domingo, 28 de junho de 2009

Portfólio de Aprendizagem


É chegado o momento de concatenar ideias. E isso pode representar um momento estafante para alguns, exultante para outros, mas dificilmente estéril para alguém. 
 
Tendo que escolher entre duas obras cinematográficas para bem iniciar meu trabalho de final de semestre, optei pelo filme francês sugerido. Coincidentemente, ao necessitar fazer a opção entre uma produção e outra - francesa e nacional - percebi que estava diante de um conceito trabalhado, entre outros, neste semestre: preconceito.
Primeiramente, como citei no próprio portfólio postado em sua primeira versão, evitei totalmente descartar o documentário nacional sem mesmo antes assisti-lo, evitando embotar minha capacidade de apreciação de uma obra brasileira em função do estigma que a produção cinematográfica verde-amarela ainda carrega dentre muitos de nós. Do mesmo modo, precisei despir-me de um pré-conceito em relação ao cinema francês, muito comum entre aqueles que formataram seu gosto pela grande tela a partir da ótica norte-americana: que os filmes franceses seriam todos, inevitavelmente, enfadonhos e dados a temas bem escolhidos, mas com um pífio desenvolvimento da trama. 
Ao assistir o filme Entre os Muros da Escola notei que ele encontra-se mais próximo da minha realidade, nos melhores e mais execráveis exemplos. Convivo diariamente com uma escola que exclui e inclui, numa aleatoriedade que não está presente, pois segue um padrão que não fora registrado em lugar algum senão no subconsciente coletivo. 
Homossexuais seguem insultados. Obsesos não recebem diferente tratamento, pois ouvem todo o tipo de apelido depreciativo. Os mais calados, carentes e fracos são sobrepujados pela força do aluno dominante - o malandro, aquele que fala rápido, que é articulado ou que intimida pela força física.
Aqueles que obtém excelentes notas não são enaltecidos, não recebem cumprimentos elogiosos de qualquer parte. É uma rotina de total descaso pelo outro, de desesperança e flagrante entrega ao destino, como se nada pudéssemos fazer por novas vidas; como se nosso presente e nosso futuro não fossem o resultado de escolhas. 
Neste portfólio de aprendizagem, no sexto semestre, percebe-se um professor ora angustiado com tais injustiças que seguem sem reparo, ora exultante com experiências positivas. Que venham novas aprendizagens!

domingo, 21 de junho de 2009

Inclusão x Exclusão

Realmente é um tema que dificilmente se esgota: educação inclusiva. Para um alienígena em visita breve ao Planeta, soaria belo e tranquilo, desde que ele não conhecesse o cotidiano terráqueo e, mais precisamente, escolar.

Antes de tudo, é óbvio que eu defenda a educação inclusiva não em função de um decreto, posto que uma assinatura presidencial não muda posturas de imediato, exceto aquelas extremamente moldáveis. Para que abracemos um novo paradigma, precisamos ser convencidos a respeito. E o convencimento se dá de formas distintas de pessoa para pessoa.

Cada educador, um ser humano - portanto sujeito a falhas, egoísmos, mesquinharias, etc, mas não obrigatoriamente precisando trabalhar anos a fio sob tamanha carga - terá sua visão pessoal acerca da inclusão. Isso me parece ser indiscutível.

Porém, em um flagrante de ignorância e intolerância - que caminham juntas - nesta semana que passou presenciei o seguinte diálogo entre dois educadores(?) do ensino fundamental (procurei não modificar as palavras empregadas na fala de cada um):

- Pois é, tu veja o que tá me acontecendo. Tô eu lá com aquele menino que tem problema mental... O guri não faz nada, só quer brincar. Mas eu tenho uma turma de 4º ano. Eu tenho que dar satisfações, tenho que apresentar resultados.

- Mas ele não consegue fazer nada?

- Ele só brinca, pinta, joga com os outros colegas, mas não sai disso.

- E o que a escola já pensou a respeito?

- Eu quero que o menino volte para o Cebolinha (Escola de educação especial de Gravataí), pois lá ele vai receber a atenção que precisa.

Em primeiro lugar, quando a educadora(?), e aqui faço questão de usar a interrogação mais uma vez, diz para a outra "veja o que tá me acontecendo", ela já desloca o olhar para a sua pessoa, assumindo uma reflexão egocêntrica e sem qualquer resquício de preocupação para com o outro, no caso, o menino. Ao sugerir que ele nada faz, exceto brincar, pintar e jogar com seus colegas, esqueceu-se de que inúmeras habilidades este mesmo menino mostra já ter desenvolvido, mas certamente não como resultado do planejamento desta mesma educadora. Indo um pouco além, posto que a conversa foi bem maior do que aqui transcrevo, e que em nenhum momento ela usou o termo aluno em lugar de menino, resta-me crer que a professora nega àquela criança o direito de ser aluno da instituição. Como menino posso tratar qualquer criança do sexo masculino do entorno, esteja matriculada ou não na escola. Contudo, comumente referimo-nos às crianças vinculadas à escola por seu nome ou pelo genérico "aluno".

Ao mencionar que deseja DEVOLVER o aluno ao Cebolinha - não apenas encaminhar para algum trabalho que possa ser desenvolvido em turno contrário - simplesmente procura desvencilhar-se do que ela, sem nenhum pudor em meu comentário, encara como um problema. Finalmente, ao afirmar que na escola especial a criança vai receber a atenção que precisa, a mesma mestra (putz) esquece-se que é seu papel dar aquele aluno a tal atenção necessária, que não difere da atenção dispensada aos demais. Certamente este aluno exige mais atenção, ou solicite a presença da professora mais vezes, ou faça coisas que ela não tenha AINDA o alcance, o que é tudo muito normal. O que não consigo entender é como simplesmente despachamos, tal qual um objeto no correio, um aluno para outra escola simplesmente porque embotamos nosso pensamento frente a uma realidade que sempre esteve por perto, mas que até então ia bater na porta exclusivamente da Escola Cebolinha.
 
A fim de concluir esta postagem, ao ler o artigo da revista Inclusão Nº3 - A produção textual de alunos com deficiência mental - percebo o quanto o aluno com deficiência intelectual pode acabar sendo mal compreendido (avaliado) na evolução de suas capacidades. Segundo as autoras do artigo, professoras Rita Figueiredo e Adriana Gomes, ambas da Universidade do Ceará, "a análise do desempenho desses alunos deve contemplar não somente os avanços na escrita, mas também os ganhos na aquisição de atitudes tais como: cooperação, participação e interação no grupo, interesse por atividades relacionadas a leitura e a escrita tais como: leitura e contação de estórias, registros orais e escritos, desenho, modelagem e escrita do nome próprio."

Eis que me pergunto: não seria exatamente o mesmo olhar que devemos cultivar em relação a todos os alunos que compõem nossa sala de aula? 

Obviamente que todas as habilidades e competências trazidas pelo aluno e estimuladas em sala de aula são tão importantes quanto o registro de uma ideia em si. Isto é, a impossibilidade momentânea de registrar de forma escrita um pensamento não pode ser encarado como falta de progresso. As nuances são tão sutis no desenvolimento intelectual de qualquer aluno que ouso lembrar o que todos já sabemos: que cada aluno tem seu próprio tempo. Obviamente não estou baseado em "achismos", mas na experiência que todos já inventariamos, assim como "em pesquisas recentes" que reiteradamente "vêm indi-
cando que" alunos com deficiência intelectual "vivenciam processos cognitivos semelhantes aos" das demais crianças em uma sala de aula inclusiva quando nos referimos ao aprendizado da leitura e da escrita.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Um jeito novo de aprender - Zero Hora


Publicado em 10 de junho, o Guia do Ensino a Distancia de ZH é quase um portal para o EAD em nosso Estado. Obviamente faltaram informações indispensáveis, mas prefiro olhar para a matéria de uma forma mais positiva. Motivo? A Zero Hora, ao longo das várias páginas do Caderno, não poupou elogios merecidos ao EAD, deixou claro o perfil do aluno que se encaixa nessa modalidade de ensino e tratou de listar várias instituições que o oferecem. A este respeito, não deixa de ser inusitado que o caderno abra com uma foto minha, transcreva parte de uma entrevista que dei e, no espaço para os endereços das instituições que oferecem cursos a distância, os nossos cinco pólos de Pedagogia não são citados. 

Pontos elogiáveis na matéria:

  1. Destacar o que é preciso para ter um bom desempenho no curso;
  2. Para quem o EAD é mais recomendado;
  3. Vantagens e desvantagens desta modalidade de ensino;
  4. Formas de manter a motivação;
  5. Desafios para o professor e o aluno;
  6. Cuidados ao escolher a instituição e o curso.

Acima de tudo, fica meu reconhecimento ao jornal Zero Hora por juntar-se a nós, alunos, tutores, funcionários e professores da UFRGS, nesta empreitada pela valorização do ensino a distância, através do reconhecimento justo e merecido das ações empreendidas.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Autismo - O Musical


Gostaria de compartilhar uma fonte que pode fazer muita diferença em nossa tentativa de compreender o autismo, a criança autista na escola, na sociedade e na família, sem esquecer do que deveria/poderia estar disponibilizado para o desenvolvimento de um trabalho clínico e pedagógico. Pois ao longo de cerca de 100 minutos, o documentário Autismo - O Musical nos faz refletir, entender, rir, chorar, indignar-se, ter esperança, etc.
Porém, particularmente, o maior significado deste documentário está na sutileza (não confundir com máscaras) com que a diretora se utiliza a fim de DESTROÇAR qualquer imagem estereotipada da criança autista. Ao final do documentário estivemos no cerne de várias famílias com crianças e jovens autistas, contatamos professoras, encaramos as dificuldades para se fazer qualquer coisa por eles (os autistas),... Enfim, é um documentário que nos abre portas de inúmeras casas para que convivamos com toda a sorte de dificuldades e vitórias, assim como para encararmos desavenças entre os pais da criança e os outros,... ou a conciliação de objetivos. Autismo - O Musical (2007) é praticamente obrigatório.
Não se trata de uma obra do tipo "vou pegar na locadora ou ver na tv por assinatura com toda a família". Não é entretenimento: é ESCLARECIMENTO. E é inesquecível. Ganha disparado de qualquer filme que eu já tenha visto. É a vida real, e é belo, profundo e verdadeiro. Um momento no filme que merece ser visto e revisto: as crianças, todas autistas, cantando. Em uma das músicas, a letra diz: "Sabe quem eu sou? Eu não sou o que você vê." Tão logo assisti ao documentário, busquei na internet a opinião de outros que também o indicariam para vocês: "É uma história bonita e que se deve analisar mais a essência e menos os termos técnicos. Pretendo rever em breve. É o tipo de produção que vale a pena sentar no sofá pra conferir." "O documentário enfoca mais as pessoas do que o autismo em si." "O filme emociona sem ser piegas. Consegue mostrar sua história sem querer nos manipular. É difícil não se importar com estes personagens!" "...é uma das coisas mais lindas e comoventes que eu já vi – o filme faz com que a gente se envolva tanto que, no término dele, estamos sentindo um misto de orgulho, de amor e de carinho por estas pessoas, ao mesmo tempo em que ficamos com uma lição de vida e com um exemplo de superação."

Autismo - Os Pais


Afinal, como eles se sentem em relação ao filho autista? Certa ocasião, em um painel sobre crianças com necessidades educacionais especiais, ouvi da palestrante uma frase que jamais esqueci: "Em geral, os pais desta criança sentem que fracassaram." Foi um baque! Mas não é difícil entender em que teriam fracassado, pois os pais são cobrados para que o filho nasça saudável, cresça sem percalços, seja inteligente, obtenha excelentes notas, passe no vestibular (na UFRGS, claro!), não se envolva em atividades ilícitas, forme-se com distinção, etc.
A bem da verdade, o ser humano cria tantas expectativas que torna esta lista anterior praticamente infindável. E aqui entra a sensação de fracasso: que expectativas se permite um casal diante de um diagnóstico de autismo? A imagem corrente da criança autista segue sendo aquela do menino ou da menina apáticos, em um estado catatônico, sem travar qualquer contato com as pessoas a seu redor.
É fácil entender a frustração dos pais para consigo mesmos. Contudo, de mãos dadas com tal solidariedade para com eles vem a necessidade de esclarecê-los das possibilidades, que não são poucas, dentro do campo pedagógico. Até para que estes pais vejam em seu filho muito mais que uma criança de quem quase nada se possa esperar, é indispensável que eles sejam trabalhados antes, para que escola e família trabalhem em sintonia.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Fomentar a pesquisa


Precisamos fomentar em nossos alunos a capacidade de pesquisa (não da cópia pura), de seleção de dados, de registro de ideias, desde os primeiros anos na escola. Por vezes meus alunos, os pequenos, ficavam desgostosos comigo, pois eu sempre pedia um relatório das atividades naquele dia. Depois, experimentei deixar que registrassem apenas o que desejassem registrar. Quase a maioria passou a escrever sobre a atividade mais prazerosa. Isso me frustou, de início, pois é óbvio que, como professores, ao nos esmerarmos na confecção de um mapa ou na contação de uma história, gostaríamos de ver o registro escrito de uma dessas atividades... que praticamente sempre perdia para o futebol ou para os jogos.

Aceitei que os jogos - dama, xadrez, dominó, entre outros - eram prazerosos e que o mapa representava muito menos para eles.
Não precisei adaptar minhas atividades, digamos, bem menos interessantes, para que houvesse uma mudança. Com o passar dos dias, os alunos deixaram de registrar, pouco a pouco, as mesmas coisas. Perguntei a um dele, primeiramente, porque ele trocara o futebol pelo uso do material dourado. E ele me respondeu: "Porque com isso eu aprendi melhor matemática." Ou seja, aquele material teve um significado imenso porque possibilitou que ele tivesse uma melhor compreensão dos dados apresentados. Não que o futebol perdesse o sentido, mas a matemática e o material dourado ganharam significado também para ele. As idas ao telecentro, semanais, deixaram de ser registradas apenas como "ir na informática" e passaram a ganhar registros de acordo com o que era aprendido na sala de computação.
São apenas pequenas mudanças aos olhos desavisados, mas quão significativas para aqueles que percebem o que se encontra nas entrelinhas.