domingo, 21 de junho de 2009

Inclusão x Exclusão

Realmente é um tema que dificilmente se esgota: educação inclusiva. Para um alienígena em visita breve ao Planeta, soaria belo e tranquilo, desde que ele não conhecesse o cotidiano terráqueo e, mais precisamente, escolar.

Antes de tudo, é óbvio que eu defenda a educação inclusiva não em função de um decreto, posto que uma assinatura presidencial não muda posturas de imediato, exceto aquelas extremamente moldáveis. Para que abracemos um novo paradigma, precisamos ser convencidos a respeito. E o convencimento se dá de formas distintas de pessoa para pessoa.

Cada educador, um ser humano - portanto sujeito a falhas, egoísmos, mesquinharias, etc, mas não obrigatoriamente precisando trabalhar anos a fio sob tamanha carga - terá sua visão pessoal acerca da inclusão. Isso me parece ser indiscutível.

Porém, em um flagrante de ignorância e intolerância - que caminham juntas - nesta semana que passou presenciei o seguinte diálogo entre dois educadores(?) do ensino fundamental (procurei não modificar as palavras empregadas na fala de cada um):

- Pois é, tu veja o que tá me acontecendo. Tô eu lá com aquele menino que tem problema mental... O guri não faz nada, só quer brincar. Mas eu tenho uma turma de 4º ano. Eu tenho que dar satisfações, tenho que apresentar resultados.

- Mas ele não consegue fazer nada?

- Ele só brinca, pinta, joga com os outros colegas, mas não sai disso.

- E o que a escola já pensou a respeito?

- Eu quero que o menino volte para o Cebolinha (Escola de educação especial de Gravataí), pois lá ele vai receber a atenção que precisa.

Em primeiro lugar, quando a educadora(?), e aqui faço questão de usar a interrogação mais uma vez, diz para a outra "veja o que tá me acontecendo", ela já desloca o olhar para a sua pessoa, assumindo uma reflexão egocêntrica e sem qualquer resquício de preocupação para com o outro, no caso, o menino. Ao sugerir que ele nada faz, exceto brincar, pintar e jogar com seus colegas, esqueceu-se de que inúmeras habilidades este mesmo menino mostra já ter desenvolvido, mas certamente não como resultado do planejamento desta mesma educadora. Indo um pouco além, posto que a conversa foi bem maior do que aqui transcrevo, e que em nenhum momento ela usou o termo aluno em lugar de menino, resta-me crer que a professora nega àquela criança o direito de ser aluno da instituição. Como menino posso tratar qualquer criança do sexo masculino do entorno, esteja matriculada ou não na escola. Contudo, comumente referimo-nos às crianças vinculadas à escola por seu nome ou pelo genérico "aluno".

Ao mencionar que deseja DEVOLVER o aluno ao Cebolinha - não apenas encaminhar para algum trabalho que possa ser desenvolvido em turno contrário - simplesmente procura desvencilhar-se do que ela, sem nenhum pudor em meu comentário, encara como um problema. Finalmente, ao afirmar que na escola especial a criança vai receber a atenção que precisa, a mesma mestra (putz) esquece-se que é seu papel dar aquele aluno a tal atenção necessária, que não difere da atenção dispensada aos demais. Certamente este aluno exige mais atenção, ou solicite a presença da professora mais vezes, ou faça coisas que ela não tenha AINDA o alcance, o que é tudo muito normal. O que não consigo entender é como simplesmente despachamos, tal qual um objeto no correio, um aluno para outra escola simplesmente porque embotamos nosso pensamento frente a uma realidade que sempre esteve por perto, mas que até então ia bater na porta exclusivamente da Escola Cebolinha.
 
A fim de concluir esta postagem, ao ler o artigo da revista Inclusão Nº3 - A produção textual de alunos com deficiência mental - percebo o quanto o aluno com deficiência intelectual pode acabar sendo mal compreendido (avaliado) na evolução de suas capacidades. Segundo as autoras do artigo, professoras Rita Figueiredo e Adriana Gomes, ambas da Universidade do Ceará, "a análise do desempenho desses alunos deve contemplar não somente os avanços na escrita, mas também os ganhos na aquisição de atitudes tais como: cooperação, participação e interação no grupo, interesse por atividades relacionadas a leitura e a escrita tais como: leitura e contação de estórias, registros orais e escritos, desenho, modelagem e escrita do nome próprio."

Eis que me pergunto: não seria exatamente o mesmo olhar que devemos cultivar em relação a todos os alunos que compõem nossa sala de aula? 

Obviamente que todas as habilidades e competências trazidas pelo aluno e estimuladas em sala de aula são tão importantes quanto o registro de uma ideia em si. Isto é, a impossibilidade momentânea de registrar de forma escrita um pensamento não pode ser encarado como falta de progresso. As nuances são tão sutis no desenvolimento intelectual de qualquer aluno que ouso lembrar o que todos já sabemos: que cada aluno tem seu próprio tempo. Obviamente não estou baseado em "achismos", mas na experiência que todos já inventariamos, assim como "em pesquisas recentes" que reiteradamente "vêm indi-
cando que" alunos com deficiência intelectual "vivenciam processos cognitivos semelhantes aos" das demais crianças em uma sala de aula inclusiva quando nos referimos ao aprendizado da leitura e da escrita.

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