domingo, 5 de dezembro de 2010

Final do curso

Faz mais de 20 anos, mais precisamente em julho de 1987, concluía meu estágio docente do Magistério, curso realizado na Escola Dom Feliciano de Gravataí. À medida que o último dia de aula se aproximava, em um tempo que o estágio de seis meses não era remunerado e ainda pagávamos a “salgada” mensalidade da Escola, eu costumava comentar com minha colega de estágio: “quando encerrarmos a última aula sentiremos uma felicidade que hoje só é possível imaginar.” Pois eis que o último dia de estágio chega, a aula termina e o final do dia nos flagra completamente calados, enquanto nos dirigíamos ao ponto de ônibus. Lembro que fui o primeiro a fazer qualquer comentário, e este foi acerca da razão de nosso silêncio. Ambos concordamos que o término do estágio parecia não trazer felicidade mas, ao contrário, deixou-nos com uma sensação de vazio difícil de definir.

Lembrei-me de tão distante momento em minha carreira no magistério porque igualmente me encontro diante de minha derradeira postagem em meu portfólio, ou seja, aproxima-se o final de mais uma etapa.

Em toda a postagem, invariavelmente, busquei ilustrar minhas palavras com uma imagem. A fotografia tem um poder magnífico de auxiliar o eventual leitor a praticamente comungar com aquele que escreve os sentimentos que o moveram no momento de trazer à vida palavras latentes, desejosas de comunicar, não raro, o indizível.

Para esta postagem final escolhi não uma única imagem, mas várias, todas a seu modo importantes para mim. Em algumas imagens estou em lugares que funcionam como ponte para meu eu mais profundo. Noutras, alguns dos animais que sigo adotando, zelando por seu bem estar, e que acabo descobrindo que me dão muito mais do que eu a eles, não importa o quanto eu me dedique. Deus há de me permitir acolher quantos necessitarem. Optei por não inserir imagens de amigos, colegas, professores, tutores ou familiares, pois há sempre o risco de magoar alguém que involuntariamente esquecemo-nos de adicionar. A todos, meu mais sincero sentimento de gratidão por acompanharem-me em minha trajetória na UFRGS.

Estes nove semestres de graduação na nossa tão querida Universidade foram marcantes. Cada interdisciplina teve seu papel fundamental em minha formação, mesmo quando, por razão que não precisa ser detalhada, não contemplara as expectativas pessoais. Ainda que não tenha sido o PEAD minha primeira incursão no universo acadêmico, nada foi tão significativo para minha carreira. O curso foi tão cuidadosamente pensado que cada novo semestre era aguardado com a mesma ansiedade que costumávamos experimentar, quando crianças, a espera dos presentes de aniversário ou Natal. Isso mesmo: cada semestre foi um presente para nós, alunos.

Não somos mais os mesmos professores que iniciaram esta caminhada em 2006 (alguns em 2007). Tornamo-nos mais criteriosos em nosso planejamento e sensíveis em nossa prática, buscando contemplar a cada educando, respeitando sua singularidade e promovendo sua pessoa a partir do ponto em que se encontra, não de onde “deveria” ter chegado. Ou seja: cada aluno tem seu momento, suas próprias habilidades e competências, as quais só serão chama de motivação e elos para a realização de seus objetivos mais íntimos se soubermos encantar suas almas com o conhecimento.

Hoje somos, mais do que nunca, respeitados em nossas escolas; tornamo-nos referência de formação acadêmica e de práxis pedagógica. E este é um reflexo do alto conceito que se tem pela UFRGS, o qual se contempla a cada vez que não nos sentimos satisfeitos, nos espaços em que se faz educação, com algo menor do que a busca pela superação e por uma educação primorosa, inclusiva, enriquecedora de espíritos e mentes, dentro dos valores éticos, morais e cristãos.

Portanto, minha última postagem no meu portfólio de aprendizagens não poderia encerrar de outro modo senão agradecendo:

À UFRGS e a todos aqueles que a tornam esta instituição de excelência, construindo com seus alunos seu mérito pela qualidade de ensino.

A meus professores do curso de Licenciatura em Pedagogia, os quais me guiaram para além das teorias, das filosofias e das técnicas com paciência, sensibilidade, inteligência e conhecimento do ser humano. A cada mestre que participou na construção de minha trajetória acadêmica, minha imorredoura gratidão!

A meus tutores, pessoas fundamentais em minha graduação, por contribuírem de forma irretocável para tornar este momento possível, meu respeito, carinho e gratidão eternos.

Finalmente, agradeço a Deus, por ter me permitido ser aquele que escolhi, confiando a mim o dom de educar e por todas as coisas maravilhosas que têm feito em minha vida.

A imagem acima foi feita logo no início do curso.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

AUTISMO

Educação de Pessoas com Necessidades Educacionais Especiais

UNIDADE 5 - AUTISMO



Dentre todas as interdisciplinas do PEAD, certamente esta é uma que não esquecerei, seja pela necessidade de se conversar sobre o tema, seja pela inquietude de nossa professora – uma mestra – em favor daqueles que são vítimas de um desconhecimento e descaso absurdos por parte de significativa parte da sociedade, incluindo neste quinhão nossas “excelências” de todas as esferas do (des) governo: pessoas com necessidades educacionais especiais.


Senti-me honrado em oferecer para nossa professora uma cópia em dvd do documentário Autismo, O Musical. Trata-se de uma obra-prima, sutil, tocante, arrebatadora e... desconhecida do grande público, como quase tudo que tem qualidade.


Tudo começou quando Elaine Hall decidiu deixar seu país, a Rússia, a fim de adotar uma criança, oferecendo-lhe um lar no qual seria amada. De volta ao lar, e já mãe, Elaine depara-se com um diagnóstico de autismo em relação a seu filho, Neal. Em lugar do fácil e previsível enredo melodramático que qualquer filme adotaria, o que percebemos em Elaine é uma incansável busca pelo desenvolvimento das capacidades pessoais não apenas de Neal, mas de outras crianças autistas, posto que ela funda o projeto Miracle (Milagre), no qual é oferecido aos pequenos e jovens elementos de canto, interpretação e dança como processo de tratamento.


O maravilhoso do documentário, é que ele nos permite entrar na vida das famílias de 22 crianças e adolescentes, sem máscaras nem encenações: é a vida real, mesmo, sem as afetações e hipocrisias do estilo denominado reality show. Não se trata de ganhar prêmio algum competindo com outros, eliminando, mostrando o pior do ser humano; o que se pretende é fazer com que, ao final de um semestre, aqueles 22 anjos comuniquem-se com o público através de seus próprios e verdadeiros talentos.


Refiro-me aos autistas como anjos desde que assisti – e aqui faço referência a outra obra de arte que passou à margem da mídia brasileira – a um vídeo de um grupo islandês, de nome Sigur Rós. Os nove minutos de imagens para a música Svefn-g-Englar são comoventes. Todos os personagens do vídeo têm Down. Todos parecem seres angelicais, cobertos com tecido branco, leve, buscando alçar voo em uma planície do país gelado da região ártica. Na primeira vez em que assisti ao vídeo, fui surpreendido com um beijo na tela. Foi quando me lembrei das palavras da professora Daniela: “Eles não são assexuados. Eles também têm desejos.” Confesso que foi desconcertante, mas enternecedor ao mesmo tempo. Aliás, isso é próprio de uma obra-prima: desequilibrar, desacomodar.


Voltando ao autismo, Cleonice Bosa nos faz refletir quando diz que “o autismo é uma síndrome intrigante porque desafia nosso conhecimento sobre a natureza humana. Compreender o autismo é abrir caminhos para o entendimento do nosso próprio desenvolvimento. Estudar autismo é ter nas mãos um ‘laboratório natural’ de onde se vislumbra o impacto da privação das relações recíprocas desde cedo na vida. Conviver com o autismo é abdicar de uma só forma de ver o mundo – aquela que nos foi oportunizada desde a infância. É pensar de formas múltiplas e alternativas sem, contudo perder o compromisso com a ciência (e a consciência!) – com a ética. É percorrer caminhos nem sempre equipados com um mapa nas mãos, é falar e ouvir uma outra linguagem, é criar oportunidades de troca e espaço para os nossos saberes e ignorância. Se a definição de autismo passa pela dificuldade de se colocar no ponto de vista afetivo do outro (um comprometimento da capacidade empática, como diz Gillberg, 1990) é no, mínimo curioso, pertencer a uma sociedade em que raros são os espaços na rua para cadeiras de roda, poucas são as cadeiras escolares destinadas aos ‘canhotos’ e bibliotecas equipadas para quem não pode usar os olhos para ler. Torna-se então difícil identificar quem é ou não ‘autista’.”



Referências:

Citação: Autismo: Atuais interpretações para antigas observações - Cleonice Bosa

Imagem: Divulgação do documentário Autismo, O Musical.

domingo, 21 de novembro de 2010

Todos iguais, nem mais, nem menos

QUESTÕES ÉTNICO-RACIAIS NA EDUCAÇÃO: SOCIOLOGIA E HISTÓRIA B

Quando percebi a interdisciplina no currículo do nosso curso, confesso que torci o nariz: seria uma disciplina que ergueria bandeira em favor do movimento negro, de Zumbi, etc e tal?


Nestes tempos de governo popular, diversas bandeiras, algumas legítimas (contra a discriminação é uma delas) outras nem tanto (MST e seus agregados), procuro cuidar muito bem acerca de qual “pendão” erguerei perante uma classe, amigos, colegas, familiares, etc.


Trabalhar com um tema por decreto (e no caso em particular, trata-se de lei) é uma motivação discutível. Não me sinto à vontade falando sobre movimento negro ou dia da consciência negra em sala de aula. Para levar um tema aos alunos e sensibilizá-los a respeito, não temos muitas alternativas: ou se acredita no tema a desenvolver ou se pede que alguém o faça por nós. Particularmente, se não estou muito certo das reais motivações por detrás de uma norma, eu opto por não defendê-la. Se “obrigado” a divulga-la, limito-me a tanto. Hipocrisia jamais combinou com minha práxis.


De todo modo, o artigo “Era uma vez uma menina muito bonita”, de Luciane Leite, começa afirmando que o trabalho “sobre a discriminação racial nas Séries Inicias é ao mesmo tempo um tema indispensável e complexo. (...) Complexo, pois envolve não somente os preconceitos dos alunos/as, mas também dos próprios professores.” Seria eu preconceituoso em relação à raça negra ou cauteloso quanto a todo este alarde que se faz, desde o politicamente correto (e chato) termo empregado para categorizar indivíduos afrodescendentes até a revisão (fora de contexto) de parte da obra de Monteiro Lobato que ousou chamar Tia Anastácia de “macaca”.


Um amigo, negro, me diz que acha um absurdo toda esta questão sobre política de cotas para negros (ou, como queiram os chatos, afrodescendentes), pois, assim como eu, não tem dúvida: tem que resolver a causa do problema, não atacar apenas os sintomas, pois assim sendo nada muda em definitivo.


Eu, sujeito branco (ou, usando de ironia, eurodescendente), que acreditava que a Constituição Brasileira não deixava dúvidas quanto a igualdade entre seus cidadãos perante a lei, agora me deparo com mais uma hipocrisia: todos são iguais, mas se for negro terás privilégios sobre os brancos no concurso vestibular da universidade X ou Y. Quando meu próprio amigo, negro, e seus familiares, não aceitam qualquer argumento – políticas reparatórias, blablabla e o escambau – em favor de cotas e todo e qualquer benefício para alguns, por que eu pensaria que estou errado?


Voltando ao artigo, neste a sua autora descreve os conflitos que observara nos vários espaços da escola. Porém, conflitos ocorrem todos os dias, frutos de preconceito de toda sorte, sendo que o racial é apenas um. A professora, autora do artigo, deveria ter atentado para a postura de asco dos alunos frente aos colegas que demonstram orientação sexual diferente, ou aqueles que não socializam com pobres (independente da cor), ou ainda o quanto sofrem humilhação os alunos obesos, ou os que se vestem mal, além de tantos outros. E não façamos aqui uma escala de sofrimento oriundo do preconceito, algo que já ouvi em certa ocasião, quando alguém afirmava que o preconceito racial doi mais do que todos. Sem comentários!


O que dizer também de uma colega de trabalho que se julgava muito moderna por falar da criação do mundo pela tradição Yorubá? Interessante? Como literatura, sim. Como imposição ou indução de uma ideologia, jamais.


O que eu acredito é em uma sociedade que se construa igualitária, para todos, de qualquer etnia, de qualquer orientação amorosa, de quaisquer medidas (gordos ou magros), de qualquer bairro, ... Que a semana da consciência negra e todos os demais eventos “afro” sirvam para se trabalhar em prol de todos, lembrando que preconceito é um mal do qual padecem todos aqueles que não se enquadram em algum modelo “desejado”, tido como “melhor”, “normal”,...


Referências:


Foto: United Colors of Benetton

Luciane Andréia Ribeiro Leite. “Era uma vez uma menina muito bonita: Uma prática pedagógica relacionada com a questão racial em uma turma de alfabetização.”

domingo, 14 de novembro de 2010

Leitura, escrita e oralidade

EIXO 7 – Linguagem e Educação

“(…) as representações de leitura, escrita e oralidade são construídas a partir de determinadas práticas culturais e estruturas sociais e de acordo com as demandas/necessidades da escola, etc.” (DALLA ZEN; TRINDADE, 2002)

Ao pensar em leitura, gosto muito da fala de Chartier, que contextualiza o ato de ler dentro de um universo histórico. Assim, podemos pensar na escrita cuneiforme – a mais antiga que conhecemos – juntamente com a escrita egípcia hieroglífica, não menos expressiva. Ao longo dos séculos, não tivemos uma forma precisa de registro da palavra falada. Os sistemas existentes eram quase todos estruturados na representação da palavra através do desenho. Foi ao final do segundo milênio a.C. que Israel, Fenícia e Aram, com sua importância fortalecida, apresentou e favoreceu uma forma de escrita que, tanto quanto se pode apurar, foi criada na Síria ou Palestina – o alfabeto semítico do norte. Este deu lugar no devido momento ao alfabeto grego, que, por sua vez, sofreu modificações para formar tanto o cirílico quanto o romano.

Sem sombra de dúvida, o registro das memórias da humanidade sofreu grandes transformações com a criação e o domínio da escrita. Há quem afirme que o domínio da escrita representa o acesso a uma elite privilegiada. Mas voltando nosso olhar novamente para a história, encontraremos no século VI a.C os monges copistas. Era um tempo em que entre os laicos poucos detinham o conhecimento da escrita. De todo modo, não podemos igualmente considerar os copistas como criativos, pois sua tarefa era simplesmente copiar textos.

Com a invenção da imprensa, os impressores passaram a rivalizar com os copistas. Para Chartier, (1999, p. 7-8):

(...) um livro manuscrito (sobretudo nos seus últimos séculos, XIV e XV) e um livro pós-Gutenberg baseiam-se nas mesmas estruturas fundamentais – as do codex. Tanto um como o outro são objetos compostos de folhas dobradas um certo número de vezes, o que determina o formato do livro e a sucessão dos cadernos. Estes cadernos são montados, costurados uns aos outros e protegidos por uma encadernação. A distribuição do texto na superfície da página, os instrumentos que lhe permitem as identificações (paginação, numerações), os índices e os sumários: tudo isto já existe desde a época do manuscrito. Isso é herdado por Gutenberg e, depois dele, pelo livro moderno.

E nas escolas de hoje; qual a importância da escrita, da produção textual? Sem dúvida alguma, os educadores devem pensar a escrita como arte, tal como obra de um artista que em uma tela em branco usa de pinceis e tintas para compor uma representação da realidade, do inconsciente, etc. Acredito que o objetivo do planejamento de atividades que envolvam a produção escrita deva pensar formas de tornar o aluno em escritor que pensa seu entorno, propondo estratégias e recursos que o auxiliem a fazer nascerem palavras latentes de forma coerente, coesa e com acuidade de informação.

Como não existe escritor que não seja leitor, pensar na evolução da escrita e nas diferentes formas de registro, nos faz ponderar acerca da leitura digital, a leitura pela tela do computador. As correspondências pessoais, que até então fizeram uso do papel como suporte, agora dividem espaço com uma nova forma: a correspondência virtual. É novamente Chartier quem nova fala acerca deste novo suporte de leitura:

A inscrição do texto na tela cria uma distribuição, uma organização, uma estruturação do texto que não é de modo algum a mesma com a qual se defrontava o leitor do livro em rolo da Antigüidade ou o leitor medieval, moderno e contemporâneo do livro manuscrito ou impresso, onde o texto é organizado a partir de sua estrutura em cadernos, folhas e páginas. O fluxo seqüencial do texto na tela, a continuidade que lhe é dada, o fato de que suas fronteiras não são mais tão radicalmente visíveis, como no livro que encerra, no interior de sua encadernação ou de sua capa, o texto que ele
carrega, a possibilidade para o leitor de embaralhar, de entrecruzar, de reunir textos que são inscritos na mesma memória eletrônica: todos esses traços indicam que a revolução do livro eletrônico é uma revolução nas estruturas do suporte material do escrito assim como nas maneiras de ler.
(CHARTIER, 1999, p. 12-13).

De todo modo, de forma inusitada o texto na tela do computador em muito lembra aquele texto antigo, escrito em rolo. Assim como no antigo suporte, também na tela do computador o texto flui na direção vertical. Trata-se basicamente de um alento àqueles que não querem crer que o advento da leitura no computador possa significar a morte do livro impresso. Se olharmos em retrospecto, sempre que um novo suporte foi adotado não decretou a morte do anterior, mas juntou-se a este de forma a enriquecer o registro das memórias da humanidade.

REFERÊNCIAS:

CHARTIER, Roger. A Aventura do livro: do leitor ao navegador. 2. reimp. Tradução Reginaldo Carmello Corrêa de Moraes. São Paulo: Imprensa Oficial / Editora da UNESP, 1999.

DALLA ZEN, Maria Isabel; TRINDADE, Iole. Leitura, escrita e oralidade como artefatos culturais. In: XAVIER, Maria Luisa Merino (org.). Disciplina na escola: enfrentamentos e reflexões. Porto Alegre: Mediação, 2002. p. 123-133.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Eixo VIII – Estágio Docente – Reflexão

 

Penso que o estágio iniciou por um viés que deveria ser a tônica do planejamento de todo professor a cada novo ano letivo: conhecer seus alunos de antemão e a partir do momento de cada um deles estabelecer os objetivos a serem alcançados.

 

As avaliações recebidas dos alunos e pais, além do feedback diário da equipe diretiva, fazem crer que as aulas foram, usando termos dos próprios alunos, “legais, interessantes” e, de acordo com o setor pedagógico da Escola, motivadoras. Estou certo de que uma receita para o sucesso de uma empreitada pedagógica não se aplique e, talvez, sequer exista. Contudo, a atenção a determinados itens concorre definitivamente para que todos os atores envolvidos no processo de ensino-aprendizagem percebam-se agentes desta caminhada. Contudo, certas observações podem ser feitas sem qualquer probabilidade de se incorrer em equívoco: pensar o planejamento a partir do que é relevante para os alunos e buscar estratégias e recursos que tornem o conteúdo a ser trabalhado tão “saboroso” quanto a mais prazerosa brincadeira. Paulo Freire apontava para a importância do trabalho a partir de temas que fossem significativos para os educandos. Assim, menor importância adquire a transmissão de conteúdos específicos quando pensamos na relevância de se trazer para a escola experiências já vividas e delas partir para a sistematização da aprendizagem.

 

Tornar o aluno sujeito ativo e engajado na construção do conhecimento é primordial para que se efetive uma prática pedagógica na qual todos os atores envolvidos no processo se beneficiam. Indispensável se faz criar com os discentes uma atmosfera em que o processo de ensino-aprendizagem se dê através da dialogicidade do ato educativo. Para Freire, o diálogo é o alicerce da própria pedagogia. “A atitude dialógica é, antes de tudo, uma atitude de amor, humildade e fé nos homens, no seu poder de fazer e de refazer, de criar e de recriar”. (FREIRE, 1987:81).

 

A fim de bem estabelecer um contrato em parceria entre docentes e discentes, podemos despir-nos do modelo cartesiano de pensar e ver o mundo ao redor. Assumamos a verdade mais profunda: penso, existo, existimos; logo, interajo. Neste sentido, olhar para cada aluno a partir da ótica de Maturana acerca do que seja amar, aceitando “... o outro como legítimo outro...” torna-se, definitivamente, o viés do próprio magistério, uma escolha que demanda ignorar o próprio ego, colocando o bem-estar e as necessidades alheias em primeiro lugar, possibilitando ao aluno ser plenamente, em detrimento de “ensiná-lo” a ser, oferecendo-lhe, por sua vez, um rico espaço para que possa desenvolver-se.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Mídias digitais

EDUAD041 - MÍDIAS E TECNOLOGIAS DIGITAIS EM ESPAÇOS ESCOLARES - A


Ensinar é orientar, estimular, relacionar, mais que informar. Mas só orienta aquele que conhece, que tem uma boa base teórica e que sabe comunicar-se. O professor vai ter que atualizar-se sem parar, vai precisar abrir-se para as informações que o aluno vai trazer, aprender com o aluno, interagir com ele.”

Esta é uma afirmação de Moran, em sintonia com nossa era – das tecnologias digitais em favor da informação e da construção do conhecimento. Trata-se de uma época que não permite retrocessos, pois se a escola não integrar-se às TICs, assumindo-as como ferramentas imprescindíveis, tão necessárias como quadro e giz para os profissionais absolutamente convencionais, a transformação se dará através da cibercultura.

Percebe-se que os alunos estão construindo suas próprias redes sociais, com pouca ou nenhuma intervenção dos adultos. Nasceram em um contexto digital, alfabetizam-se na escola pelo viés analógico. Mesmo o mais carente dos alunos conhece celular ou computador, ainda que não os tenha. Por conhecê-los, sabe o que deles pode obter e, por isso, os deseja. Obviamente que a pressão do marketing os impulsiona para estes gadgets que não necessariamente são gêneros de primeira necessidade, mas que faz com que se sintam pertencentes ou excluídos de uma determinada “turma”.

De todo modo, a escola não pode furtar-se de oferecer aos alunos uma metodologia sensata, coerente com a realidade, formando-os não apenas como leitores e escritores, mas igualmente como editores, colaboradores e divulgadores, processos palpáveis para todo aquele que trabalha com wikis e blogs, ferramentas de divulgação de ideias por excelência.

Fora dos muros das escolas, os alunos mexem com games, interagem através do MSN, atualizam-se acerca de suas bandas favoritas pelo You Tube, compartilham impressões pelo Orkut ou trocam músicas por bluetooth em seus celulares. Nesta própria sentença pode-se observar o emprego de termos que seguem estranhos para muitos professores, mas que são extremamente familiares à imensa maioria das crianças e adolescentes nos ambientes escolares. Certamente boa parte de nossos alunos por vezes se pergunta: que professor é este que não entende o que eu digo, não sabe o que significa twitar, nem tem ideia a que se referem seus alunos quando comentam que precisam parear os celulares, entre outros exemplos de todos os dias nos espaços pedagógicos.

Acertadamente Moran nos lembra que a interação com outros colegas, a pesquisa simultânea dos mesmos assuntos, e a troca de "resultados, materiais, jornais, vídeos,” decreta que as formas de socialização e aprendizagem nos espaços da escola hoje são completamente distintas. Para o aluno do século XXI, o professor que os encanta não é mais aquele que tem todas as respostas, mas que sabe como buscá-las e que os orienta a fazer o mesmo, a sanar suas próprias dúvidas sem depender exaustivamente de seus professores. A inclusão digital, portanto, deve começar pela figura do professor, o qual não poderá seguir ignorando o potencial do trabalho com as mídias digitais.


Referências:

MORAN, José Manuel, MASETTO, Marcos e BEHRENS, Marilda. Novas Tecnologias e Mediação Pedagógica.16ª ed. Campinas: Papirus,2009, p.12-17

domingo, 24 de outubro de 2010

O aluno da EJA

EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NO BRASIL
UNIDADE 2 - PARTE 3: Linguagem e pensamento


“Jovens e Adultos como sujeitos de conhecimento e aprendizagem”

Quem são os alunos da EJA? Longe de repetir estereótipos, depois de trabalhar com este aluno desde 2003, é possível afirmar que existe um padrão: os alunos que foram excluídos ou que, ao longo do tempo, não experimentaram motivação para continuar seus estudos. Enfim, são os alunos mais desfavorecidos em sua trajetória pessoal – financeira, cultural, psicológica e, via de regra, cognitivamente. São alunos adultos, por vezes empregados, por vezes em busca de colocação. São jovens, não raro com os mesmos conflitos da adolescência que os alunos de periferia e de classe baixa enfrentam nos outros turnos da escola. São idosos, que confessam ter na escola um local onde conhecem pessoas novas, interessantes, e aprendem o que não lhes parecia sequer existir. A EJA é constituída por uma gama tão plural de alunos que não podemos nos furtar de lembrar que são afro-descentes ou brancos, mas todos pobres. Podem ser egressos do sistema penitenciário, moradores de casas de passagem, envolvidos em delitos de toda sorte e em drogadição; sujeitos com transtornos psicológicos – depressão, bipolaridade, hiperatividade – ou convivendo diariamente com pessoas portadoras de tais doenças. São indivíduos com necessidades especiais, com expectativas estilhaçadas ou sonhos jamais permitidos. Enfim, tem-se uma gama tão vasta de alunos que pensá-los apenas pelo viés geracional seria um erro por demais grosseiro.

Kohl afirma que estes são os alunos “excluídos da escola”; eu acrescentaria que estes mesmos alunos são também excluídos na escola. Acredito que enquanto as demandas dos alunos e do projeto pedagógico seguirem caminhos antagônicos, a escola não estará a serviço daqueles que, afinal, são a razão de sua existência. Kohl assertivamente destaca que “se esses adultos não pensam de forma apropriada ou não são capazes de aprender adequadamente, isso se deve a sua pertinência a um grupo cultural específico.” É papel da escola e da EJA destacar este pertencimento, recrutando o conhecimento do aluno como partícipe no processo de ensino-aprendizagem. “(...) não há evidências de que algum grupo cultural tenha deficiências nos componentes básicos dos processos cognitivos. Isto é, todo ser humano é capaz de abstrair, categorizar, fazer inferências, utilizar formas de representação verbal etc.” Indispensável, portanto, ver cada aluno da EJA além dos processos escolares. Para estes indivíduos, o desempenho nas relações entre seus pares não raro determina posições de status dentro do grupo, as quais são por eles valorizadas, mas não pela escola. Para Kohl, “todo conhecimento é igualmente valioso, toda visão de mundo é legítima, todo conteúdo é importante.”

Mas e quanto ao professor: estará ele disposto a ouvir histórias de perdas, de violência de toda espécie e de incontáveis maneiras de desumanizar alguém? Em meio a tais relatos de dor e aridez ouve-se lampejos de esperança, pois passa pelo cabedal de aspirações deste aluno perceber-se parte da sociedade letrada, de forma que possa exercer sua cidadania integral e plenamente. De toda forma, isto não ocorre no primeiro dia, na primeira semana ou mês; despir-se de um sentimento de inadequação social começa pelo acolhimento cotidiano na práxis de sua escola. Isto é, encontrar um ambiente acolhedor e prazeroso representará a este aluno uma motivação ímpar para que se permaneça inabalável no propósito de dar prosseguimento aos estudos outrora interrompidos. Não de outra forma, a EJA auxiliará a reescrita das histórias de dos seus atores, posto que são estes mesmos sujeitos os criadores de uma nova trajetória pessoal individual e coletiva possível.

REFERÊNCIAS:

OLIVEIRA, Marta Kohl de. Jovens e adultos como sujeitos de conhecimento e aprendizagem. Revista Brasileira de Educação, Set./Out./Nove./Dez. 1999, n. 12, p. 59-73.

domingo, 17 de outubro de 2010

Tag clouds e a produção textual

Tag clouds são, basicamente, nuvens de palavras. Na postagem abaixo, pode-se observar um exemplo de tag cloud. Esta "nuvem de palavras" foi construída a partir da postagem desta semana, a qual recebeu o título "Coesão e Coerência". Como meu TCC trata sobre a produção textual dos alunos e sua relação com a utilização do computador e da internet, tenho feito uma releitura dos vários autores que nos foram indicados ao longo dos nove semestres de PEAD, com destaque para aqueles que tratam dos temas em foco: portadores de texto, computador e internet.

Recentemente fui desafiado a utilizar tag clouds em minhas próprias produções textuais. Motivo? Tenho pensado como esta nova ferramenta disponível na web pode auxiliar a mim e a meus alunos na escrita de textos melhores, mais coerentes e coesos. Não está claro como ela poderia ser usada como um motivador para o aprimoramento das produções individuais, pois não foi publicado trabalho algum a respeito, tornando tal empreitada tão instigante.

Uma rápida consulta à tag cloud publicada abaixo já permite ao observador atento antecipar a tônica da minha reflexão acerca de produção textual, posto que as palavras que aparecem mais vezes formam a nuvem, sendo que o tamanho de cada uma delas está ligado ao número de vezes que a mesma foi utilizada.

Isso me faz pensar acerca das produções de nossos alunos, nas quais alguns insistem em relatar um fato utilizando "e aí, e aí, e aí,..." para sinalizar uma progressão temática: ..."e aí a gente chegou na praia. E aí a gente foi comer sorvete. E aí a mãe do Pedro chamou todo mundo. E aí..." Não seria interessante um aluno pegar seu texto, transformá-lo em uma tag cloud - com a ajuda de ferramenta própria para tal - e ele mesmo perceber que "e aí" aparece em demasia em sua escrita? O que ele faria com tal reflexão e, antes disso, como fazer para que ele chegue a tais inferências, são parte de meu desafio.

Por ora, eu próprio analisarei minha postagem, já publicada, a partir desta tag cloud. Quer fazer a sua? Basta clicar aqui. E seria ótimo trocar ideias acerca do uso das tag clouds em sala de aula com todos aqueles que se lançarem a pensar a respeito.

Tag Cloud




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* Coesão e coerência *

EIXO 7

linguagem e educação

MÓDULO 7 – práticas de leitura, escrita e oralidade nos anos iniciais do ensino fundamental

Coesão e coerência em textos escritos iniciais


De acordo com Foucambert (1994, p. 76), o ato de escrever é justamente "inventar algo jamais lido, porém a partir de uma teoria (na maioria das vezes implícita) que tenta organizar todos os componentes da experiência de leitor de quem escreve."

Pergunto-me: quem lê as produções dos nossos alunos? Para quem nossos alunos escrevem? Até hoje, seus textos seguem sob o olhar de um único leitor e acredito que o texto do aluno precisa de outros leitores além do professor.

O papel do professor ao trabalhar com seus alunos a produção textual, neste momento de leitura dos textos, será o de dialogar com o seu autor, fazer perguntas, ouvir também as entrelinhas de cada resposta e, com ele, buscar o que é necessário reescrever em uma segunda versão deste mesmo texto. Finalmente, tanto o professor quanto o autor do texto, podem e DEVEM divulgar esta segunda versão: varal, blog, wiki, etc.

Ao escrever estamos a comunicar quem somos, nossas crenças, nossos pontos de vista e nossa forma de interpretar o que julgamos ver, ouvir, provar, ou seja, utilizamos todos os sentidos para contar de nossas experiências intrínsecas sobre nosso meio e como ele nos afeta.

O que é um texto coerente? De acordo com Vidal e Silveira (2005), é aquele em que suas partes, embora distintas, relacionam-se de forma harmoniosa enquanto o autor escreve. É o texto que apresenta um crescente temático, isto é, do início ao fim o leitor percebe que houve progresso na exploração de um assunto, ampliando-o ao longo dos parágrafos. Finalmente, coerente é aquele texto que se comunica com o leitor dentro do seu universo cultural e gênero discursivo.

As autoras destacam ainda o significado de coesão textual, noção que, embora se relacione à coerência, a esta não se equivale. Pode-se obter um texto coeso com o emprego de palavras que se relacionam no sentido – sinônimos – ou a partir da opção por artigos, pronomes, advérbios, adjetivos, numerais e conjunções, como em: Maria ganhou um livro. “Ele” tem capa dura.

E para que possamos perceber como uma criança de 1ª série (atual 2º ano) descreveu uma situação registrada em uma ilustração colada na folha em que faria sua produção textual, tomaremos como exemplo o seguinte texto:

Era uma vez dois irmãos. O dia estava

muito frio. Era denoite e a menina estava

vendo filme de terror o irmão aproveitou que ela

estava com medo e o irmão queria fazer ela ficar

com mais susto então ele pegou um lençol,

foi caminhando bem devagarinho e deu um

grito e a menina pensou que era um

monstro.

Trata-se de uma narração, na qual estão evidentes os estereótipos masculino e feminino: o menino que não tem medo de monstros e a menina, sempre temerosa, fácil vítima das artimanhas de seu irmão. Temos aqui, claramente, um olhar do autor sobras relações estabelecidas entre sujeitos de gêneros distintos a partir de um modelo – esquizofrênico – de sociedade: menino forte X menina frágil; menino esperto X menina tola; menino corajoso X menina desprotegida. Não importa o ângulo do qual se leia este texto, os papeis seguem inflexíveis para cada um.

Ainda que o exemplo acima não traga o nome do autor ou, no mínimo, alguma pista quanto a se tratar de um menino ou menino, podemos pensar duas coisas: em se tratando de um menino, este já está a estabelecer que a relação entre homens e mulheres passa pelo primeiro como algoz do segundo. Contudo, caso seja uma menina a criança autora do texto, temos aqui alguém que internalizou como ocorre o relacionamento entre meninos e meninas, basicamente restando-lhe soltar um grito como único esboço de reação à crueldade masculina.

Indo muito além da revisão gramatical da produção textual do aluno, o que as autoras nos provocam é uma reflexão quanto à avaliação acerca deste texto, vendo-o “como resultado de um processo de aquisição dos mecanismos da língua escrita pela cri­ança, com uma especial ênfase nas questões da grafia, e, como corolário desse entendimento, respeitar o texto da criança, não o tornando um mero objeto preferencial de correções, tornou-se uma das ‘verdades pedagógicas’ correntes” (2005, p.1). Meu TCC trata justamente da utilização da Internet em sala de aula e da produção textual. Neste sentido, dado que a Internet disponibiliza uma infinidade de portadores de textos – receitas, letras de músicas, histórias em quadrinhos, poemas, lendas, fábulas, entre outros – percebe-se que nesta equação entre portadores de texto + Internet + aluno + professor, é mister um planejamento que privilegie “uma estratégia adequada a ser utilizada pelos professores e professoras que, desta forma, estarão contribuindo para a qualificação da produção textual de escritores iniciantes” (Vidal e Silveira, 2005, p.7).

Referências:

FOUCAMBERT, Jean. Leitura em Questão, A. Artmed. 1ª edição. 1994.

VIDAL, Fernanda; SILVEIRA, Rosa Maria Hessel. Coesão e coerência em textos escritos iniciais: algumas reflexões. In: MOLL, Jaqueline(org.). Múltiplos alfabetismos: diálogos com a escola pública na formação de professores. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2005. p. 135-146. (Texto 11 – Módulo 8).

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Construção do conhecimento


O eixo 3 intencionalmente teve um viés marcadamente lúdico. Os jogos estiveram presentes na interdisciplina de Ludicidade e Educação. Redescobrimos que através do brincar nos ajustamos às regras ou as construímos em acordo com os demais. O jogo justamente se presta a perceber a impossibilidade da harmonia sem a observância a um conjunto de normas por parte de todos.

Também foi neste eixo que descobri o jogo cooperativo, pois até então minha formação foi praticamente toda sob bases de caráter competitivo e eliminatórias. A dança das cadeiras, jogo no qual caem fora as pessoas que não conseguem sentar-se no momento em que a música cessa, ilustra de forma fidedigna a indiferença com que são tratadas as pessoas que necessitam de seu tempo para aprender, para amadurecer ideias, para refletir.

Neste sentido, gostaria de fazer nesta postagem uma breve reflexão acerca da construção do conhecimento. O PEAD, ao desatar mordaças e desamarrar mãos, nos fez compreender e apreender como se da o processo de construção do conhecimento à luz de concepções construtivistas e socio-interacionistas.

Para Piaget, o conhecimento é gerado a partir da interação do sujeito com o seu meio. Contudo, este sujeito traz para esta interação estruturas pré-existentes, razão pela qual se fala que devemos valorizar aquilo que nosso aluno sabe. A luz de Piaget, o que se percebe é que o conhecimento se processa não ao longo de etapas que seriam superadas, mas em patamares que comungam de saberes em distintas nuances, o conceito mais simples auxiliando na construção de níveis mais complexos do conhecimento.

Deste modo, a aprendizagem justamente ocorre quando eu, o sujeito, interajo com o meu entorno, com outros sujeitos e com objetos que estão neste meio que compartilhamos.

Demorei um pouco para entender perfeitamente conceitos como assimilação e acomodação, por mais que lesse Piaget. Pois foi outra interdisciplina deste mesmo eixo, Artes Visuais, que me desacomodou – outro conceito piagetiano – e me convidou a pensar as manifestações da arte a partir de conceitos já construídos, ou seja, responder a partir de uma aprendizagem prévia (assimilação) e a mudar minha postura frente a um estímulo externo, à demandas do meio (acomodação).

Para Piaget, assimilação e acomodação seguem indissociáveis. E é o desejável equilíbrio entre estes dois extremos que ele denomina de adaptação. A adaptação (ao novo) me permite conhecer mais, gera aprendizagem significativa, resultado da equilibração das estruturas cognitivas do educando.

O tema do meu TCC justamente me faz refletir acerca de algo que já dominava antes do PEAD – o computador e seus inúmeros recursos – e quantas abordagens novas foram apresentadas ao longo do curso, fazendo com que eu usasse o que já havia construído internamente adaptando-me às novas exigências do meu entorno.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Pensando a importância da leitura


Interdisciplina: Infância de 0 a 10 anos
Eixo:II
Memórias e Identidades

A infância é uma construção da modernidade, sendo desenhada a partir dos últimos duzentos anos. Antes, sujeitos de pouca idade conviviam com os demais, sem os direitos que hoje lhes são conferidos. Hoje, dividimos a linha de tempo de um indivíduo em várias etapas, sendo a infância uma delas.

Trabalhamos basicamente com esta faixa etária, mas em tempos de inclusão não raro temos alunos de 16 anos ou mais entre os, literalmente, pequenos. Via de regra, trata-se de alunos que não conseguiram acompanhar os demais colegas ao longo de anos de escola, tendo fracassado sistematicamente, chegando ao 5º ano com idade para estar freqüentando o ensino médio, mas alguns com pré-requisitos para estar, no máximo, no que hoje chamamos de 3º ano (antiga 2ª série).

Toco neste assunto porque meu TCC está a enfocar a produção textual em tempos de Internet. Meu projeto de pesquisa para um futuro mestrado igualmente apontará, com mais profundidade, para questão semelhante. Em suma, o projeto apontará que a utilização de uma ferramenta como o blog pode contribuir definitivamente para uma melhor produção escrita por parte dos alunos.

Foi então que, na manhã de hoje, estava a trabalhar com uma turma de 5ª série na biblioteca da Escola...

Atuo como bibliotecário e operei várias mudanças significativas na estrutura do setor, tendo a Escola alcançado a marca histórica de quase 800 alunos cadastrados na biblioteca, sendo que são 1300 alunos matriculados na instituição. São alunos que supostamente retiram livros, ou já retiraram ao menos um, ou não estariam no cadastro. Esta turma, infelizmente, só tem 4 alunos cadastrados. Coincidentemente, é uma turma que se caracteriza pela presença de alunos que estão repetindo a mesma série pela segunda ou terceira vez e, principalmente, por uma dificuldade absurda de escrever algum parágrafo realmente relevante (nem estou a pensar em questões gramaticais).

Pois eis que estávamos fazendo um trabalho de restauração de livros e de organização do acervo. Por fim, ao identificar as coleções dispostas nas prateleiras, passamos a classificá-las com etiquetas como “contos, poesias, novelas, teatro, reportagem, ensaio, literatura infanto-juvenil, etc.” Ao mesmo tempo eu ia sugerindo livros de acordo com as preferências de cada um para histórias. Exemplo: “Professor, eu gosto de filmes de suspense e policial.” Ao que eu recomendava: “Então tu vais gostar deste livro do Marcos Rey.” E explicava a razão de minha afirmativa, dando uma espécie de resumo da história...

E assim se seguiam os minutos. Ao final de tudo isso, os mesmos quatro alunos de sempre retiraram livros. Os demais saíram caçoando destes, dizendo que ver tv é melhor e que ler é chato, coisa de (pasme) “boiola”. Aliás, a palavra definitivamente chula entrou para o vocabulário dos alunos de qualquer série e todos aqueles que não transgridem regras e demonstram aplicação aos estudos assim são chamados: boiolas.

Honestamente eu fico a refletir: é deste perfil de aluno que estou a pensar quando escrevo meu TCC ou meu projeto de pesquisa? Digo isso porque parece generalizado este descaso com tudo o que é referente à cultura. Quando se fala em ler para escrever melhor parece que estamos a falar de logaritmos para uma criança ou adolescente da quinta série: não entendem, não vêem sentido, não acreditam, não lhes diz respeito enfim, não enxergam qualquer relação. Que alunos são estes, afinal? Nenhum trabalho com blog, por melhor que se configure, vai operar milagres com este perfil de aluno. O próprio Pierre Levy, em sua obra Cibercultura, afirma que a tecnologia por si só não vai operar qualquer milagre. E eu também arrisco minha própria afirmação: o professor continua sendo apenas professor, não mágico. As melhores ferramentas de informática nada farão por alunos que só pensam em Orkut quando se fala em Internet, sem sequer desejar conhecer ferramentas novas e mesmo se mostrando mal educados quando os professores não os permitem acessar o site de relacionamentos pois, convenhamos, há hora e local para tudo, inclusive para o Orkut. Claro que vai surgir em algum lugar alguém a dizer: “Pois que este professor faça um trabalho com o Orkut para que os alunos tenham um olhar mais crítico acerca de suas postagens.” Alô, realidade chamando!!! Qualquer um que escrever com correção no Orkut vai fatalmente ganhar um apelido nada cordial e o professor será chamado de chato, ultrapassado, etc. É cultural: falar e escrever um pouco melhor faz de você um ser estranho.

Esta postagem fica assim, em aberto, pois estou questionando o que, para fins de reflexão pessoal, tenho por verdade: sem leitura, sem muita leitura, NINGUÉM vai escrever melhor. Nenhuma ferramenta substitui a leitura, a cultura do ler, antiga mas jamais ultrapassada. Sinto muito alunos, sem leitura seus textos continuarão paupérrimos.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Sem internet no dia da postagem

27 a 03/10

Venho enfrentando problemas com a Internet. Ao tentar postar no domingo, dia 3/10, descobri que estava sem sinal. Tenho o protocolo junto à empresa GVT assim como procurei justificar minha ausência imediatamente, via SMS, para a professora Luciane. Espero não ser prejudicado em minha avaliação final, posto que na planilha já consta que não foi feita a postagem, simples assim.

domingo, 26 de setembro de 2010

Produção textual


Quando escrevemos, o fazemos porque desejamos comunicar ideias, compartilhar saberes, fomentar reflexão ou propor debate. Outras inúmeras razões para que se construa um texto poderiam ser citadas, mas fico com estas que balizam nossas pastagens semanais.

Nesta semana de postagem livre, venho justamente refletir acerca da qualidade de nossas produções textuais e a de nossos alunos. É desta qualidade – minha avaliação pessoal – que começamos a classificar o que escrevemos em interessante ou quase medíocre, não raro fazendo o mesmo com o texto dos alunos, sem necessariamente usando um termo tão severo quanto o “medíocre” aqui empregado para mim mesmo.

Atuo em sala de aula desde 1988, marcadamente com alunos dos anos iniciais do Ensino Fundamental. De todo modo, também trabalho com alunos de EJA desde 2005, cada público com suas especificidades no que concerne à aquisição da língua. Sempre foi o desejo de perceber nos educandos um apuro na sua expressão escrita costurou minhas intenções no planejamento e desenvolvimento de minhas aulas, buscando recursos e metodologia que concorressem positivamente para tal fim. Sendo assim, atento às necessidades dos discentes, sob a égide de uma relação professor-aluno provocadora da pesquisa, interacionista, e pensando a aquisição da linguagem enquanto forjadora dos processos mentais e de interação social, foi necessário romper com o que estava pronto e formatado em favor da diversidade incontestável de cada nova turma e suas demandas particulares. Contudo, ainda que se construíssem vínculos de respeito, confiança e admiração mútuas entre o educador e seus alunos, e apesar dos vários objetivos estabelecidos nos distintos componentes curriculares a serem atingidos com meus alunos do 5º ano e em Língua Inglesa com os alunos da EJA, sinto boa parte dos alunos inertes diante de uma folha em branco, não raro concluindo sua tarefa com dificuldades de toda sorte e com resultados longe de representarem os ideais na utilização da língua materna em sua produção textual.

Hoje, pode-se afirmar que apesar das incontáveis horas de aula envolvendo a produção de textos, seguem os alunos encontrando entraves na comunicação escrita, com a presença de ruídos que vão desde erros gramaticais ao descuido cabal quanto ao quê, como e para quem comunicar algo. Como aluno da Pedagogia a distância da UFRGS, utilizando basicamente o meio virtual e, portanto, a produção escrita para propor debates, lançar argumentos, argüir e publicar reflexões pessoais, percebi que o esmero e a clareza quanto ao que se escreve são indispensáveis para que a comunicação se efetive. Por vezes, na troca de mensagens com colegas do curso, contratempos foram experimentados em função de seu conteúdo sem coesão, clareza e/ou atrativos maiores, tanto por descuido alheio quanto em função de meus próprios equívocos, acreditando ter deixado claro algo que, para os demais, seguia uma confusão só.

Já no estágio docente, recorrente constatação surgiu na avaliação da produção dos alunos: textos mal construídos, erráticos, nos quais por vezes sequer fica claro a ideia que o aluno desejava compartilhar com os demais. A bem da verdade, o aluno parecia escrever para si mesmo, ou demonstraria uma preocupação tanto com o seu provável leitor quanto com seu tema de redação. Ao longo do estágio, porém, percebi que o aluno costuma buscar uma escrita melhor quando se materializa a pessoa do leitor de sua produção textual. Em outras palavras: se ele sabe que alguém vai ler o que ele escreveu, e que provavelmente fará considerações a respeito do texto lido, o esmero com a escrita costuma tomar o lugar do possível desleixo da escrita para si mesmo.

Surge, portanto, a necessidade de pensar estratégias para este aluno dos anos iniciais do Ensino Fundamental sentir-se motivado a escrever tanto mais quanto melhor, quer para garantir que será compreendido, quer para manter a atenção daqueles que acolhem suas ideias.

domingo, 19 de setembro de 2010

Pedagogia da autonomia

Esta reflexão refere-se a Semana 10 da interdisciplina de Escola, Cultura e Sociedade.

Título: SER PROFESSORA - SER PROFESSOR

Enfoque temático: A formação do professor e da professora

Leitura sugerida: FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários a prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2001.


Paulo Freire inicia sua obra afirmando que somos todos discentes enquanto docentes, não importando nossa prática educativa ou opção política. Para ele, "formar é muito mais do que puramente treinar o educando no desempenho de destrezas" (p.. 15). Sendo assim, valorizar os saberes do educando significaria respeitá-lo enquanto ser social e histórico, igualmente observando de forma ética a autonomia do seu ser.

Ensinar é transferir conhecimentos? Ainda que conhecimentos possam ser transmitidos, o ato de ensinar encontra-se certamente distante das aulas expositivas que persistem em nossas escolas. “Ensinar, aprender e pesquisar lidam com dois momentos(...): o em que se aprende o conhecimento já existente e o em que se trabalha a produção do conhecimento ainda não existente” (p.31). Ensinar é, de acordo com Freire, criar as condições para que o conhecimento seja construído.

Tais condições começam a tomar corpo a medida que o educador assuma uma posição ética, pautando suas atitudes pela não-discriminação, seja esta de raça, credo, classe social, gênero, etc, enquanto semeia nos corações dos educandos a esperança, fazendo-os crer que o futuro é moldável, não inexorável, determinado. Pensar um futuro possível é um trabalho intelectual e interativo, totalmente improvável em uma práxis de escuta e memorização exclusivas.

O educador que em seu planejamento e prática respeita o educando enquanto ser curioso, sua inquietude e linguagem estética e verbal, encontrará no trabalho com blogs e wikis ferramentas tecnológicas que muito estimularão a reflexão, a criatividade, o gosto estético e a produção textual. Freire lembra quão importante é que o professor seja curioso e instigador; quem poderia questionar as inúmeras possibilidades que se tem de encantar os alunos com uma ferramenta tão rica quanto o computador e a Internet? Se educar é construir, através do uso do blog ou do wiki, o educando terá em um único lugar toda as elaborações e análise, organizadas e oportunizando novas reflexões. Da forma como estão estrututrados, blogs e wikis facilitam a administração do conhecimento construído, o seu compartilhamento e o feedback sempre bem-vindo quando nos propomos a uma aprendizagem cooperativa.

Mas o que torna tais ferramentas tão atraentes do ponto de vista pedagógico?

  1. São verdadeiras ferramentas construtivistas do aprendizado. Pessoas do mundo todo contribuem, questionam e respondem, fazendo com que o aluno perceba que o aprendizado não está delimitado à porta da sala de aula.

  1. Podem tornar-se um ponto de conversão de alunos tanto da mesma turma quanto de outras, compartilhando textos, imagens, vídeos, entre outros arquivos, no qual a comunicação se dá por Chat, postagem de comentários ou troca de e-mails.

  1. Como arquivam a produção dos estudantes de forma organizada, tornam o acesso à informação fácil e compartilhável.

  1. Como ferramenta democrática, possibilitam ao mais tímido dos alunos expressar-se sem experimentar qualquer sofrimento, de modo que ele possa fazer com que suas idéias cheguem a todos. A sensação de se tornar conhecido entre os demais não pela timidez mas pelas idéias publicadas poderá concorrer positivamente para que o aluno integre-se paulatinamente aos demais.

  1. O uso de blogs e wikis para desenvolver um determinado tema pode fazer com que o aluno amplie seu expertise neste assunto particular.

Tais ferramentas, enfim, podem favorecer o desenvolvimento de habilidades de pesquisa, organização e síntese de ideias, valorizando a autonomia do educando e seus saberes. De acordo com Freire, não existe ensino sem pesquisa nem pesquisa sem ensino, posto que somos todos seres que indagam, curisosos, desejosos de aprender a razão das coisas serem como são.

domingo, 12 de setembro de 2010

Imagens



Interdisciplina: EDUCAÇÃO E TECNOLOGIAS DA COMUNICAÇÃO E INFORMAÇÃO

Título da atividade: Trabalhando com imagens

O desenho faz parte da trajetória do ser humano desde seus primeiros passos sobre a Terra, conforme atestam os primeiros registros pictóricos encontrados em cavernas. O PEAD, numa coincidência extremamente feliz, propõe logo nos primeiros momentos de nossa caminhada a utilização de um software para desenho e edição de imagens. O software escolhido foi o Microsoft Paint, um programa que acompanha os sistemas operacionais da empresa.

Ao propor que trabalhássemos com a edição de imagens, a interdisciplina faz pensar acerca de uma das mais delicadas questões no trabalho com computadores: a questão da segurança. Não sem motivos, faz-se muito alarde para a problemática dos vírus e spywares de computador quando o tema em questão é a segurança, mas é urgente ampliar a atenção ao leque de fissuras no que se refere a comportamento de risco na web. E a divulgação ou não de imagens pessoais é uma decisão que precisa ser pensada, no caso de menores, com a presença e a orientação de um adulto. A temática da segurança na rede vai muito além de instalar programas anti hackers, apesar de sua relevância inegável, mas aqui gostaria de deter-me na postura que precisamos assumir enquanto educadores no que concerne à publicação de imagens.

Nossas crianças e adolescentes, em geral, têm à disposição celulares com câmeras, as quais podem ser usadas para os mais diversos fins, tenham estes caráter de entretenimento ou pedagógico. Contudo, em ambos se deve refletir acerca da utilização das imagens captadas. De acordo com o site O Direito e as Novas Tecnologias, 69% dos estudantes na faixa dos 5 aos 18 anos têm, no mínimo, um amigo virtual. Destes, 11% já praticaram o que se convencionou chamar de sexting, que é o compartilhamento de imagens íntimas pela Internet. O termo vem da junção de duas palavras de língua inglesa: TEXTING – texto usado para envio através de MSN, sites de relacionamento, etc – com a palavra SEX, a qual dispensa maiores explicações. O estudo entrevistou mais de duas mil crianças neste ano sugerindo que pais e professores desconhecem, muitas vezes, o que os jovens buscam na rede.

Em rápidas palavras, faz-se uma imagem erótica de si mesmo ou de outro, publicando-a na Internet. Depois de publicadas, estas são usadas para humilhar, chantagear ou mesmo destruir a vida de alguém. Entre os jovens norte-americanos, um em cada cinco, na faixa dos 13 aos 18 anos, já publicou uma fotografia ou vídeo seu em situações eróticas e/ou sem roupa. Tanto lá quanto aqui é um fenômeno que cresce assustadoramente.

A nossa Constituição prevê indenização por dano à imagem no inciso V do seu artigo 5º: “é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem(...)”. No inciso X, o texto constitucional é expresso ao assegurar a inviolabilidade da intimidade e vida privada, garantindo indenização pelo dano material ou moral decorrente da violação desse direito. O nosso Código Civil veta a utilização da imagem de uma pessoa sem seu expresso consentimento, prevendo reparação quando a publicação lhe atingir a honra ou tiver fins comerciais (art. 20).

Certamente é um tema sobre o qual devemos nos debruçar com um olhar carinhoso e demorado, posto que aos educadores e pais cabe a tarefa de bem orientar crianças e jovens. À Escola compete averiguar o modo como seus computadores estão sendo utilizados, mas principalmente convidar a todos à reflexão sobre o uso da imagem, visto que qualquer dano causado dificilmente será reparado no campo emocional, ainda que a lei aponte para o pagamento de indenização. Aos pais cabe ser exemplo de conduta ética e moral no tocante à utilização de imagens, encorajando seus filhos a respeitar tanto a si mesmos quanto àqueles a seu redor.

Referências:

BRASIL. Constituição (1988). Constituição [da] Republica Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal.

BRASIL. Código Civil. Brasília: Câmara dos Deputados, Coordenação de Publicações. 2002.

ATHENIENSE, Alexandre. Os perigos de publicar fotos íntimas na Internet. Disponível em<

http://www.dnt.adv.br/noticias/os-perigos-de-publicar-fotos-intimas-na-internet/>. Acesso em: 12 de setembro de 2010.