Maria Bernadete disse...

Olá, Paulo!
Concordo quando diz que o espaço que estamos tendo para expor nossas idéias na interdisciplina de Gestão está sendo muito bom. Quanto a violência nas escolas, aqui também não é diferente. O medo e a insegurança é diário. Somos nós, nossos alunos e também nossos filhos que ficam expostos a tamanha crueldade. Até quando? Um abraço da colega Maria Bernadete - Pólo de Sapiranga.

Tutora Daisy disse...

Parabéns, Paulo, pelo post!
Sim, os professores têm que denunciar, levar ao sindicato, à imprensa, exigir que se tenha um mínimo de segurança. Não há saúde mental e física que resista a esse clima.
Também acho que se deve publicar artigos, relatos de experiência nas revistas impressas e eletrônicas. As Revistas Nova Escola e Pátio recebem artigos curtos, nessa última tem uma parte de artigos digitais; tem também a Revista do Professor, a Revista Eletrônica Profissão Mestre, que já tem algumas publicações a esse respeito. Enfim, deve-se aproveitar os vários espaços.
No Fantástico deste domingo, mostraram o exemplo de duas escolas onde a equipe diretiva conseguiu mudar esse cenário, envolvendo os alunos em atividades de artes, música, dança, informática, trazendo a família, voluntários para trabalhar na escola, inclusive, nos finais de semana na "escola aberta". Envio o link com o vídeo e a reportagem escrita: http://fantastico.globo.com/Jornalismo/FANT/0,,MUL864349-15605,00-PROJETO+COMBATE+VIOLENCIA+NAS+ESCOLAS.html
Embora traga a idéia do Amigo da Escola, que é bastante criticada por muitos, a reportagem traz projetos que estão dando certo. A gente não pode perder a esperança. Tem que denunciar, reivindicar e ver com os colegas formas de mudar alguma coisa, até onde podemos, para o bem dos alunos e dos próprios professores. Quem sabe essa não é a hora da virada? A gente tem que acreditar que é possível ou o resultado será abandonar a profissão antes que se enlouqueça...
Que Deus nos proteja e ilumine!

clara disse...

Parabéns,Paulo!
Não pude deixar de ler tua postagem,pois justamente hoje fui ameaçada por um aluno da 2ª série!Vejam a que ponto chegamos!
Em nossa escola,o clima está começando a ficar,a cada dia que passa,mais insustentável!
Estou com uma dermatite que não cura de jeito nenhum,e a médica falou que só passará quando entrar em férias!É stresssssss
Apesar de gostar muito de dar aula,hoje espero pela minha aposentadoria!Talvez este seja o caso de muitos!
A quem iremos recorrer?
Para onde caminha nossa sociedade,a humanidade?
Tua idéia é excelente e os professores precisam se unir e conseguir com que a sociedade fique do nosso lado!
Que Deus continue nos iluminando!!

cleide disse...

Oi Paulo! É isso aí!!!Infelizmente somos reféns do medo, da violência, das drogas, da malandragem,dos marginais e da incompetência das autoridades que não conseguem proteger as pessoas de bem.Passamos a maior parte de nosso tempo dentro de escolas sem um mínimo de segurança, ameaçados sem saber o que vai acontecer até o final do dia.Minha escola não estámuito longe da tua realidade, e não é somente no turno da noite. No dia também acontecem barbaridades. No ano passado levei um soco no nariz ao ajudar outros professores a separar uma briga generalizada na hora do recreio.Recolhi inclusive uma faca neste dia.Alguns pais foram chamados e a Brigada Militar também.Mas tudo ficou na mesma. Estamos desamparados. Ou fizemos por nós ou então não sei onde iremos parar. Neste momento estou afastada da e scola por stres, depressão eoutros males decorrentes da nossa profissão.Só mesmo pedindo:"Jesus, acende a luz!!!"
Um grande abraço,
Cleide do Pólo de São Leopoldo