Educação de Pessoas com Necessidades Educacionais Especiais
UNIDADE 5 - AUTISMO
Dentre todas as interdisciplinas do PEAD, certamente esta é uma que não esquecerei, seja pela necessidade de se conversar sobre o tema, seja pela inquietude de nossa professora – uma mestra – em favor daqueles que são vítimas de um desconhecimento e descaso absurdos por parte de significativa parte da sociedade, incluindo neste quinhão nossas “excelências” de todas as esferas do (des) governo: pessoas com necessidades educacionais especiais.
Senti-me honrado em oferecer para nossa professora uma cópia em dvd do documentário Autismo, O Musical. Trata-se de uma obra-prima, sutil, tocante, arrebatadora e... desconhecida do grande público, como quase tudo que tem qualidade.
Tudo começou quando Elaine Hall decidiu deixar seu país, a Rússia, a fim de adotar uma criança, oferecendo-lhe um lar no qual seria amada. De volta ao lar, e já mãe, Elaine depara-se com um diagnóstico de autismo em relação a seu filho, Neal. Em lugar do fácil e previsível enredo melodramático que qualquer filme adotaria, o que percebemos em Elaine é uma incansável busca pelo desenvolvimento das capacidades pessoais não apenas de Neal, mas de outras crianças autistas, posto que ela funda o projeto Miracle (Milagre), no qual é oferecido aos pequenos e jovens elementos de canto, interpretação e dança como processo de tratamento.
O maravilhoso do documentário, é que ele nos permite entrar na vida das famílias de 22 crianças e adolescentes, sem máscaras nem encenações: é a vida real, mesmo, sem as afetações e hipocrisias do estilo denominado reality show. Não se trata de ganhar prêmio algum competindo com outros, eliminando, mostrando o pior do ser humano; o que se pretende é fazer com que, ao final de um semestre, aqueles 22 anjos comuniquem-se com o público através de seus próprios e verdadeiros talentos.
Refiro-me aos autistas como anjos desde que assisti – e aqui faço referência a outra obra de arte que passou à margem da mídia brasileira – a um vídeo de um grupo islandês, de nome Sigur Rós. Os nove minutos de imagens para a música Svefn-g-Englar
Voltando ao autismo, Cleonice Bosa nos faz refletir quando diz que “o autismo é uma síndrome intrigante porque desafia nosso conhecimento sobre a natureza humana. Compreender o autismo é abrir caminhos para o entendimento do nosso próprio desenvolvimento. Estudar autismo é ter nas mãos um ‘laboratório natural’ de onde se vislumbra o impacto da privação das relações recíprocas desde cedo na vida. Conviver com o autismo é abdicar de uma só forma de ver o mundo – aquela que nos foi oportunizada desde a infância. É pensar de formas múltiplas e alternativas sem, contudo perder o compromisso com a ciência (e a consciência!) – com a ética. É percorrer caminhos nem sempre equipados com um mapa nas mãos, é falar e ouvir uma outra linguagem, é criar oportunidades de troca e espaço para os nossos saberes e ignorância. Se a definição de autismo passa pela dificuldade de se colocar no ponto de vista afetivo do outro (um comprometimento da capacidade empática, como diz Gillberg, 1990) é no, mínimo curioso, pertencer a uma sociedade em que raros são os espaços na rua para cadeiras de roda, poucas são as cadeiras escolares destinadas aos ‘canhotos’ e bibliotecas equipadas para quem não pode usar os olhos para ler. Torna-se então difícil identificar quem é ou não ‘autista’.”
Referências:
Citação: Autismo: Atuais interpretações para antigas observações - Cleonice Bosa
Imagem: Divulgação do documentário Autismo, O Musical.