domingo, 28 de março de 2010

Reflexão sobre a postagem da primeira semana



Na primeira postagem, meu relato para o portfólio destaca um fio condutor de meu trabalho enquanto professor: o de incentivar o hábito de leitura, promovendo de forma cotidiana situações em que se destaquem contos, poesias, crônicas e outras manifestações literárias.

Desde a primeira semana de aula, espelhada naquela primeira postagem, muitas mudanças já se processaram, principalmente no que diz respeito ao ato de ler. Uma nada discreta aversão à leitura por parte de vários alunos foi substituída por uma quase disputa pelos títulos disponibilizados. A própria mãe de um destes alunos, o qual nunca vira com um livro em mãos anteriormente, me dissera, dias atrás, que seu hábito de fazer tricô à noite ganhou um novo ingrediente: ouvir a leitura do livro que seu filho levara para casa. Visivelmente emocionada, conta que o filho, ao vê-la sentar-se para iniciar sua arte com as agulhas, pergunta se pode ler o livro para ela. Para mim, não poderia haver melhor avaliação até o momento.

Bamberg (1987, p.50) afirma que “a oportunidade de ler, ou seja, a disponibilidade de livros representa um papel decisivo no despertar interesses de leitura.”Assim como a presença de vários títulos junto ao quadro negro tem sido um elemento provocador de leitura, a atenção da mãe em relação a Pedro (nome fictício) faz com que mãe e filho confiram ao momento – que se tornara mágico para ambos – possibilidades infinitas, tais como:

· Estreitar vínculos entre mãe e filho;
· Impingir no filho que, também para a mãe, o que ele faz na Escola e o que é próprio da mesma tem muita importância;
· Permitir que os dois possam discutir tanto a obra quanto sua relação com fatos porventura conhecidos de nosso pequeno leitor;
· Retomar o espaço para o diálogo em família que segue sendo tomado pela televisão.

Para Silva (1987, p.42), “ler é participar mais crítica e ativamente da comunicação humana”. O autor afirma ainda que a leitura pode deter a “massificação galopante” exercida pela televisão, posto que nos traz diferentes pontos de vista a partir das experiências de outros, personagens e/ou autores.

Longe de ser apenas um ato mecânico, ler é perceber e perceber-se. Ler também é um exercício de desvelar-se, posto que somos passíveis de avaliação externa de acordo com nossa relação com a leitura. O professor que expõe as obras junto ao quadro de giz e permite que os alunos possam examiná-las, folheá-las e, só então, decidir qual delas lhes fará companhia em casa, tem a oportunidade de perceber que mundo fascina cada uma das crianças, que tipo de enredo as hipnotiza, que estilo de história lhe fala mais ao ouvido.

O livro, assim como acontece com a mãe o filho, também é um mediador entre o aluno e o professor. Ele estimula uma relação dialógica, a medida em que o aluno e o seu mestre discutem a obra em questão, o quanto ela foi significativa para ambos e que outras com ela se relacionam.

Assim, ciente de que os alunos tomam para si a postura de pessoas a seu redor como paradigmas, não seria má idéia iniciar todas as tardes entre os alunos com uma pequena leitura. Deste modo, o convite para que ouçam uma das histórias da série já citada na postagem aqui ampliada – Histórias Para Aquecer o Coração – ganhou uma bem-vinda companhia: uma tranqüila trilha sonora. Não se faz mais necessário o convite verbal para o silêncio necessário; é a música que dá o tom do momento. São as notas de um piano clássico que podem, de forma sutil e encantadora, conduzir aquelas 29 crianças (éramos 28 até a semana anterior) para uma atmosfera de paz, de amizade, de respeito e de esperança, temas recorrentes da série em questão.

Encerro por ora esta reflexão com as palavras de Marisa Lajolo, na qual afirma que o “leitor, na individualidade da sua vida, vai entrelaçando o significado e pessoal de suas leituras com os vários significados, que ao longo da história de um texto, este foi se acumulando. Cada leitor tem a história de suas leituras, cada texto, a história das suas. (2001, p.106)”
REFERÊNCIAS:
BAMBERG, Richard. Como Incentivar o Hábito da Leitura. São Paulo: Ática,1987.
LAJOLO, Marisa. Do Mundo da Leitura Para a Leitura do Mundo. São Paulo: Ática, 2001.
SILVA, Ezequiel Theodoro da. O Ato de Ler. 4 ed. São Paulo:Cortez, 1987.

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