domingo, 26 de setembro de 2010

Produção textual


Quando escrevemos, o fazemos porque desejamos comunicar ideias, compartilhar saberes, fomentar reflexão ou propor debate. Outras inúmeras razões para que se construa um texto poderiam ser citadas, mas fico com estas que balizam nossas pastagens semanais.

Nesta semana de postagem livre, venho justamente refletir acerca da qualidade de nossas produções textuais e a de nossos alunos. É desta qualidade – minha avaliação pessoal – que começamos a classificar o que escrevemos em interessante ou quase medíocre, não raro fazendo o mesmo com o texto dos alunos, sem necessariamente usando um termo tão severo quanto o “medíocre” aqui empregado para mim mesmo.

Atuo em sala de aula desde 1988, marcadamente com alunos dos anos iniciais do Ensino Fundamental. De todo modo, também trabalho com alunos de EJA desde 2005, cada público com suas especificidades no que concerne à aquisição da língua. Sempre foi o desejo de perceber nos educandos um apuro na sua expressão escrita costurou minhas intenções no planejamento e desenvolvimento de minhas aulas, buscando recursos e metodologia que concorressem positivamente para tal fim. Sendo assim, atento às necessidades dos discentes, sob a égide de uma relação professor-aluno provocadora da pesquisa, interacionista, e pensando a aquisição da linguagem enquanto forjadora dos processos mentais e de interação social, foi necessário romper com o que estava pronto e formatado em favor da diversidade incontestável de cada nova turma e suas demandas particulares. Contudo, ainda que se construíssem vínculos de respeito, confiança e admiração mútuas entre o educador e seus alunos, e apesar dos vários objetivos estabelecidos nos distintos componentes curriculares a serem atingidos com meus alunos do 5º ano e em Língua Inglesa com os alunos da EJA, sinto boa parte dos alunos inertes diante de uma folha em branco, não raro concluindo sua tarefa com dificuldades de toda sorte e com resultados longe de representarem os ideais na utilização da língua materna em sua produção textual.

Hoje, pode-se afirmar que apesar das incontáveis horas de aula envolvendo a produção de textos, seguem os alunos encontrando entraves na comunicação escrita, com a presença de ruídos que vão desde erros gramaticais ao descuido cabal quanto ao quê, como e para quem comunicar algo. Como aluno da Pedagogia a distância da UFRGS, utilizando basicamente o meio virtual e, portanto, a produção escrita para propor debates, lançar argumentos, argüir e publicar reflexões pessoais, percebi que o esmero e a clareza quanto ao que se escreve são indispensáveis para que a comunicação se efetive. Por vezes, na troca de mensagens com colegas do curso, contratempos foram experimentados em função de seu conteúdo sem coesão, clareza e/ou atrativos maiores, tanto por descuido alheio quanto em função de meus próprios equívocos, acreditando ter deixado claro algo que, para os demais, seguia uma confusão só.

Já no estágio docente, recorrente constatação surgiu na avaliação da produção dos alunos: textos mal construídos, erráticos, nos quais por vezes sequer fica claro a ideia que o aluno desejava compartilhar com os demais. A bem da verdade, o aluno parecia escrever para si mesmo, ou demonstraria uma preocupação tanto com o seu provável leitor quanto com seu tema de redação. Ao longo do estágio, porém, percebi que o aluno costuma buscar uma escrita melhor quando se materializa a pessoa do leitor de sua produção textual. Em outras palavras: se ele sabe que alguém vai ler o que ele escreveu, e que provavelmente fará considerações a respeito do texto lido, o esmero com a escrita costuma tomar o lugar do possível desleixo da escrita para si mesmo.

Surge, portanto, a necessidade de pensar estratégias para este aluno dos anos iniciais do Ensino Fundamental sentir-se motivado a escrever tanto mais quanto melhor, quer para garantir que será compreendido, quer para manter a atenção daqueles que acolhem suas ideias.

domingo, 19 de setembro de 2010

Pedagogia da autonomia

Esta reflexão refere-se a Semana 10 da interdisciplina de Escola, Cultura e Sociedade.

Título: SER PROFESSORA - SER PROFESSOR

Enfoque temático: A formação do professor e da professora

Leitura sugerida: FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários a prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2001.


Paulo Freire inicia sua obra afirmando que somos todos discentes enquanto docentes, não importando nossa prática educativa ou opção política. Para ele, "formar é muito mais do que puramente treinar o educando no desempenho de destrezas" (p.. 15). Sendo assim, valorizar os saberes do educando significaria respeitá-lo enquanto ser social e histórico, igualmente observando de forma ética a autonomia do seu ser.

Ensinar é transferir conhecimentos? Ainda que conhecimentos possam ser transmitidos, o ato de ensinar encontra-se certamente distante das aulas expositivas que persistem em nossas escolas. “Ensinar, aprender e pesquisar lidam com dois momentos(...): o em que se aprende o conhecimento já existente e o em que se trabalha a produção do conhecimento ainda não existente” (p.31). Ensinar é, de acordo com Freire, criar as condições para que o conhecimento seja construído.

Tais condições começam a tomar corpo a medida que o educador assuma uma posição ética, pautando suas atitudes pela não-discriminação, seja esta de raça, credo, classe social, gênero, etc, enquanto semeia nos corações dos educandos a esperança, fazendo-os crer que o futuro é moldável, não inexorável, determinado. Pensar um futuro possível é um trabalho intelectual e interativo, totalmente improvável em uma práxis de escuta e memorização exclusivas.

O educador que em seu planejamento e prática respeita o educando enquanto ser curioso, sua inquietude e linguagem estética e verbal, encontrará no trabalho com blogs e wikis ferramentas tecnológicas que muito estimularão a reflexão, a criatividade, o gosto estético e a produção textual. Freire lembra quão importante é que o professor seja curioso e instigador; quem poderia questionar as inúmeras possibilidades que se tem de encantar os alunos com uma ferramenta tão rica quanto o computador e a Internet? Se educar é construir, através do uso do blog ou do wiki, o educando terá em um único lugar toda as elaborações e análise, organizadas e oportunizando novas reflexões. Da forma como estão estrututrados, blogs e wikis facilitam a administração do conhecimento construído, o seu compartilhamento e o feedback sempre bem-vindo quando nos propomos a uma aprendizagem cooperativa.

Mas o que torna tais ferramentas tão atraentes do ponto de vista pedagógico?

  1. São verdadeiras ferramentas construtivistas do aprendizado. Pessoas do mundo todo contribuem, questionam e respondem, fazendo com que o aluno perceba que o aprendizado não está delimitado à porta da sala de aula.

  1. Podem tornar-se um ponto de conversão de alunos tanto da mesma turma quanto de outras, compartilhando textos, imagens, vídeos, entre outros arquivos, no qual a comunicação se dá por Chat, postagem de comentários ou troca de e-mails.

  1. Como arquivam a produção dos estudantes de forma organizada, tornam o acesso à informação fácil e compartilhável.

  1. Como ferramenta democrática, possibilitam ao mais tímido dos alunos expressar-se sem experimentar qualquer sofrimento, de modo que ele possa fazer com que suas idéias cheguem a todos. A sensação de se tornar conhecido entre os demais não pela timidez mas pelas idéias publicadas poderá concorrer positivamente para que o aluno integre-se paulatinamente aos demais.

  1. O uso de blogs e wikis para desenvolver um determinado tema pode fazer com que o aluno amplie seu expertise neste assunto particular.

Tais ferramentas, enfim, podem favorecer o desenvolvimento de habilidades de pesquisa, organização e síntese de ideias, valorizando a autonomia do educando e seus saberes. De acordo com Freire, não existe ensino sem pesquisa nem pesquisa sem ensino, posto que somos todos seres que indagam, curisosos, desejosos de aprender a razão das coisas serem como são.

domingo, 12 de setembro de 2010

Imagens



Interdisciplina: EDUCAÇÃO E TECNOLOGIAS DA COMUNICAÇÃO E INFORMAÇÃO

Título da atividade: Trabalhando com imagens

O desenho faz parte da trajetória do ser humano desde seus primeiros passos sobre a Terra, conforme atestam os primeiros registros pictóricos encontrados em cavernas. O PEAD, numa coincidência extremamente feliz, propõe logo nos primeiros momentos de nossa caminhada a utilização de um software para desenho e edição de imagens. O software escolhido foi o Microsoft Paint, um programa que acompanha os sistemas operacionais da empresa.

Ao propor que trabalhássemos com a edição de imagens, a interdisciplina faz pensar acerca de uma das mais delicadas questões no trabalho com computadores: a questão da segurança. Não sem motivos, faz-se muito alarde para a problemática dos vírus e spywares de computador quando o tema em questão é a segurança, mas é urgente ampliar a atenção ao leque de fissuras no que se refere a comportamento de risco na web. E a divulgação ou não de imagens pessoais é uma decisão que precisa ser pensada, no caso de menores, com a presença e a orientação de um adulto. A temática da segurança na rede vai muito além de instalar programas anti hackers, apesar de sua relevância inegável, mas aqui gostaria de deter-me na postura que precisamos assumir enquanto educadores no que concerne à publicação de imagens.

Nossas crianças e adolescentes, em geral, têm à disposição celulares com câmeras, as quais podem ser usadas para os mais diversos fins, tenham estes caráter de entretenimento ou pedagógico. Contudo, em ambos se deve refletir acerca da utilização das imagens captadas. De acordo com o site O Direito e as Novas Tecnologias, 69% dos estudantes na faixa dos 5 aos 18 anos têm, no mínimo, um amigo virtual. Destes, 11% já praticaram o que se convencionou chamar de sexting, que é o compartilhamento de imagens íntimas pela Internet. O termo vem da junção de duas palavras de língua inglesa: TEXTING – texto usado para envio através de MSN, sites de relacionamento, etc – com a palavra SEX, a qual dispensa maiores explicações. O estudo entrevistou mais de duas mil crianças neste ano sugerindo que pais e professores desconhecem, muitas vezes, o que os jovens buscam na rede.

Em rápidas palavras, faz-se uma imagem erótica de si mesmo ou de outro, publicando-a na Internet. Depois de publicadas, estas são usadas para humilhar, chantagear ou mesmo destruir a vida de alguém. Entre os jovens norte-americanos, um em cada cinco, na faixa dos 13 aos 18 anos, já publicou uma fotografia ou vídeo seu em situações eróticas e/ou sem roupa. Tanto lá quanto aqui é um fenômeno que cresce assustadoramente.

A nossa Constituição prevê indenização por dano à imagem no inciso V do seu artigo 5º: “é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem(...)”. No inciso X, o texto constitucional é expresso ao assegurar a inviolabilidade da intimidade e vida privada, garantindo indenização pelo dano material ou moral decorrente da violação desse direito. O nosso Código Civil veta a utilização da imagem de uma pessoa sem seu expresso consentimento, prevendo reparação quando a publicação lhe atingir a honra ou tiver fins comerciais (art. 20).

Certamente é um tema sobre o qual devemos nos debruçar com um olhar carinhoso e demorado, posto que aos educadores e pais cabe a tarefa de bem orientar crianças e jovens. À Escola compete averiguar o modo como seus computadores estão sendo utilizados, mas principalmente convidar a todos à reflexão sobre o uso da imagem, visto que qualquer dano causado dificilmente será reparado no campo emocional, ainda que a lei aponte para o pagamento de indenização. Aos pais cabe ser exemplo de conduta ética e moral no tocante à utilização de imagens, encorajando seus filhos a respeitar tanto a si mesmos quanto àqueles a seu redor.

Referências:

BRASIL. Constituição (1988). Constituição [da] Republica Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal.

BRASIL. Código Civil. Brasília: Câmara dos Deputados, Coordenação de Publicações. 2002.

ATHENIENSE, Alexandre. Os perigos de publicar fotos íntimas na Internet. Disponível em<

http://www.dnt.adv.br/noticias/os-perigos-de-publicar-fotos-intimas-na-internet/>. Acesso em: 12 de setembro de 2010.

sábado, 4 de setembro de 2010

Blogs


Interdisciplina: Seminário Integrador I

Atividade 1 - Trabalhando com blogs

Referencial teórico sugerido: Para esta atividade específica não havia indicação de textos a serem lidos.


Reflexão


Espera-se de um TCC a expressão da verdade, o desenho de uma trajetória e as evidências de que tal caminhada não fora em vão. Visto que uma jornada infalivelmente terá suas riquezas, e que todas são caras ao autor das pegadas no caminho, pinçar o que se convencionou chamar de “mais significativo” exige desapego pelo todo em favor da análise de etapas.


Vive-se um conflito intenso, buscando decidir o que, de modo mais fidedigno, atestará as vivências e o aprendizado do aluno em seu ofício acadêmico. A escolha preferencialmente favorecerá uma temática relacionada à sua atividade profissional, assim como é desejável apresentar contribuições à área acadêmica de atuação. O processo investigativo, referenciado por criteriosa bibliografia e motivado pelo aperfeiçoamento da práxis cotidiana, resultará em diretrizes a serem observadas em prol de referida lapidação profissional.


Em 26 de agosto de 2006, na interdisciplina de Seminário Integrador, nossa primeira atividade apontava para o que seria o tema central de meu TCC: a utilização de ferramentas da Internet como aprimoramento da produção textual. Dentre tais ferramentas, a criação de um weblog, mais comumente chamado de blog, apresentava-se como um desafio inicial para calouros do PEAD.


A tarefa hoje nos parece extremamente simples, dado que pedia basicamente para que, criado o blog, se incluísse uma imagem, alguns links, a publicação de uma primeira postagem e a visita a blogs de colegas, lá deixando comentários. O que aqui temos representa, na verdade, um imenso avanço se tomarmos por referência as possibilidades oferecidas pela web em 2006 e apenas uma década e meia antes, quando comunidades digitais como o Usenet e o Compuserve, as listas de discussão e os BBS eram tão somente fóruns de discussão, podendo ser considerados uma semente do que hoje são os blogs.


A respeito da referida tarefa do Seminário Integrador, o item 7 solicitava ao aluno que publicasse “uma mensagem (post) em seu blog (...) relatando quais foram as dificuldades encontradas na execução das tarefas.” A essência do trabalho com blogs está justamente na possibilidade de não somente utilizar a Internet como fonte de consulta, mas de reflexão, edição, publicação e divulgação de idéias, assim como de interação com aqueles que acessam este blog.


Pensando na sala de aula de séries iniciais e na utilização do blog, é possível perceber o quão ligado à produção textual encontra-se tal recurso. O aluno elege um tema, pesquisa, pensa e escreve acerca do mesmo, divulga seu endereço na Internet e interage com aqueles que o visitam. Se mal interpretado, perceberá que é possível retomar a mesma temática e ser, se necessário, mais preciso quanto ao que desejou comunicar. Ou seja, percebendo algum ruído na comunicação de suas idéias, ele faz uma análise do que postara, escreve um novo texto, revisa-o com seu professor e novamente procede com a postagem, averiguando pelo feedback dos seus leitores se sua mensagem, desta feita, fora bem compreendida.


Estamos diante de uma evolução dentro de nossas salas de aula; da usual restrita produção textual apenas para si mesmo e para o professor, com o uso do blog o aluno passa a experimentar uma avaliação do que escreve por parte de seus pares e de todo usuário que permitir postar em sua página. O mesmo aluno faz uma auto-avaliação de sua produção a partir da ótica alheia, retomando, caso julgue pertinente, pontos que merecem ser ampliados ou esclarecidos. O professor passa a ser visto, com muito mais probabilidade, como alguém que pode auxiliá-lo a tornar sua escrita melhor, mais limpa e interessante, possivelmente deixando de ser encarado como um avaliador da sua capacidade de redigir textos. Minha própria experiência como aluno do PEAD contempla uma experiência de troca bastante rica, pois esta primeira postagem solicitada pela interdisciplina recebeu nada menos que vinte e cinco (25) comentários.